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Um feminicídio a cada 16 dias no DF, maioria dos casos ocorre em casa

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Em 76,1% dos casos, as agressões ocorrem dentro de casa. Desde o começo do ano, foram cinco casos de morte de mulheres em razão de gênero. Cultura machista e sentimento de posse movem engrenagem da violência

Joana Santana, 41 anos, é a mais recente vítima do machismo – (crédito: Reprodução/Redes sociais)

A violência de gênero na capital do país é um medo diário vivenciado pela população feminina. Em 2021, a cada 14 dias, uma mulher foi vítima de femincídio no Distrito Federal e, a cada 24h, outras 45 foram vítimas de violência doméstica, conforme dados da Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF). Este ano, os números seguem preocupantes, o Correio apurou que uma mulher é morta a cada 16 dias. Um desafio para o poder público, que precisa garantir segurança a suas cidadãs.

No último fim semana, mais duas mulheres passaram a integrar as estatísticas da misoginia assassina: uma moradora de Planaltina, em Arapoanga, foi esganada e morta pelo marido, enquanto outra foi esfaqueada pelo ex-companheiro, em Sobradinho, e luta pela vida no Hospital Regional de Sobradinho (HRS).

Parte da dificuldade em vencer a violência de gênero se deve ao aspecto cultural. A avaliação é da professora do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB), Edlene Oliveira Silva. “As ações do estado se mostram lentas porque a violência de gênero não é uma questão individual. É preciso mudar a mentalidade machista e sexista e educar homens e mulheres para o respeito e para a igualdade de gênero. Os homens são criados para mandar, ser agressivo e se impor pela força. Enquanto as mulheres aprendem a serem submissas, cuidarem da casa e dos afazeres domésticos e tentarem manter a todo custo o casamento, inclusive suportando casos de violência e acreditando que o amor pode transformar feras em príncipes”, expõe a especialista.

Ela destaca que na luta pelo rompimento dos ciclos de violência, um dos maiores aliados é a educação. “Precisamos discutir o problema em todas as esferas sociais. É preciso mostrar que a violência não é natural, por isso a criação de políticas públicas são tão importantes. Mas é um caminho lento, o que torna o debate social amplo e contínuo ainda mais urgente e necessário”, defende.

Infográfico violência contra mulheres(foto: Correio DA.Press)

Inimigo conhecido

Desde março de 2015, quando entrou em vigor a Lei do Feminicídio, até o mês de janeiro de 2022, 76,1% dos casos ocorreram dentro das residências (leia Misoginia em números). A informação é da Câmara Técnica de Monitoramento de Homicídios e Feminicídios (CTMHF) da SSP-DF.

De acordo com a pasta, em 85,9% dos casos, os autores dos crimes eram maridos ou companheiros das vítimas. “Os dados revelam, ainda, que em 84,3% dos casos a motivação foi o sentimento de posse ou ciúme. Em 99,3% dos casos, os crimes foram elucidados com identificação do autor. De março de 2015 a janeiro de 2022, 70,6% das vítimas não haviam registrado ocorrências anteriores de violência doméstica”, informa a SSP-DF.

O caso de Sobradinho 2 combina os elementos desse levantamento. Depois de três meses de separação, um homem de 45 anos esfaqueou a ex-companheira, 41 anos, no abdômen, na Vila Buritis. Segundo o delegado-chefe da 13ª DP (Sobradinho), Hudson Maldonado, o casal teve um relacionamento que durou 13 anos. “Ele dizia para a vítima que se ela arrumasse outro companheiro, ele a mataria”, conta Maldonado. À polícia, a irmã da vítima relatou que o homem era ciumento e tinha episódios recorrentes de violência.

Durante um encontro familiar na casa da ex-companheira, o agressor inconformado com a separação compareceu ao local e ficou sentado em frente à casa, no meio fio. A vítima foi ver o que se passava e o homem a ameaçou. “Em dado momento, (ele) tirou a faca e a agrediu na altura do abdômen”, conta. A mulher foi atendida no hospital em estado grave e passou por cirurgia. Apesar de episódios anteriores de agressão, a vítima ainda não havia feito registros de ocorrência policial contra o ex-companheiro.

No caso de Arapoanga, o medo e o silêncio marcam a Quadra 9. Os moradores estão assustados com o crime da manhã do último domingo em que Silvestre Pereira, 44 anos, matou esganada a companheira Joana Santana Pereira dos Santos, 41 anos, e tentou se matar logo depois. A mulher deixou quatro filhos, entre seis e 19 anos. Segundo informações, o crime aconteceu pela manhã, no quarto do casal, enquanto as crianças menores dormiam nos outros cômodos. Delegado-chefe da 31ª Delegacia de Polícia (Planaltina), Fabrício Augusto Paiva explica que antes de tentar suicídio, Silvestre ligou para um dos irmãos e confessou o crime.

“Ele ligou para o irmão e disse que estava muito endividado, devendo para agiotas de Planaltina e que eles o estavam ameaçando de morte. Que por causa disso tinha tido uma discussão com a esposa (Joana) e que tinha feito besteira. Ele contou ao irmão que acabou matando ela e que ia se matar. O irmão acionou a polícia e ligou para outro familiar. Quando a polícia chegou, com os irmãos de Silvestre, encontrou as crianças dormindo sem saberem de nada. No quarto do casal a mulher estava morta, com marcas de esganadura e Silvestre tinha marcas de uma facada no estômago e outra no pescoço, mas ainda respirava”, detalha

Ele está estável e internado no Hospital Regional de Planaltina e assim que tiver em condições irá para a carceragem da PCDF. Silvestre pode pegar de 12 a 30 anos de prisão. Não há registros de denúncias contra ele por parte de Joana e os vizinhos afirmam que era um casal tranquilo.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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Jornalista

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