Merenda escolar garante mais que alimentação saudável para crianças do DF
Nas unidades infantis da rede pública de ensino, os pequenos têm contato com hortas, aprendem a ter hábitos alimentares mais nutritivos e ganham autonomia na hora das refeições
“Eu gosto muito do lanche da escola para crescer”, declara Sophia Manoela Silva de Souza, de 5 anos de idade. Ela, assim como outras crianças do Jardim de Infância 603 do Recanto das Emas, já sabem o momento favorito do dia: a hora da merenda escolar.
“O Natanael ama todos os lanches. Ele praticamente nem traz de casa, porque sei que o lanche da escola é melhor. Ele come tudo e ainda repete”, afirmou Auriquele Fernandes, enquanto deixava seu filho de 6 anos na porta do Jardim de Infância.
Sophia e Natanael fazem parte dos mais de 420 alunos entre 4 e 6 anos de idade que frequentam a unidade infantil do Recanto das Emas, premiada em 2022 pela Jornada de Educação Alimentar e Nutricional pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. A escola ficou entre as 20 melhores estratégias e iniciativas de educação alimentar e nutricional no Brasil.
Há uma preocupação especial em oferecer refeições nutritivas. A previsão para crianças que frequentam instituições escolares em um período de 5h é de atingir pelo menos 20% das calorias diárias.
Para as que passam 10h nas dependências escolares, a previsão é alcançar 70% do total de calorias diárias. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), uma criança entre 4 e 6 anos deve consumir um equivalente a 1.800 calorias por dia.
Principal refeição do dia
Algumas pessoas podem estranhar o lanche da manhã lembrar um almoço. Mas o cardápio escolar é baseado em todas as legislações do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que é do governo federal, além de seguir também as legislações distritais.
“A gente pensa muito nas crianças que estão em vulnerabilidade, por isso fornecemos arroz, feijão, frango, justamente porque entendemos que, para algumas crianças, vai ser a única refeição, carne ou verdura que elas vão comer no dia. Então temos que garantir a segurança alimentar delas”, explica Juliene Santos, diretora de Alimentação Escolar da Secretaria de Educação.
Na área rural de Monjolo, cerca de 20 crianças saem bem cedo de casa para pegar o ônibus escolar até o Jardim de Infância. “Muitas delas, às vezes pela organização familiar, não conseguem ter uma alimentação saudável, um almoço preparado fresquinho”, exemplifica a vice-diretora do Jardim de Infância do Recanto das Emas, Fabíola da Costa Farias
“Pela fala das crianças e pela empolgação na hora que o lanche chega, a gente sabe que pode ser a única refeição daquela manhã ou daquela tarde. Por isso que o lanche tem que ser tão saboroso, saudável e que alimente mesmo, porque essas crianças gastam muita energia, o corpo delas precisa de alimentação”, reforça.
A vice-diretora destaca a importância do momento das crianças pararem tudo, forrarem a mesinha e comerem com os coleguinhas, gerando um estímulo maior para se alimentarem. Há crianças, por exemplo, que recusam o verdinho do prato em casa, mas na escola experimentam ao ver os colegas comendo.
“Às vezes, a criança não se alimenta bem em casa, a mãe fala: ‘nossa, meu filho não come cenoura. Aqui ele é apaixonado por cenoura.’ Porque é no outro que a gente se espelha. E os pais trazem pra gente que eles estão comendo melhor”, acentuou.
Autonomia no prato
No Jardim de Infância, as crianças do período matutino chegam por volta das 7h30 e as do período vespertino às 13h. Duas horas após o início das aulas já é servido o lanche, em sala de aula, com utensílios de vidro e metal.
No início a professora começa a servir, mas logo as crianças vão criando autonomia para se servirem sozinhas na mesa que acopla a bandeja de alimentação. Os pequenos também fazem a limpeza do prato quando há restos de comida.
Gabriela Bertolo, de 28 anos, é mãe do Pedro Igor, de 5 anos de idade. Ao deixar seu filho na porta do Jardim de Infância, ela trouxe a mudança que observou no Pedro na hora de comer.
