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O que se sabe sobre a quadrilha que mirava políticos e juízes

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Quadrilha propunha serviço de espionagem, homicídio e tabela de preços para cometer os crimes. Os cinco presos são ligados à execução do advogado Roberto Zampieri, em 2023 — cuja morte desvendou esquema de venda de sentenças no Judiciário do MT

Polícia Federal (PF) prendeu, ontem, cinco homens por envolvimento no assassinato do advogado Roberto Zampieri, executado com 10 tiros em dezembro de 2023, em Cuiabá. Ele teria sido assassinado por causa de um esquema fraudulento de decisões judiciais em disputas de terras, envolvendo gabinetes de desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT) — que respingaram no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Mas as investigações levaram à descoberta de uma organização criminosa responsável por crimes, como espionagem, homicídios sob encomenda e manipulação de decisões judiciais. Entre os alvos dessa quadrilha estariam o ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Foi Zanin, aliás, que autorizou a operação de ontem — a sétima fase da Operação Sisamnes. As incursões foram realizadas em Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais. Os presos são Aníbal Manoel Laurindo (produtor rural em Rondonópolis [MT], mandante da morte de Zampieri, com quem tinha uma desavença pessoal por conta de uma disputa de terra); o coronel da reserva do Exército Etevaldo Luiz Caçadini de Vargas (financiador do assassinato do advogado); Antônio Gomes da Silva (matador); Hedilerson Fialho Martins Barbosa (intermediador, auxiliar do atirador e dono da pistola 9mm usada no homicídio); e Gilberto Louzada da Silva (cuja participação na quadrilha ainda não está esclarecida). As funções de cada um no bando foram atribuídas pela Polícia Civil de Mato Grosso, ao indiciá-los em 2024.

O grupo atuava em múltiplos crimes e se autodenominava Comando C4 — sigla para Comando de Caça Comunistas, Corruptos e Criminosos. A quadrilha oferecia os serviços de espionagem e assassinato de autoridades. Por exemplo: a morte de um ministro custaria R$ 250 mil; a de senadores, R$ 150 mil; e deputados federais, R$ 100 mil.

Ao saber que seria um dos alvos do bando, Rodrigo Pacheco emitiu a seguinte nota: “Externo meu repúdio em razão da gravidade que representa à democracia a intimidação a autoridades no Brasil, com a descoberta de um grupo criminoso, conforme investigação da Polícia Federal, que espiona, ameaça e constrange, como se o país fosse uma terra sem leis. Que as autoridades competentes façam prevalecer a lei, a ordem e a competente investigação sobre esse fato estarrecedor trazido à luz.” O ministro Zanin, que supostamente também estaria na mira da quadrilha, não se manifestou.

Por meio de nota, a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) afirmou que “são gravíssimos os recentes relatos sobre grupos criminosos que planejam investigar e até assassinar ministros da Suprema Corte, membros do Judiciário e outras autoridades, representando ameaça direta à integridade dessas pessoas e à estabilidade democrática. Soma-se a isso a pressão ilegítima e inaceitável de autoridades diplomáticas contra o ministro Alexandre de Moraes, configurando um atentado à soberania nacional e à autonomia dos Poderes da República.”

Fio da meada

A investigação da PF, conduzida em parceria com a Polícia Civil de Mato Grosso, apontou que a motivação para o assassinato de Zamperi foi uma disputa judicial envolvendo duas fazendas, avaliadas em cerca de R$ 100 milhões, localizadas no município de Paranatinga (MT). A derrota no processo teria levado Aníbal Manoel Laurindo a planejar a execução do advogado, por conta da suspeita da conexão que ele tinha com desembargadores do TJ-MT — cujas decisões lhe tinham sido favoráveis.

Zamperi, então com 57 anos, foi executado com 10 tiros em frente ao próprio escritório, no bairro Bosque da Saúde, em Cuiabá. Ele havia acabado de entrar no carro quando foi surpreendido por um homem, usando boina e bengala, que descarregou contra ele, à queima-roupa, o pente da pistola 9mm. O suposto matador, Antônio Gomes da Silva, confessou que receberia R$ 40 mil pelo assassinato e disse que pretendia matar o advogado em outro local, mas não conseguiu isolar a vítima. Uma câmera de segurança flagrou todo o crime.

A morte de Zampieri levou à descoberta de uma rede criminosa que ia além do assassinato de desafeto. Porém, o celular do advogado continha registros de negociações com nomes de magistrados e assessores, o que levou à abertura de novos inquéritos, mantidos em segredo de Justiça.

A defesa de Caçadini afirmou que nada há contra seu cliente. Já os advogados de Laurindo e Hedilerson afirmaram que só se manifestariam depois de terem acesso aos autos do processo.

Quem são os cinco

O fazendeiro Aníbal Laurindo, mandante da morte do advogado Roberto Zamperi, foi preso temporariamente em março, mas acabou liberado mediante o uso de tornozeleira eletrônica e outras medidas cautelares. A polícia apurou que ele e a mulher trocaram de celular antes do cumprimento do mandado de busca, em abril.

O intermediário do assassinato de Zampieri é o coronel reformado Etevaldo Caçadini. Teria feito o pagamento inicial de R$ 20 mil ao executor. O militar do Exército nega envolvimento no crime, embora tenha sido descoberta uma imagem do endereço do advogado em seu telefone.

O atirador é Antônio Gomes e confessou ter matado Zampieri.

Hedilerson Fialho é instrutor de tiro e o dono da pistola 9mm usada no assassinato. Também partiu dele a escolha de Antônio para executar o advogado.

Gilberto Louzada, que também está preso, está sendo investigado para que se determine sua função no bando. Os cinco foram indiciados por homicídio duplamente qualificado, associação criminosa, emboscada e assassinato sem possibilidade de defesa da vítima.

A tabela de crimes (acima na reportagem) foi encontrada pela PF na operação de ontem e, inclusive, discrimina os alvos por meio de valores. (Colaborou Fabio Grecchi)

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Jeová Rodrigues

Jornalista

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