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“Estamos numa guerra contra criminosos”, diz comandante geral do CBMDF

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No Podcast do Correio, o comandante geral do CBMDF, Sandro Gomes, afirmou que as chamas que destroem o Cerrado são provocadas por ação humana. De forma intencional ou não, os responsáveis têm travado um verdadeiro combate com os militares

Com uma estiagem que dura mais de 150 dias, a capital permanece acumulando, diariamente, um alto número de incêndios florestais que castigam o Cerrado. Às repórteres Letícia Guedes e Mila Ferreira, o comandante do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF), Sandro Gomes, entrevistado no Podcast do Correio, ontem, afirmou que não há possibilidade de que as chamas tenham origens naturais. Intencionais ou não, as causas são criminosas e constituem uma guerra entre os bombeiros e os autores do crime ambiental.  

O incêndio no Parque Nacional de Brasília está totalmente controlado? 

O incêndio está controlado. Mas continuamos com 200 militares, em revezamento, atuando diariamente no Parque Nacional de Brasília. Nós não podemos deixar que os focos subterrâneos saiam da mata de galeria e voltem a atingir o parque. Então, estamos junto aos brigadistas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), fazendo rondas, porque o parque é muito grande: são 42 mil hectares.

Apesar de controlado, ainda há dois focos de incêndios subterrâneos dentro das matas de galeria do parque. O que são esses focos? Como os militares os identificam e como é o trabalho para combatê-los? 

Nós estamos mapeando esses focos. Eles são como os cigarros. O cigarro é feito de várias folhas prensadas de fumo que queimam aos poucos. No caso dos focos subterrâneos, trata-se de uma mata de galeria, que fica perto de um córrego, que há dentro do parque, e essa mata é mais verde e frondosa. Ela não pega fogo tão fácil, mas o grande problema é que as folhas dessas árvores caem durante o ano todo e se acumulam,  podendo chegar até um ou dois metros de profundidade. Essas folhas vão compactando-se e quando pegam fogo, viram um incêndio subterrâneo. Para combater, nós usamos bombas para mandar água ao solo e, usando materiais de sapa, como enxadas e rastelos, os militares cavam, reviram o material e jogam água, por isso a fumaça dai do solo constantemente. Esse processo é muito similar ao que acontece na Amazônia. Lá, é muito difícil de fazer o combate por isso.

Quais são os equipamentos utilizados pelo CBMDF no combate ao fogo?

A gente usa um avião Air Tractor, modelo canadense, que tem capacidade para 3 mil litros de água. Para a vegetação do Cerrado, ele é excelente. Temos um helicóptero, que usamos para sobrevoar as áreas que estão pegando fogo e fazer o mapeamento — por enquanto esse helicóptero permanecerá no Parque Nacional. Temos ônibus para transportar a tropa, de 20 a 30 militares por vez. Temos o ATT (Auto Transporte de Tropa), que são viaturas que parecem um caminhão, têm uma caçamba atrás, com uma lona de cobertura, e carregam materiais e tropas. Há o ABTF (Auto Bomba Tanque Florestal), que são carros 4×4 que entram no mato, sobem ribanceiras e ainda carregam certa quantidade de água. Para nós, essas viaturas são as melhores, as mais efetivas, porque a gente consegue chegar muito perto do foco. Por fim, temos os carros leves, os ARF (Auto Rápido Florestal), que são os carros rápidos, que vêm preparados para incêndio florestais, com suporte para abafadores e bombas costais. E, por fim, temos o ASG (Auto Serviços Gerais), que são picapes que carregam cinco pessoas e nessas missões a gente adapta. 

A corporação do CBMDF está abastecida com todos os equipamentos necessários? Há Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para todos os militares? 

Nós não temos problemas em relação aos equipamentos. No parque e em todas as ocorrências, nenhum militar sai para atender a ocorrência sem as ferramentas necessárias. Se houver situações em que o militar não estiver com o equipamento, a gente não coloca ele para fazer o combate. Dentro do acampamento, nós temos funções administrativas. A gente monta um sistema de comando de incidentes e uma pessoa fica responsável por pagar o material (distribuir os equipamentos). Hoje, nós temos mais de 2,5 mil EPIs que ainda não foram usados. Durante os cursos de formação, a gente destina os materiais aos novos bombeiros. Às vezes o material pode parecer desgastado, mas é porque é uma roupa de tecido, que retarda o fogo, e pode se desgastar com o tempo. 

Desde que o incêndio foi iniciado no Parque Nacional, há indícios de ação criminosa. Como os bombeiros vêem isso? É possível uma detecção prévia no momento do combate? 