“Ele está aqui desde o ano passado e não tinha essa autonomia de comer sozinho. Eu não colocava prato de vidro e nem garfo, com medo de ele se machucar. Mas, do ano passado pra cá, ele já começou a desenvolver e já tem esse manuseio dos utensílios, é extraordinário”, ressaltou.
Durante o ano, a Secretaria de Educação elabora sete ciclos de cardápio escolar. Para as crianças com restrições alimentares que as impeça de comer o lanche normalmente, é feita uma adaptação desses cardápios a cada novo ciclo, especificando o que podem ou não ingerir.
Atualmente, há quatro principais patologias na rede que são a maioria: alergia à proteína do leite de vaca, diabetes mellitus, intolerância à lactose e intolerância ao glúten. Se houver uma restrição muito específica, a nutricionista da regional de ensino faz essa adaptação para a criança.
Contato com a terra
Vários canteiros repletos de hortaliças podem ser encontrados na propriedade escolar do Recanto das Emas, bem ao lado das salas de aula. Mas eles tem um diferencial: tudo ali foi plantado, regado e colhido pelas crianças.
Larissa Roberta Oliveira da Silva, de 6 anos, colheu um punhado de cebolinha na hortinha da escola para levar até as merendeiras. Ela diz que o que mais gosta de plantar ali é morango. “Você pega a semente, joga terra e bota água”, ensina a pequena, que teve contato com a horta pela primeira vez na escola.
“A gente inicia os trabalhos com um banho de lama, que todos adoram, para incentivar as crianças ao contato com a terra. Saber que terra não é sujeira, terra é alimento, terra é produtora, terra é mãe”, explica a vice-diretora do Jardim de Infância do Recanto das Emas, Fabíola da Costa Farias.
Um canteirinho é preparado para cada turma, onde elas mesmas fazem o cultivo das sementes, tiram as ervas daninhas e acompanham esse processo de crescimento. Em seguida, elas fazem a colheita, podendo levar as plantas para casa. Mas, de acordo com Fabíola, a maioria opta por deixar com as merendeiras, para fazer a lavagem e servir na alimentação escolar.
“É um produto sem agrotóxico, saudável e divertido, produzido pelas crianças, que acompanharam todo o caminho da hortaliça”, completa a vice-diretora.
Prato famoso
Para saber se as crianças estão gostando da alimentação, há testes de aceitabilidade, com fichas de avaliação da distribuição. “A escola fala para a gente, temos as redes sociais também. Quando fazemos o cardápio pensamos muito na regionalidade. Cuscuz com ovo, com carne, queijo muçarela, manteiga…Tem a macarronada também, mas a galinhada é o prato rei do nosso cardápio”, destaca Juliene.
A galinhada é recordista e enche o olfato no dia do preparo. “Os pais chegam e falam ‘meu deus, eu queria comer aqui também’. O cheiro do frango, do tempero… as crianças sempre repetem. E a per capita que vem é para eles se alimentarem bem mesmo”, disse a vice-diretora.
Os sucos oferecidos nas regionais de ensino são todos de polpa e há projetos como cozinha experimental e espetinho de fruta para a criança ter o contato com frutas da estação que complementam o cardápio escolar e faz dele algo atrativo para os pequenos.
“Tem criança que só conhece suco de abacaxi e nunca viu um abacaxi. A alimentação não é só o ‘nutrir o corpo para sobreviver’. É uma cadeia de coisas, um conteúdo de escola que deve ser tratado. A gente começa as rotinas pra vida toda no Jardim de Infância”, observou a vice-diretora.
Diversas unidades escolares no DF se encaixam nos eixos do programa de alimentação escolar: oferta e educação nutricional. “Não adianta você só ofertar o alimento e não ensinar o aluno a ter uma boa relação com esse alimento, aprender a ter hábitos saudáveis, a essência do programa é essa”, destacou a diretora de alimentação escolar da Secretaria de Educação, Juliene Santos.
Com informações da Agência Brasília
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