Trânsito mata mais que armas de fogo em 13 estados e no DF
O trânsito no Brasil, que muitas vezes não é visto como uma fonte de perigo comparável à violência armada, é responsável por milhares de mortes a cada ano. Em 2022, o Brasil registrou 34.892 mil óbitos por sinistros no trânsito e 33.580 mil mortes em decorrência de homicídios por arma de fogo. Ou seja, os sinistros de trânsito mataram mais do que homicídios por armas de fogo em 13 estados e no Distrito Federal, conforme aponta o cruzamento de dados realizado pela Associação Brasileira de Medicina do Tráfego do Rio Grande do Sul (Abramet/RS) com base nas informações do Atlas da Violência 2024, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
No comparativo dos últimos 10 anos, entre 2012 e 2022, mostra o estudo, São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás ocupam os primeiros cinco lugares no ranking da lista. São Paulo continua liderando as estatísticas. Apenas em 2022, foram 5.049 mortes no trânsito contra 1.760 homicídios. Minas Gerais aparece em segundo lugar com 3.150 mortes no trânsito e 1.767 homicídios. Em seguida, o Paraná registrou 2.736 óbitos por sinistros no trânsito contra 1.858 assassinatos. No quarto lugar do ranking, o Rio Grande do Sul aparece com 1.806 vítimas no trânsito e 1.477 homicídios. E, na quinta posição, Goiás teve 1.716 mortes no asfalto frente à 1.082 assassinatos por armas de fogo. O Distrito Federal aparece na 13ª posição com 337 mortes no trânsito contra 206 homicídios por arma de fogo.
Para o presidente da Abramet/RS, Ricardo Hegele, especialista em Medicina do Tráfego, os números revelam uma das maiores causas mortes que destrói famílias brasileiras.
“Nenhuma forma de morte trágica é tolerável e, por isto, não podemos banalizar o mal que esta estatística nos apresenta. Não se trata de números e, sim, de vidas humanas destruídas pela falta de medidas eficazes para conter essa violência no trânsito que mata mais que as armas de fogo”.
Segundo Ricardo, a solução é criar um modelo de gestão eficiente nas três esferas de governo (municipal, estadual e federal) para evitar sinistros de trânsito que podem ser evitados.
Muitos especialistas concordam que, para aumentar a segurança viária, é preciso investimentos em fiscalização, engenharia de tráfego e em campanhas de educação. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as mortes no trânsito não são “acidentes” aleatórios e isolados, de consequências tristes, mas uma crise de saúde pública mundial. O número global de mortes, segundo a OMS, já teria chegado a 1,24 milhão por ano e a estimativa é de que alcance 1,9 milhão em 2030 caso nada seja feito para reverter a tendência atual. Se tais estatísticas como essas fossem devidas a micróbios, vírus ou alguma nova doença que ameaçasse a humanidade, seria uma notícia de grande repercussão e todos se mobilizariam para conter o avanço.
Os demais estados onde as mortes no trânsito superaram os homicídios no ano de 2022, foram: Santa Catarina, Maranhão, Mato Grosso, Piauí, Mato Grosso do Sul, Tocantis, Rondônia e Roraima (confira os números na tabela abaixo).
Redução de mortes no Brasil e no DF
No período de dez anos avaliado no estudo, houve queda tanto das mortes no trânsito quanto por arma de fogo. Em 2022, o Brasil registrou 34.892 mil óbitos por sinistros no trânsito e 33.580 mil mortes em decorrência de homicídios por arma de fogo. No comparativo com 2012, 46.681 pessoas morreram nas vias e estradas do país e outras 40.648 por arma de fogo. No entanto, mais pessoas continuam morrendo no trânsito do que sendo assassinadas por armas de fogo.
As estatísticas são contundentes e revelam que o trânsito no Brasil ainda é responsável por milhares de mortes evitáveis a cada ano, e mudar esse cenário depende de uma combinação de políticas públicas eficazes, fiscalização rigorosa e, principalmente, uma mudança na mentalidade dos motoristas.
