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Banco Central sinaliza fim do ciclo de cortes da taxa básica de juros

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A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) explica a decisão de manter a taxa básica em 10,5% ao ano, aponta preocupação com gastos públicos como motivo

O Banco Central voltou a reforçar a preocupação com o quadro fiscal na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), referente à reunião realizada nos dias 18 e 19 deste mês, divulgada ontem. Na quarta-feira passada o colegiado decidiu, por unanimidade, interromper o ciclo de redução da taxa básica da economia (Selic), iniciado em agosto de 2023.

De acordo com a ata, o Comitê reforçou a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública “têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade”. A projeção da taxa neutra passou de 4,5% para 4,75% ao ano, nível mais próximo das previsões do mercado, que gira em torno de 5%.

“O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, destacou o documento, que apontou a importância de “políticas monetária e fiscal síncronas e contracíclicas” para garantir a estabilidade de preços. A ata elevou as projeções do Banco Central de inflação deste ano para 4%. Para 2025, as projeções do BC e do mercado estão entre e 3,4% e 3,8%, ambas acima do centro da meta, de 3%.

Na avaliação de Carlos Lopes, economista do Banco BV, a ata veio em linha com o comunicado da semana passada, com a ideia de sugerir cautela na condução da política monetária. Ele lembrou que houve duas novidades no texto que, além de elevar a taxa de juros neutra para 4,75%, houve uma revisão do hiato do produto, que é um indicador de produtividade, de negativo para neutro. “Essas duas revisões vão na direção de sugerir cautela e reforçar a perspectiva que já tinha sido colocada ali no comunicado, que é de manter a taxa de juros parada até que se tenha convergência da inflação e das expectativas em direção à meta”, afirmou.

De acordo com José Francisco de Lima Gonçalves, economistachefe do Banco Fator, a ata buscou reforçar o consenso entre os membros do Comitê, “reiterando cada ponto fundamental do regime de metas”, como o papel fundamental das expectativas e de sua ancoragem, da consideração de reformas estruturais, da disciplina fiscal, do aumento de crédito direcionado e das incertezas sobre a estabilização da dívida pública. “O cenário mais provável para isso é a manutenção da Selic em 10,50% até meados de 2025, por conta do deslocamento do horizonte relevante”, destacou.

Na abertura da feira de tecnologia bancária Febraban Tech, o presidente da Federação Brasileira de Bancos, Isaac Sidney, demonstrou otimismo com o mercado de crédito, mesmo com a sinalização do BC mantendo os juros básicos em 10,50% ao ano por um período mais prolongado. Em entrevista a jornalistas, ontem, ele disse que a entidade prevê crescimento em torno de 10% do mercado de crédito neste ano.

“O Banco Central tem feito o seu trabalho de fazer com que nós consigamos manter a inflação na meta”, disse Sidney ao elogiar a condução da política monetária. Ao comentar sobre o fim do ciclo de corte da taxa Selic, o banqueiro disse ser possível que o Copom volte a reduzir os juros, mas como um freio de arrumação. “Não foi uma decisão de encerramento possível, foi uma interrupção para análise dos cenários externo e interno. Esse freio de arrumação, por assim dizer, se mostrou necessário”, afirmou.

Meta e mercados

A meta de inflação de 2024 e dos próximos dois anos é de 3%, com teto limitado em 4,5%, conforme a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN). O colegiado, composto pelos ministros da Fazenda, do Planejamento e do BC se reúne hoje para definir a meta de 2027 e confirmar as atuais. Após a decisão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinará o decreto oficializando a decisão do CMN. Ontem, Lula recebeu o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, para discutir a nova meta. “Cabe ao poder democraticamente eleito estabelecer qual é a meta de inflação para a autoridade monetária, o Banco Central. Ao Banco Central cabe colocar a taxa de juros restritiva o suficiente pelo tempo que for necessário para se atingir a meta que foi estabelecida”, comentou Galípolo em videoconferência realizada pela Warren Consultoria.

Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, opinou que o Copom foi coerente em sua ata. “Penso que a ata está muito aderente ao comunicado, o que é bom, e transmite a ideia de que está havendo interrupção para avaliar o cenário externo e interno para que o Copom fique à vontade para tomar decisões a partir de novos dados”, disse Haddad.

Com informações do Correio Braziliense

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Jornalista

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