Sexta-feira Santa: brasilienses substituem peixes mais caros por opções que cabem no bolso
A tradição de comer peixe e deixar outros tipos de carne fora do cardápio na Semana Santa é um ato de respeito ao sofrimento de Jesus. O hábito alimentar, porém, não é exclusivo dos católicos. Em Brasília, é destaque o ano inteiro entre toda a população. Enquanto o brasileiro consome 9 kg de peixe por ano, o brasiliense atinge a marca de 14 kg, segundo informações da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF). Na Semana Santa, o consumo é o maior.
Em feiras do Distrito Federal, peixarias registram alta no volume de vendas durante o feriado. Neste ano, os consumidores preferiram substituir peixes nobres, como o bacalhau, por outros mais baratos, mas não deixaram o prato principal de fora da comemoração mais famosa do mês de março.
“Está todo mundo com medo de gastar”, afirma o dono da Peixaria Pantanal, Cleiton Ferreira, 42. O estabelecimento, localizado na Feira do Produtor de Vicente Pires, registra pico de vendas na Semana Santa. O bacalhau, no entanto, não entrou na sacola de compras em 2018. O preço do pescado está mais alto neste ano. “Bacalhau tem saído muito pouco. É caro para nós e para quem compra. O cliente que levava o robalo a R$ 58 o quilo, neste ano compra a dourada a R$ 36”, exemplifica. “No domingo de Páscoa, somente, é que o pessoal vem atrás de bacalhau, porque a tradição fala mais alto”, completa. O quilo custa por volta de R$ 70.
Lucro
Para o dono da Peixaria do Guará Gustavo Oliveira, 35, o volume de vendas e, consequentemente, o lucro, superarão em 20% o cenário do ano passado. “Já observamos aumento nas vendas, mas por outro lado temos despesas adicionais com funcionários e fornecedores em 2018”. Os peixes mais pedidos neste ano são robalo (R$ 49 o quilo), pescada amarela (R$ 32) e surubim (R$ 29), segundo ele.
O advogado Jonas Alves de Oliveira, 69, acordou cedo para ir à Feira do Guará ontem. Saiu de lá com três quilos de sardinha. “Um peixe barato, mas saboroso e nutritivo”, destaca. “Compro sempre na mesma peixaria há anos. Em 2018, percebi uma pequena variação de preço. Ainda assim, vale a pena porque é Semana Santa”, admite. “Minha mulher é especialista em peixe. O almoço vai ser excelente. A sardinha vai com arroz e salada de tomate. Vinho para acompanhar. Mas, antes de tudo isso, uma oração, é claro”, descreve.
Cliente observa alta nos preços
Na manhã de ontem, o fluxo de pessoas nos corredores da Feira do Guará era intenso. Por volta das 10h, consumidores disputavam peixes inteiros, filés e postas para garantir o protagonista do almoço de hoje. Para organizar a bagunça, peixarias colocaram os caixas longe dos balcões.
Ensopados, na brasa, ao molho de camarão — os peixes e as preparações que os clientes tinham em mente eram variados. O casal Mauro e Ângela Riera, ambos com 67 anos, ele arquiteto e ela funcionária pública, saiu da feira com cinco quilos de pescados. Na sacola, tinham pescada amarela, tilápia e carne de caranguejo. “O preço está muito mais alto do que no ano passado. Em comparação com cidades do litoral, a diferença é ainda menor. Dá vontade de viajar só para comprar peixe”, brinca Ângela Riera.
O médico André Martins, 28, garantiu quatro quilos de pescada amarela, que será preparada ao molho de camarão. A família inteira degustará do prato durante o feriado. Ir à Feira do Guará nesta época do ano é sagrado para o médico. “É uma feira antiga e tem preços muito bons”, avalia. O simbolismo da data vem de berço. “Não comer carne é questão de educação, faz parte da religião que seguimos. O aprendizado que adquirimos é interessante e eu respeito muito o costume”, explica.
Serviço:
Feira do Guará:
Peixaria do Guará
– Funciona hoje e amanhã, das 7h às 18h
– Fecha no domingo
Peixaria Ueda
– Funciona hoje, das 7h às 15h
– No sábado e no domingo, funciona das 7h às 14h
Feira de Vicente Pires
Peixaria Pantanal
– Funciona hoje, das 7h às 14h
– No sábado e domingo, funciona das 7h às 17h