Um mês de dores e muita luta no Rio Grande do Sul
Desde 29 de abril, com a subida das águas e o início da destruição, país se uniu pela ajuda e pela recuperação do estado. Mas cálculo das perdas ainda é subestimado
A tragédia do Rio Grande do Sul está completa mês e potencializa o trauma de um estado que nem sequer tinha se recuperado das cheias de setembro de 2023. Apesar do investimento maciço feito pelo governo federal — que inclui pacotes e ajuda financeira e liberação de crédito ao estado, aos municípios e aos setores da economia, além da inclusão de um percentual expressivo da população em programas de benefícios — para amenizar o drama, os cálculos das perdas e o gasto da reconstrução ainda é considerado subestimado.
Quando o governador Eduardo Leite, em 4 de maio, disse que o Rio Grande do Sul precisaria de um Plano Marshall — a ajuda financeira que os Estados Unidos deram aos países do oeste europeu, após a II Guerra Mundial, e que atualmente equivaleria a US$ 132 bilhões —, já ali não parecia exagero. Cálculos de fontes do governo gaúcho estimam que será preciso investir algo em torno de R$ 200 bilhões para levantar o estado. Mas somente à medida que as águas forem baixando é que esse custo poderá ser avaliado com maior precisão.
Atividade paralisada
A chuva forte começou em 27 de abril, mas somente no dia 29 é que se percebeu que tratava-se de um fenômeno até então inédito — tal a violência da precipitação pluviométrica. As principais áreas afetadas são o lago Guaíba, em Porto Alegre, a Lagoa dos Patos, em Pelotas e Rio Grande, além dos vales dos rios Taquari, Caí, Pardo, Jacuí, Sinos, Gravataí. Os níveis das águas subiram rapidamente — e tudo que estava no caminho do transbordamento foi levado junto.
Apenas na economia, cálculo conjunto das áreas técnicas da Federasul (Federação de Entidades Empresariais), do Sistema Fecomércio-RS, da Farsul (Federação da Agricultura), da Federasul (Federação de Entidades Empresariais), da Fiergs (Federação das Indústrias) e da Câmara dos Diretores Lojistas (CDL) de Porto Alegre avalia que as perdas de atividades no estado somam R$ 40 bilhões — por baixo. Os prejuízos patrimoniais estão em aproximadamente R$ 10 bilhões e afetam cerca de 66 mil estabelecimentos dos setores de comércio, serviços e indústria. Além disso, a projeção de perdas das entidades é de R$ 5 bilhões em ativos — estoques, máquinas e equipamentos, por exemplo. (Veja este e outros dados no infográfico ao lado).
Arrecadação
A arrecadação de ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) também foi severamente afetada pela tragédia. De acordo com o Boletim Econômico-Tributário do Governo do Rio Grande do Sul, 44 mil estabelecimentos estão nas áreas inundadas — o equivalente a 16% dos 278 mil estabelecimentos em todo o estado. E isso já pode ser percebido: a previsão inicial de arrecadação do tributo, para o período de 1º e 23 de maio, era de R$ 3,02 bilhões, mas entraram nos cofres gaúchos R$ 2,34 bilhões.
Por conta disso, os municípios só veem a cota da devastação aumentar. Segundo o último balanço dos prejuízos feto pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM), as perdas estão avaliadas parcialmente em R$ 11 bilhões. A entidade ainda calcula um rombo de R$ 4,6 bilhões no setor habitacional, com mais quase 110 mil casas abaladas, 100 mil danificadas e 9,2 mil destruídas.
Segundo a CNM, os equipamentos públicos — como calçamento, asfaltamento de ruas e avenidas, viadutos e sistema de drenagem urbana — destruídos em todo o estado somam R$ 1,7 bilhão em prejuízos. Já os danos materiais (escolas, hospitais, prédios de serviços públicos e instalações de uso comunitário) estão orçados, por ora, em R$ 431,2 milhões. A destruição do sistema de transporte está avaliada em R$ 106,8 milhões.
Principal setor da economia gaúcha, a agricultura estima R$ 3,1 bilhões em perdas. A pecuária, por sua vez, orçou o prejuízo em R$ 272,4 milhões, enquanto que indústria, comércios locais e serviços amargam um vermelho de R$ 486,5 milhões.
Micro e pequenas empresas receberam linha de crédito de R$ 30 bilhões pelo Fundo Garantidor de Crédito. Para a agricultura familiar e os médios produtores foi aberto um aval de R$ 4 bilhões. Além disso, o governo federal determinou a postergação do pagamento da dívida do estado e a suspensão de juros por três anos.
Bancos públicos — Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Caixa, Banco do Brasil e Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) — suspenderam por 12 meses o pagamento de financiamentos.
Ação voluntária
A tragédia gaúcha mobilizou todo o país e, em um primeiro momento, voluntários dos quatro cantos do Brasil deram sua contribuição para amenizar o drama da população. Afinal, cerca de 83 mil pessoas foram afetadas e 14 mil animais resgatados das áreas mais atingidas. Ao território gaúcho chegaram aproximadamente 7,7 mil toneladas de doações. Meia centena de aeronaves foi mobilizada e as operações de resgate e de restabelecimento de serviços consumiram mais de 2,4 mil horas de voo.
O governo federal incluiu 21,7 mil famílias no programa Bolsa Família — um desembolso de R$ 16 milhões. O primeiro lote do auxílio reconstrução destinou R$ 174 milhões para 34.196 famílias. Mais de 6,6 mil trabalhadores afetados pelas cheias receberam duas parcelas extras do seguro-desemprego — um investimento de R$ 11 milhões.
A liberação do saque calamidade do FGTS beneficiou 228,5 mil trabalhadores, em 368 municípios. Doze hospitais de campanha foram instalados e atendem aproximadamente 14 mil pessoas — a Força Nacional de Saúde realizou mais de 6 mil atendimentos emergenciais. Também foram distribuídos 8 milhões em medicamentos e insumos.
Já o programa Minha Casa Minha Vida suspendeu o pagamento de financiamento para 17,4 mil famílias por até seis meses.
Com informações do Correio Braziliense
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