Brasil registra quase 200 casos de violência contra crianças por dia
O Brasil registrou, em média, 196 casos de violência contra crianças e adolescentes por dia em 2023. Além disso, 80% dessas agressões ocorreram dentro das casas das vítimas. O alerta é da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e foi divulgado nesta quinta-feira (24/10).
São Paulo lidera em todas as faixas etárias, com 17.278 registros de violência física, o que corresponde a uma média de quase 50 casos por dia no estado mais populoso do país. Minas Gerais aparece em segundo lugar, contabilizando 8.598 casos em 2023. Em seguida está o Rio de Janeiro, que registrou 7.634 casos.
Na região Sul, o Paraná teve 7.266 casos e o Rio Grande do Sul somou 2.331 registros. No Paraná, chama a atenção a elevada proporção de casos em menores de 10 anos, representando 88% das notificações. Em Santa Catarina, 71% dos episódios de violência física também envolvem crianças com menos de 10 anos.
Na região Nordeste, a Bahia aparece em destaque, com 3.496 ocorrências. Outros estados com números expressivos incluem o Ceará (com 2.954 casos) e Pernambuco (com 2.935 casos), especialmente entre adolescentes de 15 a 18 anos.
No Centro-Oeste, Goiás se destaca com 2.533 casos, dos quais 56% ocorreram entre adolescentes de 10 a 18 anos. No Norte, o Pará se sobressai, com 2.357 notificações, sendo o mais afetado da região.
Luci Pfeiffer, presidente do Departamento Científico de Prevenção e Enfrentamento das Causas Externas na Infância e Adolescência da SBP, chama a atenção para os sinais de alerta. “A violência contra crianças e adolescentes é uma doença silenciosa que ocorre, na maioria das vezes, dentro de suas próprias casas. Por isso, é fundamental que os profissionais de saúde estejam atentos e sensíveis aos sinais de violência”, diz.
“Fraturas inexplicáveis ou específicas de traumas intencionais, relatos contraditórios ou lesões incompatíveis com o trauma descritos, ou com o desenvolvimento psicomotor da criança, são indicativos claros de que precisa de maior avaliação, diagnóstico, tratamento e proteção imediata”, cita a especialista.
Ao Correio, Luci também pontua que quanto mais precoce, mais danosa é a violência na vida das crianças. “Quanto mais continuada, maiores são os danos que ela pode levar para o resto da vida. A Organização Mundial da Saúde estima que uma a cada quatro crianças no mundo sofrem algum forma de violência, que vai deixar marcas”, frisa.
A presidente do Departamento Científico de Prevenção e Enfrentamento das Causas Externas na Infância e Adolescência ainda explica que as violências podem fazer com que as crianças reproduzam os comportamentos aos quais elas foram submetidas. “Como consequência, se não for tratada, essa criança pode se transformar em um novo agressor”, diz Luci. Dificuldades na aprendizagem e nos relacionamentos com as pessoas podem ser outros impactos das agressões ao longo da vida das vítimas.
Subnotificação
Apesar dos dados serem expressivos, especialistas apontam que o cenário possa ainda ser ainda mais preocupante. “A subnotificação é um grande desafio, impedindo uma compreensão mais precisa da real dimensão do problema”, frisa o presidente da SBP, Clóvis Francisco Constantino.
“Muitas agressões não são relatadas, especialmente em áreas remotas ou com poucos recursos. Isso é particularmente evidente na região Norte, onde o número de notificações é significativamente menor, o que pode estar relacionado tanto à dificuldade de acesso aos serviços de saúde quanto à ausência de mecanismos eficazes de denúncia”, acrescenta o médico.
No Brasil, todos casos de suspeitas de violência contra crianças e adolescentes devem ser reportados ao Conselho Tutelar. Em situações que envolvem crimes como violência física, psicológica ou sexual, as delegacias de polícia e o Ministério Público também precisam ser notificadas.
Os dados foram divulgados pela Sociedade Brasileira de Pediatria na semana em que é realizado o 41º Congresso Brasileiro de Pediatria, em Florianópolis, Santa Catarina. O evento lançará uma nova campanha de sensibilização e orientação diagnóstica sobre o tema. O objetivo é fortalecer as ações de prevenção e a identificação precoce dos sinais de violência em todos os níveis de serviços de saúde.
Com informações do Correio Braziliense
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