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Movimento negro representava uma afronta à ideologia racial da ditadura militar, apontam documentos

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Segundo relatórios do Serviço Nacional de Informações (SNI), o movimento negro buscava semear o antagonismo racial, manchar a imagem do país no exterior e ameaçava a ordem social

Protesto contra a ditadura militar
Protesto contra a ditadura militar (Foto: Wikimedia Commons)

ApDurante o período de regime militar que assolou o Brasil por mais de duas décadas, o Serviço Nacional de Informações (SNI), que operou como um aparato poderoso de espionagem, monitorava de perto os movimentos sociais, políticos e culturais do país. Recentemente, documentos analisados pela Folha de S. Paulo revelaram que entre os alvos dessa vigilância estavam os movimentos negros organizados. O ativismo negro, que ressurgia com força naquele período, representava uma ameaça à ideologia racial propagada pelo regime. Enquanto os militares vendiam a imagem do Brasil como um país harmonioso, onde todos conviviam pacificamente em uma democracia racial, o ativismo negro era encarado como um desafio a essa narrativa oficial.

Os documentos do SNI demonstram que os militares viam o movimento negro como discriminatório e potencialmente perigoso para a ordem social estabelecida. Sob o pretexto de combater a “luta racial”, os agentes da repressão monitoravam de perto ativistas e intelectuais negros, como a renomada historiadora Beatriz Nascimento.

Além disso, havia uma preocupação constante de que o ativismo negro brasileiro estivesse sendo influenciado por movimentos semelhantes nos Estados Unidos e por organizações de inspiração comunista. “Vários são os dados mostrando que elementos de formação marxista estão, por intermédio da exploração do problema, incitando a luta de classes e fazendo apologia do regime socialista”, diz um dos documentos produzidos pelo SNI.

Os relatórios do SNI sugeriam uma conexão entre o movimento negro brasileiro e uma suposta campanha difamatória contra o país, promovida por ativistas dos Estados Unidos. O relacionamento entre os ativistas brasileiros e os movimentos de independência na África também era objeto de vigilância por parte dos militares, especialmente em um contexto de luta contra o apartheid na África do Sul.

As reportagens na imprensa que abordavam questões raciais pareciam incomodar profundamente os agentes do SNI, que viam nelas uma potencial ameaça à estabilidade social, “estimulando o surgimento de uma dicotomia racial no Brasil”. O monitoramento da mídia, incluindo programas de televisão como o Fantástico, da TV Globo, era parte integrante das operações de inteligência do regime.

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Jornalista

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