Projeto da Associação Brasiliense de Deficientes Visuais (ABDV) ocorre às segundas-feiras e ajuda no desenvolvimento físico e social dos participantes; a biblioteca pública é mantida pelo GDF
Às segundas-feiras, por volta das 15h30, o silêncio habitual da Biblioteca Braille Dorina Nowill, em Taguatinga, dá lugar ao som animado do forró e as risadas de um grupo muito especial. Há três meses, o espaço passou a receber aulas de dança voltadas para pessoas com deficiência visual, promovidas pela Associação Brasiliense de Deficientes Visuais (ABDV). Cerca de 20 participantes se reúnem semanalmente para descobrir, na dança, uma poderosa ferramenta de bem-estar, inclusão e socialização.
Atualmente, a biblioteca pública é mantida por meio de uma colaboração entre a Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa (Secec-DF), a Secretaria de Educação (SEE-DF) e a Administração Regional de Taguatinga. “A nossa biblioteca é um lugar de convivência, de muita alegria. Aqui a gente conversa, dança, bate papo”, conta a fundadora da biblioteca e aluna animada das aulas de forró, Noemi Rocha. “Quando surgiu a ideia de trazer a aula de dança pra cá, recebemos de braços abertos”. Participante ativa das atividades, Noemi transborda bom humor e orgulho ao falar da evolução como dançarina. “Já sei fazer o ‘dois pra lá, dois pra cá’, o giro, o leque… dou até aquela rodadinha”, diz, rindo. “Antes eu não fazia nada disso. Agora me sinto uma bailarina, com meus lindos cabelos brancos.”
Sobre a superação de desafios, ela reconhece que o início pode parecer difícil para quem tem baixa visão, mas garante que com a orientação certa tudo flui. “É só se jogar. O professor tem uma didática maravilhosa, ele ensina passo a passo e a gente presta muita atenção. Quando vê, já está rodando, trocando de posição, fazendo os movimentos com leveza. Me sinto muito à vontade.”
Para a presidente da ABDV, Helena Pereira, a instituição garante direitos e promove o empoderamento das pessoas com deficiência, e a dança contribui diretamente com isso. Ela explica que a atividade vai muito além da movimentação física. “A dança liberta. Melhora nossa coordenação motora, nossa mobilidade e, principalmente, proporciona inclusão e socialização. Muitas vezes, em festas ou eventos, pessoas com deficiência acabam isoladas. Alguém oferece uma cadeira e pronto, a gente fica de lado. Mas nós queremos mais do que isso. Somos pessoas e queremos viver plenamente.”
Helena conta que realizar essa oficina de dança era um desejo antigo. “Esse projeto já estava no meu coração antes mesmo de eu ser eleita presidente da ABDV. Ver isso acontecer agora é uma realização pessoal. A dança tem agregado valor, promovido encontros, trocas e desenvolvimento tanto pessoal quanto social.”
Por serem alunos com deficiência visual, a didática é adaptada. Os professores utilizam o tato e os alunos tocam no corpo deles para entender os movimentos e a referência de postura. Atualmente, o grupo aprende o tradicional forró pé de serra, como o xote que é base da dança de salão. Mais pra frente, o projeto irá explorar outros ritmos.
Segundo o professor, Marcos Espírito Santo, responsável por conduzir as aulas de forma voluntária, destaca que a transformação dos alunos é incrível. “Tem aluna que chegou tímida, com dificuldade de postura, e hoje entra na sala de cabeça erguida. A dança tem feito muito bem pra todos.” Para a auxiliar de aulas de forró, Denise Braga, os benefícios do projeto vão muito além da dança. “O retorno que a gente recebe é lindo. Tem impacto na autoestima, na mobilidade, na socialização. A dança tem movimentado tudo: corpo, mente e coração.”
Muitos dos alunos que hoje participam das aulas de forró perderam a visão ao longo da vida. Para eles, a dança representa mais do que uma atividade física, é um reencontro com memórias afetivas que já foram vividas. É o caso de Sidney de Castro, 63, que ficou cego há 13 anos após uma infecção ocular. “Eu dancei muito forró e lambada quando era mais jovem”, relembra, com um sorriso na voz. “Naquela época, eu enxergava, via os passos, os movimentos… Hoje, dançar de novo, mesmo sem ver, é como tocar em algo que parecia perdido. É lembrar que ainda sou capaz, que meu corpo ainda responde, que eu ainda posso sentir essa alegria.”
Aulas de forró
A biblioteca funciona de segunda a sexta, das 8h às 17h. As aulas de dança acontecem às segundas-feiras, das 15h às 16h30. Os participantes costumam chegar meia hora antes para se preparar. Depois da aula, é feito um lanche colaborativo e o grupo troca impressões sobre os passos, o que funcionou bem e o que pode melhorar. O objetivo é conviver, socializar, se movimentar e fortalecer a autoestima.
Biblioteca Braille Dorina Nowill
Em funcionamento há 30 anos, o espaço figura como o único em todo o Distrito Federal a possuir um acervo inteiramente dedicado às necessidades de pessoas cegas, com baixa visão e de seus acompanhantes. Por lá, mais de 5,9 mil exemplares das mais diferentes obras estão nas prateleiras do espaço.
São livros em Braille, que muitas vezes ocupam até três volumes por obra, além das publicações com letras ampliadas e livros convencionais, estes lidos por voluntários da biblioteca. A inclusão por meio da tecnologia também se faz presente por meio do telecentro, uma sala de informática equipada com computadores adaptados com leitores de tela e duas impressoras Braille.
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