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Combustíveis: disparada de preços atinge quem depende do transporte por app

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Alta da gasolina e consequente demanda maior de passageiros se tornou desafio para quem faz viagens em transporte por aplicativo. Trabalhadores do setor reclamam que taxas de repasses das empresas não acompanham os reajustes.

Brunna tem carro em casa, mas recorre ao transporte por aplicativo. Aumento do combustível gerou dificuldades -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)Brunna tem carro em casa, mas recorre ao transporte por aplicativo. Aumento do combustível gerou dificuldades – (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

A alta da gasolina, que chega a R$ 7 em alguns postos do Distrito Federal, afetou a circulação de motoristas por aplicativo. Passageiros de empresas como Uber e 99 relatam dificuldades para conseguir corridas, bem como menos carros de apps nas ruas. As reclamações mais frequentes envolvem o tempo de espera e a quantidade de cancelamentos — esses dois tipos de problemas aumentaram neste ano, segundo os consumidores.

Uma prática comum entre quem entra nesse mercado é a de alugar carros para trabalhar. Presidente da Associação Brasileira de Locação de Automóveis (Abla), Paulo Miguel Júnior destaca que, de junho a setembro, houve devolução de 30 mil veículos locados para trabalhadores do setor de transporte por aplicativo no país. “O custo do aluguel somado a essa alta absurda do preço dos combustíveis prejudicou o ganho diário desses motoristas, o que fez com que muitos desistissem da profissão”, observa.

A alta do preço dos combustíveis foi um dos fatores de maior impacto para a vida de quem depende de um carro para trabalhar. Estima-se que uma em cada quatro pessoas que aluga um automóvel para esse fim abandonou a atividade no Brasil. Atualmente, há 170 mil veículos locados para essa categoria, mas o potencial, segundo a Abla, seria de 250 mil, caso o preço do litro ficasse em torno de R$ 4 ou R$ 5.

Valdenésio Ferreira de Lima, 65 anos, atua como motorista de aplicativo há quase quatro anos. Ele conta que, no início, as taxas e os repasses da empresa para os condutores compensavam as corridas. Agora, com altas constantes da gasolina e taxas menores por viagem, Valdenésio limitou as atividades. “Só faço corridas pelo Plano Piloto, e das 10h às 16h. É porque preciso. Se houvesse alternativa para ter renda, eu teria parado”, desabafa.

O motorista diz que evita negar corridas, mas reconhece que a conduta tem aumentado entre os trabalhadores das plataformas de transporte. “Eu não cancelo muito, mas vejo passageiros reclamarem que está difícil conseguir as viagens. Isso acontece porque algumas são para muito perto, e não compensa o gasto da gasolina com o valor a ser recebido. Ou o motorista cancela porque é longe e vai gastar muito combustível”, relata Valdenésio.

Prejuízos

Profissional de educação física, Brunna Modesto, 32, tem um carro em casa, mas o veículo costuma ficar com a mãe dela. Por isso, o uso de aplicativos de corrida no dia a dia se tornou uma necessidade. Contudo, com os aumentos progressivos dos preços dos combustíveis, ela enfrenta dificuldades frequentes quando precisa de transporte. “Houve uma vez em que tive de voltar do Núcleo Bandeirante para Águas Claras, onde moro, e esperei uma hora. Três motoristas cancelaram a viagem. Desisti e chamei minha mãe”, conta.

No último fim de semana, uma história inusitada marcou um dos dias mais esperados por Nathália Lira de Andrade, 34. Após ter a viagem cancelada 20 vezes por motoristas de aplicativo, ela precisou assumir a direção para conseguir chegar ao próprio casamento. Com maquiagem, vestido e sapato de noiva, ela dirigiu do Jardim Botânico até a Asa Sul, a tempo da cerimônia. “O casamento estava previsto para iniciar às 17h. Quando deu o horário, começamos a saga do motorista”, relata a advogada.

Nathália persistiu, mas não teve sucesso. Como só a noiva sabia dirigir em Brasília — as duas madrinhas com quem ela estava eram do Recife —, pegou o carro e partiu para o altar. “A juíza de paz estava reclamando por causa do atraso, e nada de um motorista nos atender. Eram 18h quando eu disse: ‘Sinto muito, mas vamos no meu carro’. E fui, toda pronta, toda montada”, brinca.

  • Atrasos: Nathália teve de pegar o carro para chegar ao próprio casamentoAtrasos: Nathália teve de pegar o carro para chegar ao próprio casamentoArquivo Pessoal

Desequilíbrio

Procurada pela reportagem, a Uber informou que a demanda por motoristas cresceu nos últimos meses e, por isso, os usuários têm esperado mais tempo por uma viagem. Com essa instabilidade temporária no setor, podem ocorrer cancelamentos com mais frequência ou recusa de viagens pelos condutores. “A empresa tem implementado iniciativas adicionais que buscam promover o reequilíbrio do mercado no curto e no longo prazo. Nos momentos de desequilíbrio localizado, o mecanismo de preço dinâmico entra em vigor automaticamente. Com o aumento dos combustíveis, a Uber tem intensificado esforços para ajudar motoristas a reduzir gastos, com parcerias que oferecem descontos”, informou a plataforma.

Em nota, a 99 comunicou que não observa redução no número de motoristas, mas aumento da demanda de passageiros. A empresa não registrou altos índices de cancelamentos porque permite que motoristas e passageiros rejeitem viagens antes de serem confirmadas. “Recentemente, como forma de manter o equilíbrio da plataforma diante dos constantes reajustes dos combustíveis, que impactam negativamente o transporte por aplicativo, a 99 reajustou os ganhos dos motoristas parceiros entre 10% e 25%”, resumiu a companhia.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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Jornalista

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