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Sem antivírus: crimes na internet crescem quatro vezes durante a pandemia

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Em 2019, o DF registrou 7.613 ocorrências de delitos praticados em ambiente digital. Em 2020 e 2021, foram 30.273 notificações.

Infiltrados em redes sociais, jogos on-line e em outras plataformas da internet, criminosos intensificaram o uso no meio virtual para aplicar golpes, praticar ameaças, injúrias, furtos, pedofilia e até extorsões. Em 2019, um ano antes da pandemia causada pelo novo coronavírus, o DF registrou 7.613 ocorrências por crimes praticados pela internet. Esse número ficou praticamente quatro vezes maior ao se comparar com os dois anos seguintes, em 2020 e 2021, período em que as pessoas ficaram mais em casa, chegando a um total de 30.273 notificações.

Dados obtidos pelo Correio por meio da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) apontam baixa de apenas 1,2% em delitos praticados pela internet entre 2020 e 2021: foram 15.233 contra 15.040 ocorrências. Apesar da redução, os crimes estelionato, extorsão, stalking (perseguição), pedofilia e violência psicológica contra a mulher aumentaram em um ano.

Os estelionatos aparecem em primeiro lugar no ranking dos crimes que apresentaram crescimento entre 2020 e 2021: das 7.484 ocorrências, o número passou para 9.621. As extorsões subiram em 26%, passando de 168 para 212. O stalking passou de 18 para 156; pedofilia, de cinco para 16 notificações; e os crimes de violência psicológica contra a mulher foram de duas para 19 ocorrências.

Uma jovem, que preferiu não se identificar, relatou ao Correio que, em 2019, sofreu estelionato por meio de uma plataforma digital conhecida no Brasil. A vítima anunciou o aparelho eletrônico, no valor de R$ 1,5 mil. Horas após a divulgação, uma pessoa interessada entrou em contato pedindo mais informações.

“Anunciei meu celular em uma plataforma on-line, e, ao publicar o produto, recebi uma mensagem de uma pessoa perguntando sobre valores, e se eu poderia enviar o mais rápido possível. Como eu precisava vender, decidi combinar. Eu pedi para a mulher encaminhar o valor referente ao eletrônico, que assim que eu recebesse a confirmação do pagamento, eu enviaria o celular”, explicou.

A golpista colocou seu plano em prática criando um endereço de e-mail falso, com objetivo de confirmar o pagamento no corpo da mensagem e entrar em contato com a anunciante. “Recebi um e-mail que era muito parecido com o da plataforma original, pois o corpo do e-mail era idêntico. Então, para mim pareceu muito verdadeiro. Mas eu não me atentei para o endereço de e-mail, que era falso. Por isso, confirmei para a mulher que recebi o pagamento e que enviaria o celular. Então, ela pediu que eu mandasse rápido para São Paulo, pois estava precisando do aparelho. O frete estava caríssimo, mas eu enviei. Quando fui reler o e-mail, no outro dia, percebi que era falso”, relatou.

A vítima procurou uma delegacia para registrar boletim de ocorrência. Como o produto estava fora do Distrito Federal, os policiais disseram que, provavelmente, não seria possível recuperar o prejuízo. “Me senti uma pessoa enganada e impotente, pois perdi o celular e fiquei sem o dinheiro. Foi uma sensação horrível”, disse.

O levantamento da PCDF indica quais são as regiões em que os criminosos preferem atuar para captar mais vítimas. Em disparada, com 1.945 ocorrências registradas no ano passado, Brasília aparece no topo. Em Ceilândia, foram computados 1.435 crimes praticados na web, além de Taguatinga (1.107), Gama (947) e Águas Claras (867).

Investigação

Na mira dos investigadores, os pedófilos têm se aproveitado das redes sociais e, principalmente, de jogos on-line para atrair crianças e adolescentes. No começo desse mês, policiais da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC) prenderam um morador do Lago Sul, de 31 anos, por armazenar pornografia infantil em computadores e celulares. Nos eletrônicos, foram encontradas imagens e vídeos de exploração sexual.

No final de janeiro, uma outra operação da Polícia Civil do Estado de Goiás (PCGO), em parceria com a PCDF, serviu de alerta aos pais. Infiltrado no jogo Free Fire, um homem, de 45 anos, foi preso acusado de pedofilia. As investigações revelaram que ele mantinha contato com mais de 65 crianças, de 9 e 10 anos, de todo o país, incluindo o DF, e obrigava as vítimas a enviarem conteúdos íntimos, sob a ameaça de divulgar as imagens e vídeos na internet.

Há também aqueles que usam as redes sociais para proferir ofensas racistas e discriminatórias. No DF, a escritora carioca Cristiane Sobral, 48, foi uma das vítimas. Ela recebeu comentários preconceituosos nas redes sociais após participar da apresentação de um programa cultural de Ceilândia no fim de janeiro. Primeira atriz negra formada na Universidade de Brasília (UnB), a docente contou que o computador que usava para trabalhar foi invadido por criminosos no dia da apresentação. Ela chegou a ser ameaçada de morte e teve o perfil da rede social hackeado. Cristiane registrou boletim de ocorrência na DRCC.

Delegado Dário Freitas, da DRCC, explica que, na medida em que mais cidadãos aderem à internet, seja por redes sociais, transações comerciais ou comunicações, eles se tornam vulneráveis com os perigos desse “novo mundo digitalizado”. “Há muito apelo para o uso das maravilhas da internet. No entanto, os riscos e as medidas de segurança são, como regra, ignorados. Conforme as estatísticas da PCDF, somente no primeiro semestre de 2020, o DF teve um aumento de 347% no registro de crimes digitais. Os tempos de isolamento vividos na pandemia da covid-19 ajudaram a alavancar esses números”, frisou Freitas.

O investigador afirma que os crimes cibernéticos de natureza financeira, como invasão de computadores e estelionatos, além de golpes gerais de extorsão, tiveram um aumento considerável, uma vez que os criminosos tiram proveito da pandemia. “Tendo em vista a existência de legislação tímida para o tema, o volume de crimes cibernéticos no Brasil vem crescendo, sobretudo em tempos de pandemia. Um dos fatores para o aumento seria o desenvolvimento de uma maior dependência dos sistemas conectados.

Em relação às investigações, Dário Freitas detalha como é feito o trabalho da polícia nesses casos. O primeiro passo, segundo ele, é a instauração do inquérito policial ou termo circunstanciado, que será feito após a denúncia do crime em alguma delegacia. Depois, começa a fase da apuração de provas. Ele ressalta que a investigação procura manter na íntegra todas as provas, pois, para este tipo penal, todo ato feito por algum dispositivo eletrônico deixa algum tipo de rastro codificado em alguma rede de dados, inclusive na deep web. “A investigação é feita por meio de uma análise técnica, que permite verificar a autoria e materialidade dos crimes”, esclarece.

FONTE:CORREIO BRAZILIENSE

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Jornalista

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