Para o chefe do Comando de Policiamento de Trânsito da Polícia Militar do DF (CPTran), coronel, Edvã Sousa, no Distrito Federal, o maior objetivo da corporação é preservar vidas seja no trânsito ou no combate ao crime. De acordo com o oficial, apesar de os números de mortes no trânsito estarem caindo na capital federal, não há o que se comemorar. “Nunca existirá uma meta aceitável enquanto houver uma vida sendo ceifada. Tanto a Polícia Militar como qualquer outro órgão da segurança pública, que são todos parceiros nessa missão, vão trabalhar juntos para proteger a sociedade”.
Segundo ele, em 2014, 406 pessoas perderam a vida nas vias e rodovias que cortam a capital federal. Em 2023, houve uma redução, quando 259 brasilienses morreram no trânsito. Para explicar a redução de sinistros fatais, o militar destaca o respeito à faixa de pedestre, a engenharia mais eficiente na construção de vias e rodovias, investimentos em fiscalização, no atendimento de socorro nas ocorrências e nos hospitais. Mas ele destaca o papel importante da população para reduzir ainda mais as estatísticas.
“O dever é do Estado, mas a participação da sociedade é importantíssima. O brasiliense já exportou o respeito à faixa de pedestre e, por isso, já demonstrou que sabe absorver mudanças. Mas é preciso continuar avançando e evitar dirigir depois de beber, parar de teclar o celular quando estiver ao volante e, mais importante, não divulgar o ponto de bloqueio da polícia nos aplicativos de localização. As blitze sendo reveladas, não conseguimos flagrar sequestro ou recuperar um carro furtado. E, pior, não podemos parar um bêbado ao volante ou apreender armas de fogo que, lá na frente, podem tirar a vida de outra pessoa. A população precisa se conscientizar para, juntos, preservamos vidas”.
Armas de fogo
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do DF, a capital federal registrou recentemente o menor número de homicídios em 25 anos. A quantidade de casos de homicídios no semestre é a menor desde 2000, com 17% de redução. Foram 96 registros, entre janeiro e junho deste ano, contra 116 no mesmo período do ano passado. É a primeira vez na história da capital, segundo o órgão, que os números deste crime chegam a “dois dígitos” no semestre.
Dados do 18° Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado no último mês de julho, reforçam a redução nas mortes violentas intencionais, seguindo a tendência nacional. Em 2023, foram registrados 266 homicídios dolosos contra 279 contabilizados em 2022.
Para o coronel Weslley Santos, chefe do Departamento de Operações da PMDF, o motivo da redução é o envolvimento direto de grupos táticos e unidades especializadas, maior ostensividade e a integração entre o Detran-DF, DER-DF, PRF-DF, Polícia Civil, CBMDF e outros órgãos do GDF. Responsável pela Operação Quinto Mandamento (“não matarás”), a PMDF coordena a ação conjunta em dias específicos, baseando-se na análise de dados estatísticos, com o propósito de coibir práticas criminosas e desordens urbanas, elevando assim a sensação de segurança.
“Há um trabalho muito eficiente de inteligência que mapeia os locais onde regularmente ocorrem mais crimes. Sabemos também que 40% dos homicídios acontecem entre a noite de sexta-feira e a madrugada de segunda-feira”.
Como resultado, no último final de semana, a PMDF estabeleceu um novo recorde de apreensão de arma de fogo. Os policiais retiraram de circulação 25 armas de fogo e três simulacros.
Das 4.620 vítimas de armas de fogo no Distrito Federal entre 2012 e 2022, segundo o Atlas da Violência, 66,3% dos assassinatos foram causados por pistolas, espingardas e outros tipos de armamentos.
Número de mortes no trânsito + mortes por armas de fogo (2022)
1 – São Paulo
- 5.049 + 1760
2 – MG
- 3150 + 1767
3 – Paraná
- 2736 + 1858
4 – RS
- 1806 + 1477
5 – Goiás
- 1716 + 1082
6 – SC
- 1443 + 347
7 – MA
- 1408 + 1352
8 – MT
- 1177 + 692
9 – Piauí
- 872 + 609
10 – MS
- 658 + 287
11 – TO
- 559 + 260
12 – RO
- 499 + 395
13 – DF
- 337 + 203
14 – Roraima
- 166 + 106
Com informações do Jornal de Brasília
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