Sem recursos, metrô do DF enfrenta dificuldades
Neste ano, o Executivo local aplicou somente R$ 2 milhões no sistema metroviário da capital do país. No ano passado, foram R$ 21,3 milhões
O investimento na Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô-DF), por parte do Governo do Distrito Federal (GDF), caiu drasticamente nos últimos anos. Dados obtidos pelo Correio mostram que, entre 2019 e 2023, a queda foi de 88,3% — passando de R$ 17,1 milhões para apenas R$ 2 milhões. Em comparação com o ano passado, quando o valor aplicado foi de R$ 21,3 milhões, a redução foi ainda maior: 90,6% (confira o infográfico).
Especialista em custos do setor público, o professor de ciências contábeis e atuariais da Universidade de Brasília (CCA/UnB) Marilson Dantas afirma que, em 2022, a companhia aumentou em 44% o número de passageiros. “Apesar do aumento do volume de pessoas atendidas, o resultado apresentado foi no sentido contrário a esse crescimento dos serviços prestados. O prejuízo acumulado no balanço patrimonial do ano passado foi de, aproximadamente, R$ 1 bilhão”, estima. “Esse resultado mostra o desafio do financiamento do transporte público — e do metrô, em particular — relacionado a ter uma operação que seja autossustentável”, comenta Dantas.
“Uma queda no investimento de forma contínua tem dois efeitos diretos: o primeiro, de curto prazo, é o de afetar a qualidade do serviço prestado; e, no médio prazo, afetar o valor da empresa, por meio da perda de valor dos seus ativos imobilizados”, alerta o especialista.
Marilson Dantas diz que a Câmara Legislativa (CLDF), como representante do povo, poderia discutir o tema para entender a forma de financiamento e o planejamento da estruturação de financiamento para o Metrô-DF. “Existe o princípio da eficiência, que obriga os gestores públicos a aplicarem os recursos da melhor forma possível. Isso significa manter a qualidade dos serviços públicos oferecidos à população no mais alto nível”, ressalta o especialista.
Nesta semana, ao CB.Poder — parceria entre Correio e TV Brasília —, o governador Ibaneis Rocha elencou o metrô entre as obras estruturantes para 2024. “Temos a questão da expansão do metrô de Samambaia, que a a licitação já está na rua. E devemos lançar, ainda este ano, a licitação da expansão de Ceilândia”, afirmou Ibaneis.
Presidente da Comissão de Transporte e Mobilidade Urbana (CTMU) da Câmara Legislativa, o deputado distrital Max Maciel (PSol) afirma que o Metrô-DF foi “abandonado”. “Em relação a gestões anteriores, o governo deixou de investir R$ 1 bilhão nesse importante modal para a cidade”, calculou.
Segundo o parlamentar, os dados foram apresentados pelo Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Metroviários (Sindmetrô-DF) durante uma audiência pública sobre a situação do metrô, em maio. “Esse abandono se reflete nas filas, nas panes nos trens, no furto de cabos e na falta de energia. É preciso de mais investimento público nesse modal importantíssimo para o DF.”
Incidentes
Segundo o Metrô-DF, a quantidade de incidentes notáveis vem aumentando entre 2021 e 2023. Neste ano, até 10 de dezembro, foram 54 ocorrências — número 22,7% maior que o do ano passado.
A moradora de Ceilândia Sul, Talita Bark, 20 anos, passou por diversos problemas no metrô. “Utilizo todos os dias, às 8h e às 15h40. Eu me atrasei muitas vezes no trabalho e na faculdade por conta desses empecilhos. Já aconteceu de ele quebrar e todos os passageiros terem que descer e pegar outro, que acabou lotado. A estudante comenta que sempre tenta pegar o transporte minutos antes para evitar atrasos. “É bem comum o trem apresentar falhas, deixando o percurso muito lento. Já fiquei horas parada entre uma estação e outra. As luzes dos vagões apagam e você volta para casa no escuro”, reforça.
Em uma ocasião, Breno dos Santos, 21, teve que pegar um Uber para chegar à rodoviária interestadual a tempo, porque o metrô apresentou defeito e todos tiveram que descer. “Gastei mais de R$ 30 para chegar ao destino. Esse dinheiro não seria necessário, caso o metrô funcionasse da forma correta” descreve. “São absurdas as condições que nós enfrentamos. Todos que utilizam o metrô diariamente passam por problemas. Sem contar com o valor da passagem, que está cada vez mais cara”, conclui.
- Além das falhas, Breno dos Santos reclama do valor da passagemFotos: Luis Fellype Rodrigues
Doutora em transportes pela UnB, Adriana Modesto afirma que falhas no sistema metroviário, como a oferta inferior à demanda de passageiros, podem contribuir para a precarização do serviço. “Um potencial sucateamento acaba penalizando, de forma mais severa, o usuário cativo, ou seja, aquele que depende necessariamente do modo para promover seus deslocamentos até o trabalho, locais de estudo e acesso aos serviços”, assinala.
