Ir para o conteúdo
Casa Política Senado aprova mudanças para licença ambiental
Política

Senado aprova mudanças para licença ambiental

Compartilhar
Compartilhar

Projeto de lei, criticado pelo Ministério do Meio Ambiente, define novas regras para o procedimento. Texto voltará à Câmara

O plenário do Senado aprovou, nesta quarta-feira, o projeto de lei que afrouxa a concessão de licenças ambientais no Brasil. O texto, apelidado por ambientalistas de “PL da Devastação”, recebeu 54 votos a favor e 13 contra. A proposta havia sido aprovada às pressas em comissões da Casa na terça-feira. Por ter sido alterada no Senado, terá de voltar à Câmara, para nova análise.

Entre as mudanças feitas no plenário, está uma emenda do senador Alan Rick (União Brasil-AC) que atendeu ao lobby do setor de saneamento e foi aceita pela relatora Tereza Cristina (PP-MS). A emenda dispensa do licenciamento os sistemas e estações de tratamento de água e esgoto até o atingimento das metas de universalização. Na prática, as empresas não terão de comprovar que seguem rígidos padrões ambientais ao manejar água para consumo humano e ao depositar de volta na natureza os dejetos tratados. Segundo a Lei do Saneamento, de 2020, até 2033, 99% da população deve ter acesso à água tratada e 90% à coleta e ao tratamento de esgoto.

O senador argumentou que há urgência em ampliar serviços essenciais de saneamento básico. “A flexibilização durante a etapa de universalização permite maior celeridade na execução de projetos prioritários, diminuindo o impacto da inexistência de saneamento ou dos serviços prestados de forma inadequada”, escreveu o senador, na justificativa da emenda.

As pressões para alterar o texto atrasaram o início da votação, que estava marcada para as 14h, mas foi suspensa por falta de quórum. Quando assumiu a presidência da sessão, no fim da tarde, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), demonstrou pressa para iniciar a votação o texto, que foi ao plenário em regime de urgência. Enquanto apelava pela presença dos colegas no plenário, a senadora Tereza Cristina fazia os últimos ajustes em seu relatório.

Só depois das 18h, a senadora foi ao púlpito para ler o relatório. Alcolumbre, então, fez uma defesa enfática do parecer da senadora e concedeu à parlamentar todo o tempo que julgasse necessário para — segundo ele — derrubar “mentiras” a respeito do texto. “Vossa Excelência fará vários esclarecimentos, inclusive desmistificando mentiras que foram levantadas em relação a esse texto e a esse projeto. E eu quero que Vossa Excelência esteja com muita tranquilidade para fazer a defesa da verdade de uma matéria relevantíssima para o Brasil”, disse Alcolumbre.

Tereza Cristina, por sua vez, sustentou haver uma série de “narrativas ideológicas de pura má-fé” sobre o projeto e que o texto não agradaria nem aos ambientalistas nem ao empresariado ou ao agronegócio. “A proposta não enfraquece o licenciamento ambiental. Muito pelo contrário, ela reafirma o compromisso com o rigor técnico. Exige estudos de impacto ambiental, audiências públicas e avaliações trifásicas para grandes obras. E até dobra penas para quem desrespeitar a legislação. Crime ambiental continua sendo crime”, pontuou a parlamentar.

“Não é mais possível conviver com esse ambiente caótico. Nós precisamos parar de travar o desenvolvimento do Brasil, e essa é, sem dúvida, uma responsabilidade do Congresso Nacional. Nenhum país do mundo condena seu povo a ficar sem luz, sem água, esgoto, sem estrada, enfim, sem prosperidade em razão dos desafios de conciliar a atividade econômica com a preservação ambiental”, completou a relatora.

Ministério critica

Em nota, o Ministério do Meio Ambiente afirmou que o projeto “representa desestruturação significativa do regramento existente sobre o tema e representa risco à segurança ambiental e social no país”.

