Turismo rural cresceu 35% no Distrito Federal após a pandemia da covid-19
De acordo com o RuralTur, a prática cresceu 35% no DF após a pandemia da covid-19. Secretaria de Turismo diz que está trabalhando para estruturar e divulgar cada vez mais as rotas e atrativos, em parceria com os empreendedores locais
Giovana conta que os visitantes ficam encantados com o tratamento dado às cabras da queijaria – (crédito: Arquivo pessoal)
Apesar de ser pouco reconhecido, o turismo rural vem ganhando espaço na capital do país. De acordo com o Sindicato do Turismo Rural e Ecológico do DF e Entorno (RuralTur), a prática cresceu 35% no DF após a pandemia da covid-19. A Secretaria de Turismo (Setur-DF) afirmou que está trabalhando para estruturar e divulgar cada vez mais as rotas e atrativos, em parceria com os empreendedores locais, com foco na qualificação, infraestrutura e inovação.
O Correio ouviu donos de propriedades que abrem as portas para visitantes. Proprietária do Sítio Titara, na divisa do DF com Planaltina de Goiás e Padre Bernardo, Djeini Aparecida Pereira de Carvalho, 53 anos, disse que seu marido, Abimael Nunes de Carvalho, 67, comprou o terreno há 28 anos, já com a visão de implementar o turismo rural. “Muito por ser uma região diferente, com montanhas bonitas, muita água e, além disso, estar próxima a Brasília. Estamos a 48km da Rodoviária do Plano Piloto”, observou.
Segundo Djeini, a ideia só começou a tomar forma em 2013, ano em que o casal se conheceu. “Comecei a fazer queijos, que fizeram tanto sucesso que os clientes passaram a perguntar onde eu os fabricava, pois queriam visitar o local”, revelou. “Com isso, tivemos a ideia de disponibilizar as suítes da nossa casa para alugar. Com o passar do tempo, construímos mais quatro chalés, um bangalô e uma pirâmide de vidro, que é uma acomodação única”, acrescentou a proprietária do sítio
O sucesso foi tão grande que, atualmente, o queijo passou a ser uma atividade secundária. “Faço apenas os queijos mais simples. Onde funcionava a queijaria, tive que improvisar para ser a cozinha para os hóspedes”, comentou. De acordo com Djeini, implantar o turismo rural no sítio fez com que a região passasse a ser mais conhecida. “Além disso, a gente dá emprego para quem mora por perto e costumo comprar produtos de vizinhos, como uma forma de ajudar a crescer a economia local ainda mais”, ressaltou.
Ela acredita que é importante existir opções de turismo rural no DF. “Muitas vezes, a pessoa não consegue ir para regiões mais distantes. Por isso, é importante contar com locais que tenham atrativos parecidos, sem precisar sair da cidade”, avaliou.
Ramo paralelo
Quem também viu uma oportunidade no turismo rural foi a dona da Cabríssima Queijaria Artesanal, Giovana Navarro, 68, localizada em Sobradinho 2. Só que a mudança para o campo e a criação de cabras tiveram início por um motivo de saúde familiar. “Há 35 anos, eu e meu marido (Aurelino de Almeida, 68) compramos a chácara, por causa das condições médicas de uma das nossas filhas e a vida no campo a fez melhorar. Além disso, começamos a criar cabras, pois ela tinha problemas com leite de vaca”, contou.
Segundo Giovana, a queijaria tomou forma há cerca de cinco anos, por causa de uma neta, que também tinha problemas com o leite de vaca. “Como estávamos aposentados, eu e meu marido decidimos tocar, juntos, a queijaria”, disse. A entrada no ramo de turismo rural ganhou força porque, de acordo com ela, o investimento na queijaria e os custos de produção são altos. “Por isso, tivemos que pensar em um ramo paralelo”, argumentou.
A proprietária explicou que os visitantes podem escolher entre dois tipos de serviços. “Temos a visita guiada, que é um passeio pela propriedade, em que a gente fala da história do local, mostrando as belezas naturais, além de comentar sobre a queijaria. É uma experiência completa”, garantiu. “Junto a isso, temos o serviço de alimentação. Os clientes fazem o pedido antes do passeio e, ao terminar, a mesa já está posta para eles se deliciarem, no fim”, contou.
