Omissão de socorro no trânsito: veja o que fazer em acidentes e a importância de ajudar vítimas
Em menos de 1 mês, duas mães do Distrito Federal perderam filhos em acidentes onde motoristas fugiram sem prestar socorro. ‘Prestar socorro pode salvar vidas’, diz diretor do Detran.
Simone Menezes e Maria José do Nascimento são mães que dividem a mesma dor: as duas perderam os filhos em acidentes de trânsito no Distrito Federal. Nos dois casos, as vítimas foram atropeladas e os motoristas fugiram sem prestar socorro (veja histórias abaixo).
Situações como as dos filhos de Simone e Maria podem ser evitadas quando a ajuda é prestada às vítimas. É o que diz o diretor de policiamento e fiscalização de trânsito do Departamento de Trânsito do DF (Detran), Glauber Peixoto.
“Prestar socorro pode salvar vidas”, diz Peixoto.
Ao g1, Glauber Peixoto explicou que, abandonar um local de acidente que tenha vítimas, aumenta automaticamente o risco do socorro demorar o que, consequentemente, reduz a probabilidade de sobrevivência.
Além disso, a conduta configura tanto infração de trânsito como crime de trânsito:
Infração
- Deixar o condutor envolvido em acidente com vítima é considerada infração gravíssima e prevê multa de R$ 1.467,35 e suspensão do direito de dirigir, além do recolhimento da habilitação;
- Deixar de prestar socorro à vítimas de acidente de trânsito quando solicitado pela autoridade e seus agentes é considerada infração grave e prevê multa de R$ 195,23 e cinco pontos na habilitação;
Crime
- Quando há morte de vítimas em acidentes de trânsito, a prática pode ser considerada homicídio culposo (quando não há intenção de matar), que prevê detenção de dois a quatro anos e suspensão ou proibição de se obter habilitação. Caso o condutor fuja do local, a pena pode ser aumentada em 50%.
- Em casos de acidentes que deixam vítimas feridas, o caso pode ser considerado lesão corporal culposa, que prevê pena de detenção de seis meses a dois anos, além da suspensão ou proibição do direito de dirigir. Em casos de fuga, a penalidade pode ser aumentada pela metade.
Como agir em acidentes?
Acidente em Águas Claras, no DF, em imagem de arquivo — Foto: Corpo de Bombeiros do DF/ Reprodução
Glauber Peixoto explica que é importante o condutor entender quando é uma situação de acidente de trânsito com vítimas. Quando há pessoas feridas, há necessidade de fazer perícia criminal da Polícia Civil, portanto, não se pode deixar o local, explica o diretor do Detran-DF.
“Como há necessidade de perícia, pode ser um crime de lesão corporal ou até de homicídio culposo e doloso”, diz Peixoto.
Ele orienta ainda que é necessário preservar o local do acidente, para que os indícios não sejam perdidos. “As equipes de trânsito têm esse papel”, diz.
Segundo o diretor, em caso de acidente, o primeiro passo é fazer contatos com as equipes de socorro, como o Corpo de Bombeiros e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), e observar se ainda há risco de outros acidentes.
“A vítima deve ser mantida no local, exceto se ainda houver outros riscos, como incêndios”, diz.
Além disso, Peixoto afirma que é importante impedir que os “curiosos” se aproximem e mexam no local. Outra orientação é a de que os condutores sinalizem a pista, para que motoristas que venham atrás saibam que houve um acidente e não se aproximem.
“O ideal é usar o triângulo, conforme pede o Código de Trânsito Brasileiro. Se for uma via de 40 km/h, dê 40 passos e sinalize, se for de 60 km/h, dê 60 passos, e assim por diante”, diz.
Glauber reconhece que o momento em que acontece um acidente de trânsito pode gerar estresse e nervosismo para o motorista, no entanto, o ideal é, quando for acionar o socorro, passar o maior número de detalhes possíveis. “É importante falar se há vítimas presas nas ferragens, se postes caíram e se há mais risco de outros acidentes. Com mais informações, o socorro vai chegar mais preparado para solucionar o problema e dar mais segurança para a vítima”.
A dor de quem perde pessoas para o trânsito sem que o socorro seja chamado
Matheus da Silva Rodrigues, de 24 anos, morreu atropelado após sair do trabalho, no DF — Foto: Arquivo pessoal
Maria perdeu o filho Matheus da Silva Rodrigues, de 24 anos, no dia 20 de fevereiro. O jovem saiu do trabalho, no Núcleo Bandeirante, e seguia de bicicleta para Águas Claras, pelo Setor de Mansões Park Way, quando foi atropelado e morto.
De acordo com os parentes, o motorista que atingiu o jovem fugiu sem prestar socorro. A família só descobriu sobre a morte de Matheus no dia seguinte, quando conseguiu ligar para o celular do jovem e ele e soube que ele estava no Hospital de Base.
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Maria José do Nascimento perdeu o filho em um acidente de trânsito, no DF
O atropelamento é investigado pela 21ª Delegacia de Polícia, de Taguatinga Sul, como omissão de socorro. Segundo os policiais o motorista já foi identificado, mas apenas o advogado dele esteve na delegacia para dar informações.
“Você não sabe o que é a dor de uma mãe perder um filho. Meu filho não está mais aqui comigo. Estou dilacerada. Espero que a Justiça dos homens consiga pegar essa pessoa e que essa pessoa pague”, diz a mãe de Matheus.
Uma semana sem notícias do filho.
Menos de um mês antes de Maria perder o filho, Simone descobriu a morte de Matheus Menezes, de 25 anos. O jovem estava desaparecido há uma semana.
No dia 22 de janeiro, a família descobriu que ele, na verdade, tinha morrido após ser atropelado por um carro, no Guará II. Matheus foi atingido pelo veículo no mesmo dia em que desapareceu, mas como estava sem documentos pessoais, não foi reconhecido.
Ele foi atropelado enquanto atravessava uma faixa de pedestres, e chegou a ser socorrido pelo Samu. O motorista fugiu, mas depois foi identificado como sendo Vinícius Souto Farago.
A Polícia Civil indiciou Farago por homicídio doloso e qualificado. Os investigadores constataram que ele estava sob efeito de álcool, depois de ter passado a tarde e parte da noite em um bar.
Simone também pede Justiça para o filho. “Ele não tirou só uma vida, mas arruinou uma família inteira”, diz a mãe.
Leia mais notícias sobre a região no g1 DF.
FONTE: G1-DF
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