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Ameaça de AVC triplica se a mulher combina anticoncepcionais e tem comorbidades

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Associar anticoncepcionais orais eleva em 40% a ameaça de acidentes vasculares cerebrais, sem causa definida, de acordo com estudo com mulheres de 18 a 49 anos, apresentado na conferência da organização europeia (ESOC) sobre o tema

A combinação de anticoncepcionais orais pode triplicar o risco de acidente vascular cerebral (AVC) criptogênico aquele que não apresenta uma causa específica — em mulheres jovens, segundo a pesquisa Em busca de explicações para o AVC criptogênico em jovens, apresentada na Conferência da Organização Europeia de Acidentes Vasculares Cerebrais (ESOC) 2025. Participaram 268 mulheres, de 18 a 49 anos, de 14 países da Europa. Para análise, foram consideradas idade e comorbidades, como hipertensão, tabagismo, enxaqueca com aura e obesidade abdominal.

“Nossas descobertas confirmam evidências anteriores que associam contraceptivos orais ao risco de AVC”, disse Mine Sezgin, do Departamento de Neurologia da Universidade de Istambul, e principal autora do estudo. “O que é particularmente notável é que a associação permanece forte mesmo quando se consideram outros fatores de risco conhecidos, o que sugere que pode haver mecanismos adicionais envolvidos,possivelmente genéticos ou biológicos.”

 A descoberta se soma a um conjunto de evidências que relaciona a contracepção hormonal ao risco vascular em mulheres em idade reprodutiva. A maioria das pacientes avaliadas usavam medicamentos à base de etinilestradiol, com uma dose mediana de 20 microgramas. Outros tipos de estrogênio, como hemi-hidrato de estradiol e valerato de estradiol, também foram registrados.

O médico que não participou do estudo Caio Couto Gonçalves, coordenador do serviço de ginecologia e obstetrícia do Hospital Anchieta, porém, alerta sobre a atenção que deve ser dada ao escolher o contraceptivo correto. “A prescrição de anticoncepcionais pode parecer simples num primeiro momento, mas ela é muito diversa. O risco absoluto em mulheres jovens ainda assim é baixo, mas ele se torna significativo em pacientes com fatores de risco como tabagistas, portadoras de enxaqueca com aura, hipertensão ou trombofilias hereditárias.”

O AVC isquêmico criptogênico representa até 40% dos acidentes vasculares cerebrais em adultos jovens. Apesar de sua prevalência, a contribuição de fatores de risco específicos do sexo, como o uso de anticoncepcionais, permanece pouco explorada. Embora estudos anteriores tenham associado anticoncepcionais orais combinados ao risco de AVC, essa pesquisa se concentra especificamente no criptogênico em mulheres jovens.

“Calculamos a dose equivalente de estrogênio para cada paciente para garantir a consistência”, afirmou Sezgin. “Embora nossos dados forneçam insights iniciais importantes, estudos mais amplos são necessários para determinar se determinadas formulações apresentam diferentes níveis de risco. Esse conhecimento pode ajudar a orientar escolhas contraceptivas mais personalizadas para as mulheres.”

Recomendações

Na pesquisa, os cientistas advertem que é necessário mais estudos prospectivos e recomendam que os médicos sejam cautelosos na prescrição de contraceptivos orais combinados para mulheres com fatores de risco vascular conhecidos ou histórico de AVC isquêmico. 

Com longa experiência clínica, Caio Couto Gonçalves ressaltou a importância de compreender que os contraceptivos são medicações, portanto não podem ser banalizados nem escolhidos aleatoriamente. “É importante que as mulheres não utilizem por conta própria nem se automediquem, mas, sim, somente após uma avaliação médica qualificada em que os riscos são avaliados e pesados caso a caso”, disse o médico. Na próxima etapa, os pesquisadores querem explorar mecanismos biológicos e genéticos e o uso combinado de contraceptivos orais e o aumento do risco de AVC. A ideia é buscar compreender como os anticoncepcionais hormonais podem elevar os riscos.

Palavra do especialista

“Na verdade, os 40% referem-se à proporção de AVCs isquêmicos em jovens que são classificados como “criptogênicos”, ou seja, sem causa definida após extensa investigação. Isso, por si, só já mostra como é importante considerar fatores que muitas vezes são negligenciados, como o uso de contraceptivos. Não devemos endeusar nem demonizar nenhum método contraceptivo. Precisamos entendê-lo como uma medicação, que assim como qualquer outra deve ter sua clara indicação e correta prescrição baseada na individualidade de cada mulher, conhecendo seu histórico, seus fatores de risco, orientando mudanças de estilo de vida quando pertinente como cessar o tabagismo ou a prática de atividade física. Essa é a melhor forma de escapar desta situação: a avaliação detalhada e a estratificação de risco são fundamentais.”

