Maior desafio para classe trabalhadora é precarização do trabalho, diz Celso Amorim
Segundo o ex-ministro, precarização começou com a crise de 2008 e, desde então vem aumentado porque os capitalistas querem sobreviver à base de uma exploração ainda maior dos trabalhadores.
O ex-ministro de Relações Exteriores e da Defesa no governo Lula, Celso Amorim, traçou um panorama do cenário econômico e político internacional, explicando como o cenário mundial impacta na vida dos trabalhadores e trabalhadoras do Brasil, em sua fala na 16ª Plenária Nacional da CUT, na manhã desta quinta-feira (21).
Tanto a fala da ex-presidenta Dilma Rousseff, também nesta manhã, quanto a do ex-ministro, têm como objetivo subsidiar os delegados e delegadas da CUT nos debates que vão definir os rumos da Central Única dos Trabalhadores nos próximos tempos.
Celso Amorim discorreu sobre a crise econômica de 2008, dizendo que, desde então, o mundo vem enfrentando transformações nas relações de trabalho causadas pelas tentativas do capitalismo de sobreviver à base de uma exploração ainda maior dos trabalhadores.
Nos últimos tempos, prosseguiu, a pandemia do novo coronavírus aprofundou as consequências da crise econômica, no Brasil e no mundo, e milhões de pessoas foram impactadas. Mas outros fatores também influenciam as transformações no mundo trabalho e devem ser considerados pelo movimento sindical para estabelecer novas estratégias de luta, afirmou.
“Vivemos um momento histórico de confluência de três grandes crises”, disse Amorim, que explicou: “A primeira delas é a crise sanitária causada pela pandemia da Covid-19. Maior crise global desde o fim da 2ª Guerra Mundial. Junto com as mortes, a pandemia aprofundou, de forma sem precedentes, uma crise econômica que já existia e que, com o isolamento social, também precarizou relações e condições de trabalho. Uma nova ordem mundial foi iniciada e isso é grande crise”, afirmou.
De acordo com o ex-ministro, muito do que se vive atualmente em função das crises, já havia antes da pandemia e como consequência da crise econômica mundial de 2008, iniciada com a falência banco de investimento norte-americano Lehman Brothers, que teve um efeito dominó e outras grandes instituições financeiras quebraram.
“Uma delas é a precarização do trabalho, o maior desafio para a classe trabalhadora”, pontuou Celso Amorim.
As transformações para a CUT e o movimento sindical passarão pela compreensão de que o modo de atuação precisa se renovar, disse ele. Não se pode pensar ‘o chão de fábrica’, como antes e é importante a reflexão sobre os anseios dos trabalhadores, frente às mudanças impostas pela realidade mundial, afirmou o ex-ministro.
Polarização do poder mundial
Outra situação apontada por Celso Amorim, mas segundo ele, não necessariamente negativa é a separação do mundo em potências econômicas que também se acentuou por causa da pandemia e isso influiu da relação mundial do poder. Ele cita a influência da China no mercado mundial e sua trajetória de desenvolvimento ao longo dos anos, que se sobressaiu sobre as demais potências, inclusive os Estados Unidos.
“Na última década as expectativas de todos os economistas é de que a economia chinesa seja maior do que a americana”, disse Amorim.
Segundo ele, o que ajuda mexer ainda mais na correlação de forças entre países, neste caso, é que a China é socialista e tem uma forma de organização da sociedade diferente do modo capitalista. “Há lugar para justiça social”, disse ele.
“Além do crescimento econômico, a China teve êxito em dedicar recursos para programas internacionais, sem preconceitos ideológicos”. Com essa frase, o ex-ministro destacou que o país asiático, diferente dos Estados Unidos, que sempre reivindicou para si o estatus de resolver problemas ao redor do mundo, atuou de forma efetiva, por exemplo, no combate à pandemia, e de forma mais abrangente.
“É uma situação que gera uma certa crise. O mundo precisa se readequar. Não haverá mais aquela situação do fim da Guerra Fria [disputa de hegemonia mundial entre Estados Unidos e União Soviética pós 2ª Guerra Mundial] que era uma única superpotência no poder”, explicou Celso Amorim.
Hoje o mundo tem diferentes blocos. Além de Estados Unidos e China, a Rússia disputa hegemonia com seu potencial bélico e nuclear. Na União Europeia há países dominados pela extrema direita, mas há vários outros se voltando à ideologia política de centro-esquerda, mas mesmo com as divergências tenta convergir para constituir um bloco coeso, uma força política mundial
A ausência de uma potência dominante gera a possiblidade de que outros países possam ser polos de poder. Neste contexto, há que se procurar qual é o lugar para o Brasil, que já chegou a ser sexta economia do mundo- Celso Amorim
Segundo o ranking da Austin Rating de maiores economias do mundo, atualmente o Brasil é o 13º colocado.
“O Brasil sozinho não é suficiente, precisa da América Latina e a América do Sul precisa do Brasil”, complementou o ex-ministro.
Crise neoliberal
Assim como economistas até mesmo de direita, Celso Amorim enxerga uma mudança de paradigmas no sistema econômico mundial. “Até mesmo esses economistas passaram a ver uma maior diversidade no liberalismo. Eles enxergam o fim do ‘Consenso de Washington’, ou seja, o fim da ideia de desregulamentação pelo Estado, de liberalização da economia, de privatizações”, diz Amorim.
“Menos no Brasil, onde as coisas estão estranhas”, ele ressalta.
Para o ex-ministro, ao mesmo tempo em que há setores que apostam no neoliberalismo cada vez mais forte e explorador, há outro que acredita ser necessário criar um mercado com redistribuição de renda e redução das desigualdades – uma realidade que deveria ser aceita pela elite brasileira, ele diz.
Com base nessas condições, de crise sanitária, de poder e de transformações nas ‘relações capitalistas’, Celso Amorim acredita que “não se pode mais pensar em uma situação em que os países mais ricos determinem o que se pode o que não se pode fazer”.
Futuro do Brasil
Celso Amorim afirma que é necessário pensar um mundo diferente, abraçando ideias como a economia verde e o olhar ao meio ambiente.
A realidade do país, hoje, assim como em outros países da América Latina é de uma reação forte de forças conservadoras contra o progresso, a justiça social, aos direitos dos trabalhadores.
A busca por autonomia, segundo ele, foi cessada após o golpe conra a presidenta Dilma Rousseff e com a prisão de Lula, que o impediu de ser candidato à presidência em 2018.
No entanto, desde o fim da década passada há um avanço grande das forças progressistas da América Latina e isso cria um contexto internacional diferente e positivo para o futuro governo – progressista – no Brasil.
Eu sinto no momento que a esperança vai vencer o medo e o ódio e para que o Brasil possa voltar a ser aquele país que queremos e que os direitos dos trabalhadores sejam respeitados e que a classe trabalhadora participe de maneira ativa na vida nacional- Celso Amorim
Edição: Marize Muniz
Colaboração: Érica Aragão
FONTE: CUT-DF
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