Quando os nossos militares chegam para combater o fogo, a gente vai direto no problema. Geralmente, as pessoas colocam fogo e saem. É uma situação muito complicada. Na quarta-feira, eu passei em uma região perto de um colégio no Noroeste e vi o fogo. A gente acionou o Air Tractor e ele fez o combate. Uma pessoa usando combustível foi responsável por atear fogo lá. O que passa na cabeça desse tipo de ser humano? Infelizmente, também há situações em que os produtores rurais querem fazer queimadas para limpar a roça. Mas este não é o momento. Olhemos o que está acontecendo no Distrito Federal. A Polícia Militar do DF (PMDF), a Polícia Civil e até mesmo a Polícia Federal estão acompanhando e aprendendo efetivamente quem tem feito esse tipo de queima. Não é momento para fazer queimadas, ninguém consegue mais controlar. Nesta época do ano, o fogo não é natural. Eu estava falando com o meu colega, o coronel Aníbal, que nós fizemos o curso de combate a incêndio florestal em 1998 e, em 30 anos de serviço, nós presenciamos apenas um incêndio natural. Não adianta colocar fogo em roça, em lixo, porque depois não é possível controlar as chamas. 

Neste momento, quantos chamados para incêndios florestais o CBMDF tem atendido diariamente? 

No DF, o que a sociedade mais solicita é a parte de emergência médica. São de 180 a 200 chamados diariamente. Hoje, os incêndios florestais alcançaram isso. Uma ambulância precisa de três profissionais em cada atendimento. No combate ao incêndio florestal são cinco. A emergência médica se desloca facilmente e tem de ser resolvida o mais rápido possível. Então, após o salvamento, a viatura vai embora, ou seja, a ambulância consegue atender várias ocorrências por dia. Mas no incêndio florestal, não. São várias horas até combater o fogo, o deslocamento é difícil, os locais são de difícil acesso. Mas nós temos um efetivo suficiente. 

Qual é o efetivo do CBMDF atualmente? 

Hoje, temos 5.927. O efetivo é bom e é suficiente. Nós vamos atender a todas ocorrências, sim. 

A gente percebe que este ano há um aumento exponencial das ocorrências de incêndios florestais, além dos chamados rotineiros como os de emergências médicas. A equipe está exausta? 

A gente faz o revezamento das equipes. Não necessariamente os 6 mil militares, entre homens e mulheres, estão em serviço no mesmo dia. A gente faz a divisão, há os momentos de descanso. São bombeiros e militares que têm preparo físico e psicológico para lidar com tudo isso. Por isso nossa previdência é diferenciada, porque não dá para aguentar um “pancadão” desse por muitos anos. Mas a nossa tropa está motivada. No Parque Nacional, há médicos, assistência psicológica e um pastor também. Cansa? Sim! Mas é necessário e estamos com uma boa estrutura.    

Neste momento, 2024 alcança o número de quase 13 mil ocorrências de incêndios florestais. Se comparado ao ano passado, é um volume maior. O que ocorre neste ano? 

O ano de 2023 foi atípico, o período de estiagem foi muito menor. Além disso, ano passado não queimou muito e choveu mais, por isso a vegetação está mais densa, o que chamamos de carga de incêndio. Então, pega fogo mais rápido. Este ano também temos mais ventos, que mudam de direção o tempo inteiro e espalham as chamas. 

De que forma o CBMDF lida com esses imprevistos da natureza que desafiam o trabalho dos militares? 

Todo dia, pela manhã, a gente faz um briefing. Com o auxilio de aplicativos, a gente verifica a direção e a velocidade dos ventos. Nós colocamos as equipes posicionadas de forma que não venham a sofrer imprevistos. Porém, há regiões em que o vento pode mudar, mas é por isso que a gente sempre coloca à frente da guarnição militares combatentes florestais, que são pessoas que fizeram um curso muito técnico e específico para isso. 

Recentemente, o CBMDF enviou bombeiros para a Bolívia. Como funcionou essa missão? 

Lá, há um cinturão na Amazônia que está totalmente vermelho. São 24 militares que estão perto da fronteira para não deixar que o fogo entre na nossa região. Eles já estão retornando e  acumularam muitas experiências. 

Em qual fase da Operação Verde Vivo (OPVV) estamos neste momento?

A operação tem seis fases, começa mais ou menos em abril e a gente inicia a programação para se adequar de acordo com a demanda necessária. Agora, estamos na 5ª fase. A última fase é a de desmobilização, quando reduzimos o número de militares, que, se Deus quiser, deve ser iniciada mês que vem. Na 5ª fase, agora, é o ápice, nós nos sobrecarregamos, damos o gás para não deixar que os incêndios progridam, mas na fase seguinte diminui. Hoje, estamos no pico. 

A Floresta Nacional e o Parque Nacional são áreas federais. Há debates acerca de quem deve atuar nesses locais. Esse é realmente um papel do CBMDF? 

Na minha visão, não devemos entrar no mérito de quem deve ou não deve. As matas não devem queimar e nós vamos fazer de tudo para que não queimem. 

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Jornalista

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