Ela disse que a escolha pode ser feita entre um e outro ou os dois juntos. “Cerca de 90% dos clientes escolhem o combo e ficam encantados em como a chácara é bem cuidada e os animais, bem tratados”, afirmou. Giovana comentou que o DF precisa muito do turismo rural, para valorizar os produtos regionais.
“Antes de participarmos do nosso primeiro concurso, não se tinha nada que chamasse atenção para a produção de queijo local. Agora, estamos elaborando uma rota do queijo, junto à Emater-DF, para que Brasília entre no rol de cidades que estão inclusas nesse cenário”, salientou. “Além disso, o turismo rural proporciona mais lazer, até porque, depois da pandemia, a população passou a procurar mais por programas ao ar livre”, opinou a queijeira.
Alternativa diferenciada
O secretário de Turismo (Setur-DF), Cristiano Araújo, afirmou que a pasta trabalha para estruturar e divulgar cada vez mais essas rotas e atrativos, em parceria com os empreendedores locais, com foco na qualificação, infraestrutura e inovação. “O Distrito Federal não é apenas a capital da arquitetura e da política, mas também um celeiro de experiências, onde tradição e modernidade se encontram”, ressaltou.
Segundo Cristiano, existe uma rica natureza, tanto no centro da capital quanto em seu entorno. “A menos de 50 quilômetros do centro, moradores e visitantes podem desfrutar de diversas propriedades rurais que oferecem hospedagem, gastronomia, enoturismo (com a nossa Rota do Vinho, que inclui as Vinícolas do PAD-DF e a Vinícola Brasília), turismo de aventura e experiências únicas. Não é preciso sair de Brasília para conhecer o melhor do turismo rural”, enfatizou.
Nesse sentido, outro exemplo é a Fazenda Califórnia, perto da Fercal, em Sobradinho. De propriedade de José Bardawil, o local, aberto à visitação, produz uvas dos tipos niágara rosada e vitória.
Fernando Mesquita, presidente do RuralTur, destacou que o crescimento do setor, após a pandemia, contribuiu para que o turismo rural se consolidasse como uma alternativa diferenciada. “Esse crescimento trouxe maior visibilidade e engajamento, especialmente por ser um turismo inteligente, perto de casa e longe da rotina”, observou. “As famílias do DF podem desfrutar dessas experiências únicas, se deslocando em seus próprios automóveis, sem necessidade de voos, conexões ou enfrentar o turismo de massa”, acrescentou.
Na capital, o Ruraltur conta com 30 associados, incluindo hotéis fazenda, pousadas, ecoturismo, turismo pedagógico, enoturismo, pesca esportiva, restaurantes rurais e eventos no espaço rural. Fernando Mesquita ressaltou que o enoturismo tem se destacado, com o DF se posicionando no cenário nacional pela produção de vinhos de alta qualidade. “Além disso, promovemos a cadeia produtiva com cachaças, queijos autorais, cafés gourmet e outros produtos que enriquecem a experiência turística”, lembrou.
Ele enalteceu as ações estratégicas da Secretaria de Turismo — feiras, salão de turismo e exposições — como medidas para fomentar o crescimento da área. “Nesses momentos, apresentamos não apenas o que o DF produz em termos de turismo, mas sua rica cadeia produtiva associada, como cachaças premiadas nacional e internacionalmente, queijos autorais campeões e vinhos de excelente qualidade”, avaliou.
“Apesar de 80% dos produtos consumidos no DF virem de fora, mostramos com orgulho as potencialidades locais”, argumentou Fernando. A ideia, segundo o presidente do RuralTur, é que, no ano que vem, o setor também apresente equipamentos turísticos que trabalhem com terapias alternativas, como yoga, meditação, spas e tratamentos de bem-estar, consolidando o turismo rural também como uma oportunidade de reconexão com o corpo, a alma e o espírito.
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