
Ameaça fascista: como ideais de extrema direita perdem espaço no Brasil

“Deus, pátria e família”. Você provavelmente pensou em Jair Bolsonaro ao ler este lema, mas o atual presidente da República não é o primeiro a dizê-lo no Brasil. As mesmas palavras, e nesta exata ordem, compõem o lema da Ação Integralista Brasileira (AIB), o movimento inspirado no fascismo italiano — que tinha o mesmo bordão: “Dio, patria, famiglia”. Em fevereiro, Bolsonaro mencionou o slogan ao cumprimentar o primeiro-ministro de extrema direita da Hungria, Viktor Orbán, em viagem ao país do leste da Europa. Em setembro de 2021, o presidente brasileiro usou a expressão na assinatura de uma declaração ao povo.
Considerando-o fascista ou não, faz sentido dizer que Bolsonaro ecoa o movimento brasileiro fundado pelo jornalista Plínio Salgado em 1932. Da mesma forma, o slogan “Brasil acima de tudo”, da campanha presidencial bolsonarista em 2018, copia o “Deutschland über alles”, ou “Alemanha acima de tudo”. Esse era o primeiro verso de uma canção nacionalista do século 19 da qual Adolf Hitler era fã e que virou lema do partido nazista.
Como se vê, engana-se quem pensa que os ideais e símbolos fascistas foram enterrados com a derrota dos países do Eixo na Segunda Guerra Mundial. O fascismo segue vivo, pulsante, e sua visão de mundo está se manifestando com força. Na definição do cientista político estadunidense Robert Paxton, autor de A Anatomia do Fascismo (Paz & Terra, 2008), essa ideologia é um culto à morte. E, para o jornalista brasileiro Pedro Doria, o fascismo visa destruir a estrutura social vigente para instalar, no lugar dela, a que considera ideal. “Para isso, ele precisa incitar a violência, e Bolsonaro incita alguns tipos dela”, analisa o autor do livro Fascismo à Brasileira (Planeta, 2020). “Ele é inimigo da Constituição de 1988, que é liberal e estabelece direitos sociais, individuais e ambientais, abrigando os direitos dos indígenas, das mulheres e dos pobres. O desejo dele é que o Brasil retorne ao que era na época da ditadura.”
Episódios recentes também remontam aos anos de chumbo. No final de maio, o país se chocou com a morte de Genivaldo de Jesus Santos, um homem negro de 38 anos, asfixiado em uma “câmara de gás” improvisada por policiais no porta-malas de um carro da Polícia Federal Rodoviária de Sergipe. E casos como esse não são isolados. A polícia brasileira matou mais de 6,4 mil pessoas em 2020, segundo o mais recente Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em 2021. É o maior número anual de mortes em decorrência de intervenções policiais já registrado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
“Através do discurso, Bolsonaro ajuda a instalar um cenário de caos em que lobos solitários agem”Pedro Doria, jornalista e escritor
Em sua 32ª revisão sobre as tendências de direitos humanos no mundo, a ONG Human Rights Watch alerta para pontos de atenção no Brasil em diversos aspectos, incluindo ameaças aos pilares da democracia. A entidade destaca, entre outros pontos, os ataques do presidente da República ao Supremo Tribunal Federal (STF) e a difamação do sistema eleitoral. Para Pedro Doria, as palavras têm efeito e ajudam a constituir um ambiente de impunidade. “Através do discurso, Bolsonaro contribui para instalar um cenário de caos em que lobos solitários agem. Cada vez mais pessoas se sentem autorizadas a agir nesse sentido”, opina.
E os efeitos já são percebidos. Dados da ONG Anti-Defamation League (ADL), divulgados pelo jornal O GLOBO em fevereiro, apontam que o Brasil é o país onde mais cresce o número de grupos de extrema direita no mundo. O levantamento identificou mais de 530 células extremistas — em 2019, eram 334. Afinal, estamos à beira de voltar ao que o mundo viveu nas décadas de 1930 e 1940?
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