Lei sancionada incentiva o turismo sobre duas rodas na capital do país
Pedalar pelos mais de 675 quilômetros de malha cicloviária em 30 regiões administrativas do Distrito Federal pode ser um atrativo a mais para quem vem de fora e quer conhecer os principais cartões-postais da capital do país, como a Catedral Metropolitana, o Estádio Nacional Mané Garrincha ou a Ponte JK. Em 17 de janeiro, o governador do DF, Ibaneis Rocha, sancionou a Lei do Cicloturismo, que busca promover o uso da bicicleta como meio de transporte e impulsionar o turismo ecológico em Brasília.
Com cerca de 15 integrantes na agência de cicloturismo Camelo Bike Tour, o arquiteto Graco Santos, 56 anos, conta que a quantidade de quilômetros percorridos pelo grupo subiu de 11 mil para 12 mil de 2022 para 2023. Ele guia as pessoas em trajetos de três horas e meia passando por monumentos do centro da capital, como a Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, o Cine Brasília, Clube do Choro, QG do Exército, Memorial JK e Praça dos Cristais.
“Tenho um tour que vamos lançar que se chama Eduardo e Mônica. De ‘camelo’, vamos ouvindo músicas na playlist Rock de Brasília, com cerca de 15km de distância. Vamos passar por lugares onde o Renato Russo tocou com a banda Aborto Elétrico, onde ele estudou e deu aulas de inglês, e pela Colina, na UnB”, detalha.
Em relação à legislação, porém, Graco comenta que os ativistas poderiam ter sido consultados. “A lei poderia ter protegido as ciclovias. Se tem uma pista onde eu estou, no centro de Brasília, até Samambaia, tenho a ligação com outro ponto distante, que está pavimentando. Mas é preciso desenhar a segurança dela”, sugere. O ciclista critica a falta de orientação a empresas públicas e privadas que fazem eventos no Eixo Monumental. “É comum os caminhões não terem uma sinalização onde possam parar, acabando passando pelas ciclovias, que não aguentam, e racham”, desabafa.
Consciência ambiental
A proposta também busca incentivar o turismo de forma sustentável e o uso da bicicleta como meio de transporte para exercitar a consciência ambiental. De acordo com a Secretaria de Mobilidade (Semob), o DF possui uma das maiores malhas cicloviárias do país, com 664,77 km em 30 regiões administrativas. Para atender a demanda turística, será feito um mapeamento dos acessos aos pontos mais visitados dentro dessa malha.
O traçado dos circuitos e rotas vai considerar aspectos como bacias hidrográficas, relevo e formação histórica, cultural e social de cada região. Com isso, será priorizada a interligação entre sistemas cicloturísticos, infraestrutura cicloviária rural e urbana, garantindo o acesso popular e investindo em vias de menor fluxo de veículos motorizados.
Em 2023, a malha cicloviária do DF cresceu 31km, com obras em quase todas as regiões do DF, em especial na Estrada Parque do Contorno (DF-001), nas proximidades do Jardim Botânico, Núcleo Bandeirante, Candangolândia e no Gama. Na DF-440, próximo a Sobradinho, os moradores receberam uma pista para bicicletas com quase 6km de extensão. A via que liga o Núcleo Bandeirante à Candangolândia também oferece mais de 3km de ciclofaixa. Nas proximidades do Assentamento 26 de Setembro, um espaço de 4km exclusivo para bikes foi entregue para a população.
Conselheiro da ONG Rodas da Paz, Raphael Dornelles afirma que o DF tem uma geografia favorável para o cicloturismo. “A meu ver, poderia ser uma ferramenta de manutenção da vegetação nativa em áreas rurais e de preservação do manancial hidrográfico da nossa região”, observa. Para ele, as maiores dificuldades seriam a segurança e infraestrutura para esses visitantes. “O DF tem vias de alta velocidade ou que permitem altas velocidades, por mais que sejam definidas como de baixa velocidade”, pondera.
Para que a nova modalidade dê certo na capital do país, Dornelles acredita que sejam necessárias as mesmas medidas que a mobilidade ativa precisa. “Moderação da velocidade das vias onde as bicicletas passarão, para garantir a segurança do ciclista, sinalização direcionada aos ciclistas que indicaria os bairros, rotas e atrações, como existem para os carros e que auxiliariam também a quem está andando de bicicleta, além de paraciclos e bicicletários, que são o básico da infraestrutura cicloviária, em pontos turísticos”, pontua. “Sem uma verba definida para infraestrutura e prioridade, os turistas vão sofrer no trânsito do DF, como os ciclistas sofrem”, avalia o conselheiro da Rodas da Paz.
Orientações turísticas
No ano passado, o publicitário James Soares, 57, transformou a loja on-line de bicicletas e produtos de ciclismo BeeBike, que tem desde 2017, em uma agência de cicloturismo. Desde a mudança, ele guia de quatro a 15 pessoas em parques ecológicos do DF, mas reclama da falta de interligação entre as vias e as entradas dos espaços, como o Jardim Botânico de Brasília (JBB), o Parque Água Mineral e a Floresta Nacional de Brasília (Flona), às margens da BR-070. “Como a lei vai estimular o turismo se a malha cicloviária não está perfeita nem para o usuário comum fazer o passeio sem se colocar em risco no trânsito violento de Brasília, com vias de 60km/h e outras de 80km/h?”, avalia.
James comenta que a cidade precisa estar preparada para receber turistas com o maior número de informações possíveis, com placas informando a história do local e guias preparados para receber quem vem de fora do DF. “A gente não tem informação nos pontos turísticos, quando se fala do centro de Brasília, seja na Torre de TV, na Esplanada dos Ministérios, na Praça dos Três Poderes ou no Parque da Cidade. O turista precisa ter essas orientações. No Parque Jardim Botânico, por exemplo, não tem uma placa nas trilhas”, comenta o ciclista.
Um dos turistas que costuma pedalar em Brasília é o advogado Christian Lopes, 25. Uma vez por mês, ele pega um avião em Salvador (BA), onde mora, para visitar o companheiro, em Brasília. O rapaz costuma passar 15 dias e aproveita a estadia na Asa Norte para pedalar pela capital federal e não ficar sem praticar um exercício físico. “As ciclovias são bem acessíveis, principalmente na área central, mas há alguns pontos que podem melhorar mais. Sinto que não tem uma conexão tão grande para se fazer trajetos longos pela cidade. A ciclovia é interrompida em alguns pontos da cidade e há dificuldade em disputar espaços com os carros. Alguns trechos acabam ficando perigosos”, reconhece o advogado.
Com informações do Correio Braziliense
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