“Além disso, afronta diretamente a Constituição Federal, que no artigo 225 garante aos cidadãos brasileiros o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, com exigência de estudo prévio de impacto ambiental para instalação de qualquer obra ou atividade que possa causar prejuízos ambientais”, frisou a pasta.

O ministério também destacou que o PL “é omisso em relação à crise climática, sem sequer mencionar a questão em seu conteúdo, fazendo com que o processo de licenciamento desconsidere esse tema crucial”.

“A proposta terá impacto negativo para a gestão socioambiental, além de provocar, possivelmente, altos índices de judicialização, o que tornará o processo de licenciamento ambiental mais moroso e oneroso para a sociedade e para o Estado brasileiro.”

Ao Correio, Reuber Brandão, professor do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília (UnB), membro da Rede Biota Cerrado e da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, disse que o projeto representa um retrocesso.

“As mudanças vão impactar profundamente as garantias de controle, segurança, monitoramento e fiscalização de impactos ambientais sobre os recursos naturais nacionais. A lógica da autodeclaração, já usada por exemplo no Cadastro Ambiental Rural na revisão do Código Florestal em 2012, já mostrou que não funciona e não garante a segurança e idoneidade dos dados declarados. É a verdadeira ‘passada da boiada’ na legislação ambiental nacional que foi construída com grande esforço e cuidado ao longo do tempo”, avalia Reuber.

Margem Equatorial

A liberação da licença para exploração de petróleo na Margem Equatorial, pleiteada pela Petrobras e alvo de críticas de ambientalistas, também virou assunto no plenário. Tereza Cristina aceitou uma emenda do senador Izalci Lucas (PL-DF) em resposta a demandas do setor petrolífero. A emenda incluiu um artigo no texto que garante que, no caso de empreendimentos ou atividades “de interesse nacional”, as empresas possam ser ouvidas e pedir a manifestação de um órgão colegiado no processo de obtenção da licença.

Na prática, isso altera a obtenção de licenciamentos junto ao Ibama. O órgão tem resistido, desde 2023, às pressões do governo federal para liberar uma licença para a Petrobras explorar a Margem Equatorial.

Outro que defendeu a exploração foi o senador Eduardo Braga (MDB-AM), que se dirigiu ao presidente da Casa, Davi Alcolumbre, natural do Amapá e que tem atuado nos bastidores para viabilizar a exploração. “Não é possível, senador Davi, que o Amapá e o Brasil, tendo a Margem Equatorial capaz de produzir petróleo que trará riqueza e desenvolvimento, em um país que tem uma empresa como a Petrobras, com alta competência de extração de petróleo em águas profundas, a 500 quilômetros da costa do Amapá, nós estarmos proibidos de simplesmente prospectar para comprovar a existência da reserva. É aprisionar a região à pobreza, ao atraso”, destacou. 

Quer ficar por dentro do que acontece em Taguatinga, Ceilândia e região? Siga o perfil do TaguaCei no Instagram, no Facebook, no Youtube, no Twitter, e no Tik Tok.

Faça uma denúncia ou sugira uma reportagem sobre Ceilândia, Taguatinga, Sol Nascente/Pôr do Sol e região por meio dos nossos números de WhatsApp: (61) 9 9916-4008 / (61) 9 9825-6604.

Compartilhar
Compartilhado por
Jeová Rodrigues

Jornalista

Deixe um comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Artigos Relacionados

Senado aprova relatório que proíbe abusadores de atuarem com menores

Relatório de Damares altera o Código Penal e impede que condenados por...

“Minha função era acalmar”, diz general Arruda sobre acampamento antes do 8/1

Ex-comandante do Exército foi nomeado e exonerado pelo presidente Lula em um...

Câmara aprova reajuste salarial e reestruturação de carreiras do Executivo

A Câmara dos Deputados aprovou, na noite desta quarta-feira (21/5), o projeto...

Dilma volta à pauta da Comissão de Anistia em busca de reconhecimento oficial

Ex-presidente tenta reverter negativa recebida em 2022 e ser oficialmente reconhecida como...