Caio Couto Gonçalves, médico formado pela UERJ, especialista em ginecologia e obstetrícia pela Santa Casa de São Paulo, coordenador do serviço de ginecologia e obstetrícia do Hospital Anchieta

Três perguntas para…

Siane Prado, neurologista do Hospital Brasília Águas Claras, da Rede Américas, coordenadora da equipe de neurologia do Hospital Brasília Águas Claras, da Rede Américas com ênfase em emergências cerebrovascular

Na sua experiência prática, esse tipo de estudo se confirma?
Na prática clínica, observa-se com frequência que pacientes acometidas por acidente vascular cerebral (AVC), mesmo após extensa investigação etiológica, podem permanecer sem um diagnóstico causal definido. Nesses casos, classifica-se o evento como AVC isquêmico criptogênico — um subtipo em que não se identifica uma etiologia clara, mesmo após exames complementares adequados, como ecocardiograma transesofágico, doppler de vasos cervicais, monitoramento cardíaco prolongado e rastreio para trombofilias. Esse cenário é particularmente desafiador quando ocorre em mulheres jovens, e cada vez mais, estudos apontam para o papel dos anticoncepcionais orais combinados (ACOs) como fator potencialmente implicado nesse tipo de evento isquêmico. Embora os ACOs não sejam tradicionalmente reconhecidos como causa direta de AVC, sua presença pode atuar como gatilho trombótico em pacientes com terreno propício. A associação torna-se mais expressiva na presença de fatores de risco adicionais, como: enxaqueca com aura, tabagismo, trombofilias, obesidade e histórico familiar de AVC precoce.

Qual seria, então, a alternativa, na sua avaliação?
As alternativas seguras e eficazes existem e devem ser consideradas com base no perfil individual da paciente. Algumas opções incluem: Progestagênio isolado (oral, implante ou DIU com levonorgestrel) que tem menor risco trombótico, pois não contém estrogênio, ideal para mulheres com enxaqueca com aura, tabagistas, ou com histórico familiar de trombose. O DIU de cobre (não hormonal) com zero risco trombótico e boa opção para mulheres sem contraindicações uterinas e que toleram maior fluxo menstrual. E, métodos de barreira (preservativos, diafragma) sem riscos sistêmicos, mas menos eficazes que os métodos hormonais se usados isoladamente. Evitar ACO clássico (estrogênio + progestagênio) em mulheres com qualquer risco vascular é uma conduta segura e atualizada.

Qual seria, então, a alternativa, na sua avaliação?
As alternativas seguras e eficazes existem e devem ser consideradas com base no perfil individual da paciente. Algumas opções incluem: Progestagênio isolado (oral, implante ou DIU com levonorgestrel) que tem menor risco trombótico, pois não contém estrogênio, ideal para mulheres com enxaqueca com aura, tabagistas, ou com histórico familiar de trombose. O DIU de cobre (não hormonal) com zero risco trombótico e boa opção para mulheres sem contraindicações uterinas e que toleram maior fluxo menstrual. E, métodos de barreira (preservativos, diafragma) sem riscos sistêmicos, mas menos eficazes que os métodos hormonais se usados isoladamente. Evitar ACO clássico (estrogênio + progestagênio) em mulheres com qualquer risco vascular é uma conduta segura e atualizada.

Pelo estudo, há uma incidência elevada, de 40% de casos — isso é assustador. Como escapar a esse tipo de situação?
Concordo — 40% de casos de AVC criptogênico em usuárias de ACOs é alarmante. Mas vale destacar que essa porcentagem refere-se à proporção dentro de um subgrupo de pacientes com AVC criptogênico, e não da população geral de usuárias. Ou seja, o risco relativo é alto, mas o risco absoluto ainda é pequeno — embora relevante o suficiente para exigir ação preventiva. É possível evitar, tomando algumas precauções:
•Atenção à anamnese realizar uma avaliação clinica detalhada e investigar histórico de enxaqueca com aura, trombose na família, tabagismo.
•Evitar ACOs em quem tem qualquer fator de risco trombótico.
•Educar as pacientes: explicar que ACOs não são inofensivos, e que há alternativas seguras.
•Considerar exames de triagem: em pacientes com histórico familiar de trombose ou AVC precoce, investigar mutações como Fator V de Leiden, Protrombina G20210A ou deficiência de proteína S/C (em casos bem selecionados).

Nada de autoprescrição

“Na verdade, os 40% referem-se à proporção de AVCs isquêmicos em jovens que são classificados como “criptogênicos”, ou seja, sem causa definida após extensa investigação. Isso, por si, só já mostra como é importante considerar fatores que muitas vezes são negligenciados, como o uso de contraceptivos. Não devemos endeusar nem demonizar nenhum método contraceptivo. Precisamos entendê-lo como uma medicação, que assim como qualquer outra deve ter sua clara indicação e correta prescrição baseada na individualidade de cada mulher, conhecendo seu histórico, seus fatores de risco, orientando mudanças de estilo de vida quando pertinente como cessar o tabagismo ou a prática de atividade física. Essa é a melhor forma de escapar desta situação: a avaliação detalhada e a estratificação de risco são fundamentais.”

