MPDFT lança campanha “Violência contra a mulher não é normal”
Lançamento foi acompanhado da primeira exibição do videoclipe “O Cravo e a Flor”, da banda Tribo da Periferia. Em três horas, o vídeo já contava com mais de 19 mil visualizações. Em 2023, o DF registrou 34 feminicídios
Na manhã desta sexta-feira (24/5), a Comissão de Prevenção e Combate ao Feminicídio, do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) lançou a campanha “Violência contra a mulher não é normal — abra os olhos, sua atitude pode mudar o final”, em parceria com a banda de rap Tribo da Periferia, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e com patrocínio da CAIXA.
O lançamento oficial contou com a presença de autoridades, especialistas e dos integrantes da Tribo da Periferia, que apresentaram ao público o videoclipe inédito O Cravo e a Flor, música que visa conscientizar a respeito do problema. Em três horas, o vídeo já contava com mais de 19 mil visualizações, no YouTube. Composta por Duckjay, a canção aborda a normalização da violência doméstica, que começa de forma velada e atinge seu ápice com a concretização do feminicídio.
No trecho “Desculpa aí, mas alguém me explique, por favor, como diz que ama, mas mata quem ama por amor?”, o destaque fica por conta do discurso contraditório apresentado por agressores que, mesmo afirmando amar a parceira, perpetuam o ciclo de violência — tensão, atos de violência e arrependimento. Noutro fragmento, a música reforça que grande parte dos relacionamentos abusivos começam sem demonstrações aparentes de agressividade: “A maldade às vezes ‘cê’ percebe tarde. E tudo começa com beijo”.
Olhos vendados
O videoclipe inicia com uma mulher bastante ferida ligando para a polícia em busca de ajuda. Esfaqueada, ela foge do agressor, mas as pessoas que poderiam ajudá-la estão vendadas, metáfora ao discurso de que “em briga de marido e mulher, ninguém mexe a colher”. Em vários momentos, são mostrados locais da casa com objetos revirados e quebrados, inclusive, um ursinho de pelúcia rasgado, que mostra como a violência atinge toda a família.
Ao fim, uma criança, amedrontada, fica cara a cara com o agressor, mas é protegida pela mãe, e ambas são defendidas por quem já não está vendado, representando que a conscientização e responsabilidade, além de serem obrigação de todos, fazem diferença no combate à violência doméstica, podendo evitar situações extremas, como os feminicídios.
A parceria entre a Tribo da Periferia e o MPDFT foi firmada por meio de edital de chamamento público para a seleção de projetos com o tema prevenção e combate ao feminicídio. A estratégia visa, segundo a promotora de Justiça e coordenadora da Comissão, Fabiana Costa, atingir um público amplo e diverso, em especial a população jovem, promovendo a conscientização para o problema por meio da expressão artística.
Pico histórico
Em 2023, o número de casos registrados de violência contra a mulher no DF atingiu um pico histórico. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) demonstram que 1.463 mulheres foram vítimas de feminicídio no Brasil, ou seja, uma taxa de 1,4 mulheres mortas para cada grupo de 100 mil pessoas. É o maior número já registrado desde a tipificação do feminicídio em lei. De acordo com o MPDFT, a região administrativa com mais ocorrências de violência contra a mulher é Ceilândia, com 3.313 casos.
Nesse cenário, o DF aparece em terceiro lugar com maior número de feminicídios, 2,3 mulheres mortas por 100 mil, atrás somente do Mato Grosso, com uma taxa 2,5 e do Acre, Rondônia e Tocantins, que atingiram a mesma taxa de 2,4 mulheres mortas por 100 mil. Houve um aumento de 78,9% entre 2022 e 2023. O total de mulheres mortas por razões de gênero passou de 19 vítimas, em 2022, para 34 vítimas no ano passado.
A coordenadora institucional do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Juliana Martins, reforçou que a sociedade ainda naturaliza a violência de gênero no país, por isso, as taxas de homicídios dolosos contra elas estão cada vez maiores. “O Fórum infelizmente sempre está trazendo essa má notícia. E é preciso destacar que o feminicídio é um crime evitável, pois, até chegar lá, já ocorreram uma série de outras violências”, afirmou.
Com informações do Correio Braziliense
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