Considerando as falhas registradas no metrô do DF, em específico concernentes à lentidão nas filas, a especialista destaca que isso acaba fazendo com que o embarque demore, afetando a programação de viagem do usuário que, em muitos casos, ainda precisa promover a integração com o transporte rodoviário de passageiros. “Além disso, o prejuízo com as falhas não fica apenas para o usuário. O sistema de transportes é penalizado como um todo, uma vez que ele é programado tendo em vista uma expectativa de demanda (considerando dia, horário e modo), que acaba ficando represada”, destaca.
Para Adriana, o investimento em transporte de passageiros sobre trilhos deve ser considerado, ponderando quanto à efetividade econômica e social. “Somos extremamente dependentes do modal rodoviário e, ao investir num sistema metroviário mais atrativo para o usuário do transporte público coletivo, em razão da comodidade e do tempo de viagem, também contribuímos para a redução dos sinistros de trânsito e dos congestionamentos, pois, em tese, haverá menor circulação de veículos”, explica a doutora em transportes.
Análise
Em nota, o Metrô-DF disse que os valores informados correspondem à liquidação dos investimentos das fontes do GDF, que aporta créditos orçamentários, a depender da possibilidade de captação de recursos, alinhada à capacidade de execução. Além disso, o Executivo local analisa a arrecadação do Metrô e aquilo que a companhia consegue investir com seus próprios recursos, segundo a resposta enviada ao Correio. “Por exemplo, este ano, além dos R$ 2 milhões investidos e executados com recursos do GDF, a companhia investiu e executou mais R$ 9,5 milhões, totalizando, até o mês de novembro, R$ 11,5 milhões”, calculou o Metrô-DF.
Ainda de acordo com a nota, em 2020 e 2021, a pandemia causada pela covid-19 atrapalhou a capacidade de arrecadação e execução de recursos. “Ainda assim, nos últimos três anos, o Metrô-DF abriu três novas estações, entre outras ações. Está em fase final de licitação a expansão da linha 1 para Samambaia. O total investido será de R$ 362 milhões e as obras devem durar quatro anos”, detalhou. Em relação às falhas, o Metrô-DF informou que realiza manutenções diárias, preventivas e corretivas.
Incidentes notáveis
2019 – 58
2020 – 41 (- 29,3%)
2021 – 33 (- 19,5%)
2022 – 44 (+ 33,3%)
2023** – 54 (+ 22,7%)
*Podem ser causados por fatores internos (decorrentes de algum problema em equipamentos ou sistemas) ou externos (problemas de energia ou vandalismo, por exemplo)
**até 10 de dezembro
Fonte: Metrô-DF
Outros repasses
2019
Pessoal — R$ 196,6 milhões
Custeio — R$ 15,1 milhões
2020
Pessoal — R$ 215,7 milhões
Custeio — R$ 71,9 milhões
2021
Pessoal — R$ 195,8 milhões
Custeio — R$ 67,3 milhões
2022
Pessoal — R$ 217,9 milhões
Custeio — R$ 72,8 milhões
2023**
Pessoal — R$ 228,6 milhões
Custeio — R$ 45,1 milhões
*não estão incluídos pagamentos nem investimentos com recursos próprios do Metrô-DF
**até novembro
Fonte: GDF
Memória
28 de fevereiro — As estações de metrô amanheceram com os portões fechados, por conta da falta de sinalização nas estações, o que impede o envio de informação da localização de cada trem. O sistema de sinalização impede que um trem se aproxime do outro e, por segurança, reduz a velocidade de tráfego quando há falhas
16 de abril — Um temporal deixou os usuários do metrô no prejuízo. Devido às fortes chuvas, fios de energia caíram sobre a linha do metrô em Águas Claras e resultou na interrupção da circulação de trens no ramal Samambaia. A circulação de trens está interrompida nas estações de Águas Claras, Taguatinga Sul, Furnas, Samambaia Sul e Terminal Samambaia
7 de agosto — O metrô apresentou uma falha de sinalização e, com isso, os usuários encontraram o transporte com lentidão em alguns trechos. A falha acarretou em um problema de comunicação em uma das vias entre as estações Concessionárias e Onoyama. Houve restrição de velocidade no trecho
16 de dezembro — Durante a tarde, por volta das 15h30, houve uma falha de alimentação elétrica para o metrô, por conta do desabastecimento de duas subestações de energia. Por isso, todas as estações foram fechadas repentinamente, causando transtorno aos usuários. A circulação só voltou ao normal na manhã seguinte
Com informações do Correio Braziliense
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