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Idosos são os que registram mais casos de câncer de pele

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Envelhecimento da população e maior exposição durante a vida são as principais causas do aumento de casos em pessoas com mais de 65 anos. Projeção é de um incremento de 140% até 250%

Com o envelhecimento da população, o câncer de pele, tipo de neoplasia mais comum no mundo, tornou-se uma preocupação entre idosos — e a tendência é de piora. De acordo com um estudo publicado na revista Jama Dermatology, o número de casos em pessoas com 65 anos ou mais disparou nas últimas três décadas e continuará crescendo até 2050. A análise se baseou em dados do Global Burden of Diseases (GBD), abrangendo 204 países, inclusive o Brasil, e foi conduzida por Ruiyao Wang e Jin Chen, da Universidade Médica de Chongqing, na China. 

O levantamento revelou que, só em 2021, foram registrados globalmente mais de 4,4 milhões de novos casos entre idosos, sendo 153 mil de melanoma, o tipo mais agressivo, 1,46 milhão de carcinoma espinocelular (CEC) e 2,8 milhões de carcinoma basocelular (CBC), esses últimos agrupados sob o nome de cânceres de queratinócitos. Os homens são os mais afetados — e a desigualdade de gênero tem se acentuado com o tempo.

“O câncer de pele está cada vez mais concentrado em países com alto índice sociodemográfico (SDI), mas o impacto da doença já começa a se espalhar para regiões menos desenvolvidas”, afirma o estudo. Os autores apontam que o envelhecimento populacional e o crescimento demográfico são os principais motores do aumento da incidência, embora a exposição acumulada à radiação ultravioleta (UV) durante a vida também desempenhe papel crucial.

Basocelular

Embora o melanoma seja o mais temido devido à sua agressividade, é o carcinoma basocelular que lidera os diagnósticos entre os mais velhos. A incidência foi de 371,97 casos por 100 mil habitantes em 2021, quase o dobro do espinocelular. Esse último se destacou pela maior taxa de mortalidade e anos de vida perdidos ajustados por incapacidade (DALYs, na sigla em inglês).

O estudo aponta que o crescimento da carga da doença se deve, principalmente, ao aumento populacional. No entanto, outros fatores – como maior exposição solar ao longo da vida, desigualdade no acesso à saúde e mudanças nos padrões de lazer – também contribuíram.

A pesquisa revela disparidades importantes entre os sexos. A incidência e a mortalidade entre os homens são significativamente mais altas. No caso do carcinoma espinocelular, por exemplo, a taxa no sexo masculino foi quase 2,3 vezes superior à das mulheres. Segundo os autores, essa diferença pode estar ligada a comportamentos culturais, como menor uso de protetor solar e maior exposição ocupacional ao sol.

Socioeconômico

Ao analisar os dados por nível socioeconômico, medido pelo índice sociodemográfico (SDI), o estudo identificou que países com alto SDI concentram a maior parte do ônus da doença. Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos e algumas nações europeias figuram entre as mais afetadas. Em 2021, a mais alta taxa padronizada de incidência de melanoma foi registrada entre os neozelandeses:  202,21 por 100 mil habitantes idosos.

Essas regiões combinam elevada expectativa de vida com hábitos de lazer que envolvem exposição ao sol, além de maior capacidade diagnóstica. Contudo, os autores alertam que a carga da doença também cresce em países de média e baixa renda, como a China, onde a incidência de carcinoma espinocelular em idosos aumentou em mais de 6% ao ano.

Projeções 

As projeções indicam que a incidência e prevalência de cânceres de pele do tipo queratinócito vão aumentar significativamente até 2050, especialmente o carcinoma basocelular, que poderá crescer 140%. Em contrapartida, os casos de melanoma tendem a diminuir, reflexo da eficácia de terapias alvo e imunoterapias desenvolvidas na última década.

“Embora isso represente um avanço, o cenário futuro ainda é preocupante”, afirma Jin Chen. “Em 2050, 80% da população idosa estará em países de baixa e média renda. Sem investimentos em prevenção e diagnóstico precoce, a situação pode se agravar.”

Entre as estratégias recomendadas, estão campanhas de fotoproteção, incentivo ao autoexame e exames dermatológicos periódicos, especialmente para idosos. Para os autores, uma abordagem que envolva desde escolas até políticas públicas focada em pessoas com mais de 65 anos seria ideal. 

Brasil

Embora o estudo não destaque especificamente o Brasil, os especialistas alertam que o país não está imune à tendência global. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), em 2020, foram estimados 176.930 novos casos de câncer de pele não melanoma no Brasil, e 8.450 do tipo mais agressivo. Entre 2018 e 2022, ocorreram 20.291 internações por neoplasia maligna da pele em idosos no país. 

Segundo Regina Buffman, médica dermatologista e cirurgiã dermatológica, é preciso continuar investindo em prevenção. “Investir em educação e prevenção desde a infância é essencial. Ensinar desde cedo o uso adequado do protetor solar, estimular a proteção física com chapéus e roupas adequadas, e incluir a fotoproteção como hábito diário são medidas de impacto”, diz. 

Principais tipos 

» Não melanoma: são os mais comuns e, geralmente, menos agressivos.

» Carcinoma Basocelular (CBC): é o tipo mais frequente de câncer de pele. Surge nas células basais, geralmente em áreas expostas ao sol (rosto, pescoço, orelhas). Raramente causa metástase. 

» Carcinoma Espinocelular (CEC): origina-se das células escamosas da epiderme. Tem maior chance de se espalhar do que o basocelular, especialmente se diagnosticado tardiamente. Aparece em áreas de exposição solar crônica.

» Melanoma: é o mais agressivo, embora menos comum. Surge nos melanócitos, células que produzem melanina (pigmento da pele)

Perguntas para Regina Buffmann*

O que explica o aumento expressivo nas taxas de câncer de pele até 2050?

Essas projeções refletem, principalmente, o envelhecimento da população e a maior exposição solar ao longo da vida, especialmente em pessoas que cresceram sem o hábito do uso regular de protetor solar. Além disso, fatores como a destruição da camada de ozônio, o aumento do tempo de lazer ao ar livre e o uso inadequado da fotoproteção contribuem significativamente para esse cenário. A detecção está mais precisa, o que também pode levar a um aumento no número de diagnósticos.

O estudo também mostra que a prevalência do melanoma pode cair. O que contribuiu para isso?

A queda na prevalência do melanoma, especialmente nos estágios mais graves, tem relação direta com os avanços no diagnóstico precoce, uso de tecnologias como dermatoscopia digital, inteligência artificial aplicada à dermatologia e maior conscientização da população. Além disso, tratamentos imunoterápicos e terapias-alvo vêm mostrando bons resultados, aumentando a sobrevida dos pacientes.

Campanhas de prevenção, uso de protetor solar e rastreamento precoce estão funcionando?

Sim, há evidências claras de que a informação e a prevenção fazem diferença. Países que adotaram campanhas de longo prazo, como a Austrália, conseguiram reduzir a incidência de melanomas graves. No Brasil, iniciativas como o Dezembro Laranja, da Sociedade Brasileira de Dermatologia, têm contribuído para aumentar a conscientização sobre os riscos da exposição solar sem proteção e a importância de procurar um dermatologista diante de qualquer sinal suspeito. (PO)

* Médica dermatologista e cirurgiã dermatológica

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Jeová Rodrigues

Jornalista

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