Polícia Civil vai esclarecer abordagem em blitz após morte em tentativa de fuga
Motorista de BMW 350i fura blitz no Eixo Monumental, Polícia Militar reage a tiros e atinge passageiro de 24 anos que morreu no local. Às 10h desta segunda-feira, a Polícia Civil fará uma coletiva de imprensa com detalhes do caso
Carro usado por motorista que fugiu de blitz no Eixo Monumental ficou com pelo menos cinco marcas de tiro e aguarda perícia – (crédito: Material cedido ao Correio)
Um jovem de 24 anos morreu após uma tentativa de fuga de blitz no Eixo Monumental. Islan da Cruz Nogueira era passageiro em uma BMW 350i branca, que fugiu da Operação Álcool Zero, na madrugada desse domingo, no Eixo Monumental, perto do Complexo Brasil 21. Policiais militares deram ordem de parada, mas o condutor, Raimundo Cleofás Alves Aristides Júnior, 41, desobedeceu e acelerou em alta velocidade atropelando um PM.
Após a tentativa de fuga, agentes de segurança dispararam contra o veículo, atingindo Islan, morador de São Sebastião. Ele morreu no local, antes da chegada do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
Segundo a corporação, a fiscalização era feita em três pontos de contenção na DF-010, perto das saídas de um bar movimentado na região.
O Correio teve acesso a fotos de como ficou o automóvel, que está localizado no estacionamento do Complexo da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) para realização de perícia. O veículo tinha cinco marcas de tiro nos vidros traseiro e dianteiro, capô e porta.
Raimundo Cleofás trabalha como engenheiro civil e tem uma empresa no Morro da Cruz. De acordo com a Polícia Militar do DF, a perseguição policial ocorreu porque o motorista estava com evidentes sinais de embriaguez. Após a morte do jovem, o corpo foi encaminhado à sede do Instituto de Medicina Legal (IML), da PCDF, onde chegou por volta das 3h desse domingo. O Correio também apurou que o rapaz teve traumatismo craniano.
Durante a operação, o veículo de Raimundo Cleofás teria saído da fila para fiscalização e acelerado, atropelando um policial militar. Nesse momento os agentes de segurança efetuaram os primeiros disparos em direção aos pneus. Chegando no próximo ponto de contenção, logo à frente, novos tiros. A PMDF afirma que o condutor desobedeceu às ordens emitidas pelos policiais, o que teria dado início à perseguição, até o momento em que o condutor parou, saiu do carro e deitou-se no chão, na via S1, perto da Esplanada dos Ministérios.
Procedimento instaurado
Em nota, a PMDF assegura que, além dos sinais de embriaguez, o condutor recusou-se a fazer o teste de alcoolemia. “Foi emitido um auto de constatação, e o motorista foi conduzido à 5ª Delegacia de Polícia (Área Central), onde foi autuado por embriaguez ao volante e tentativa de homicídio contra um agente de segurança”, diz um trecho. O policial atropelado foi levado ao Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), onde recebeu atendimento médico e foi liberado ainda durante a madrugada.
Para explicar todas as circunstâncias que envolvem o caso, a perícia militar afirma que foi instaurado procedimento apuratório pelo Departamento de Controle e Correição (DCC). Às 10h desta segunda-feira, haverá uma coletiva de imprensa na 5ª DP para explicar detalhes do caso, que foi registrado como tentativa de homicídio, resistência, embriaguez ao volante e morte por intervenção de agente do Estado.
O vice-Presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, Cidadania, Ética e Decoro Parlamentar (CDDHCEDP), na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), Ricardo Vale, acredita que a Corregedoria da Polícia Militar do DF precisa apurar esse caso com muita atenção e verificar se os disparos e o procedimento dos policiais foram adequados e proporcionais na abordagem.
“Na CLDF, a Comissão de Direitos Humanos deverá acompanhar esse caso e, nesta segunda-feira, vou conversar com os demais membros e sugerir o acompanhamento. Afinal, as forças de segurança são as titulares do monopólio da violência legítima do Estado e erros precisam de responsabilização”, declara o parlamentar.
Alcoolemia e direção
Doutor em transportes na Universidade Católica de Brasília (UCB), Edson Benício destaca que, no Brasil, as tentativas de fugas de blitzes não são comuns. “De forma geral, o brasileiro respeita as autoridades. A gente vê que o motorista atende os comandos quando é solicitado, mostrando a documentação do veículo e a pessoal. Mas o que aconteceu (no Eixo Monumental) foi uma exceção”, avalia.
O estudioso elenca alguns maus hábitos dos condutores que preocupam, como agressões verbais, excesso de velocidade e ingestão de bebida alcoólica antes de dirigir. “Isso é uma questão de educação no trânsito, sinalizar para os motoristas que existem penalidades e têm consequências na vida das pessoas. Com relação a evadir de uma blitz, é uma infração gravíssima em que o motorista foi muito infeliz e acabou em uma tragédia”, complementa Edson.
O consumo de álcool é o principal causador de tragédias no trânsito do Distrito Federal. Somente nos quatro primeiros meses de 2023, 7.036 pessoas foram flagradas dirigindo sob efeito de álcool. Entre 2021 e 2022, o número de motoristas flagrados dirigindo alcoolizados na capital do país aumentou 22%.
Com informações do Correio Braziliense
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