Caio Couto Gonçalves, médico formado pela UERJ, especialista em ginecologia e obstetrícia pela Santa Casa de São Paulo, coordenador do serviço de ginecologia e obstetrícia do Hospital Anchieta

Hospital Brasília Águas Claras, da Rede Américas Siane Prado, neurologista do Hospital Brasília Águas Claras, da Rede Américas, coordenadora da equipe de neurologia do Hospital Brasília Águas Claras, da Rede Américas com ênfase em emergências cerebrovascu

Siane Prado, neurologista do Hospital Brasília Águas Claras, da Rede Américas, coordenadora da equipe de neurologia do Hospital Brasília Águas Claras, da Rede Américas com ênfase em emergências cerebrovascular

Na sua experiência prática, esse tipo de estudo se confirma?
Na prática clínica, observa-se com frequência que pacientes acometidas por acidente vascular cerebral (AVC), mesmo após extensa investigação etiológica, podem permanecer sem um diagnóstico causal definido. Nesses casos, classifica-se o evento como AVC isquêmico criptogênico — um subtipo em que não se identifica uma etiologia clara, mesmo após exames complementares adequados, como ecocardiograma transesofágico, doppler de vasos cervicais, monitoramento cardíaco prolongado e rastreio para trombofilias. Esse cenário é particularmente desafiador quando ocorre em mulheres jovens, e cada vez mais, estudos apontam para o papel dos anticoncepcionais orais combinados (ACOs) como fator potencialmente implicado nesse tipo de evento isquêmico. Embora os ACOs não sejam tradicionalmente reconhecidos como causa direta de AVC, sua presença pode atuar como gatilho trombótico em pacientes com terreno propício. A associação torna-se mais expressiva na presença de fatores de risco adicionais, como: enxaqueca com aura, tabagismo, trombofilias, obesidade e histórico familiar de AVC precoce.

Qual seria, então, a alternativa, na sua avaliação?
As alternativas seguras e eficazes existem e devem ser consideradas com base no perfil individual da paciente. Algumas opções incluem: Progestagênio isolado (oral, implante ou DIU com levonorgestrel) que tem menor risco trombótico, pois não contém estrogênio, ideal para mulheres com enxaqueca com aura, tabagistas, ou com histórico familiar de trombose. O DIU de cobre (não hormonal) com zero risco trombótico e boa opção para mulheres sem contraindicações uterinas e que toleram maior fluxo menstrual. E, métodos de barreira (preservativos, diafragma) sem riscos sistêmicos, mas menos eficazes que os métodos hormonais se usados isoladamente. Evitar ACO clássico (estrogênio + progestagênio) em mulheres com qualquer risco vascular é uma conduta segura e atualizada.

Qual seria, então, a alternativa, na sua avaliação?
As alternativas seguras e eficazes existem e devem ser consideradas com base no perfil individual da paciente. Algumas opções incluem: Progestagênio isolado (oral, implante ou DIU com levonorgestrel) que tem menor risco trombótico, pois não contém estrogênio, ideal para mulheres com enxaqueca com aura, tabagistas, ou com histórico familiar de trombose. O DIU de cobre (não hormonal) com zero risco trombótico e boa opção para mulheres sem contraindicações uterinas e que toleram maior fluxo menstrual. E, métodos de barreira (preservativos, diafragma) sem riscos sistêmicos, mas menos eficazes que os métodos hormonais se usados isoladamente. Evitar ACO clássico (estrogênio + progestagênio) em mulheres com qualquer risco vascular é uma conduta segura e atualizada.

Pelo estudo, há uma incidência elevada, de 40% de casos — isso é assustador. Como escapar a esse tipo de situação?
Concordo — 40% de casos de AVC criptogênico em usuárias de ACOs é alarmante. Mas vale destacar que essa porcentagem refere-se à proporção dentro de um subgrupo de pacientes com AVC criptogênico, e não da população geral de usuárias. Ou seja, o risco relativo é alto, mas o risco absoluto ainda é pequeno — embora relevante o suficiente para exigir ação preventiva. É possível evitar, tomando algumas precauções:
•Atenção à anamnese realizar uma avaliação clinica detalhada e investigar histórico de enxaqueca com aura, trombose na família, tabagismo.
•Evitar ACOs em quem tem qualquer fator de risco trombótico.
•Educar as pacientes: explicar que ACOs não são inofensivos, e que há alternativas seguras.
•Considerar exames de triagem: em pacientes com histórico familiar de trombose ou AVC precoce, investigar mutações como Fator V de Leiden, Protrombina G20210A ou deficiência de proteína S/C (em casos bem selecionados).

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Jeová Rodrigues

Jornalista

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