CPI: Empresário nega ter financiado trio elétrico usado em manifestações no QG do Exército
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos atos antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) realizou oitiva na manhã desta quinta-feira (04) para ouvir o empresário Adauto Lúcio Mesquita. O comerciante está sendo investigado pela Polícia Civil como suspeito de ser o financiador ou arrecadador de recursos destinados ao pagamento do trio elétrico Coyote, utilizado durante manifestações no acampamento em frente ao Quartel General (QG) do Exército. Questionado diversas vezes sobre a suposta participação, ele negou ter doado ou amealhado dinheiro.
O presidente da CPI, deputado Chico Vigilante (PT), foi o primeiro a inquirir o depoente e perguntou sobre ele ter financiado a contratação do trio elétrico Coyote. O comerciante negou. “Não contratei o trio elétrico”, disse o empresário. Na sequência, o presidente da CPI pediu a exibição de vídeos onde ele aparece recebendo o equipamento. “Pegando aqui agora o Coyote. Olha o tamanho do trio elétrico. É o maior de Brasília”, diz Adauto no vídeo que gravou e divulgou em suas redes sociais.
O deputado petista garantiu que tem documentos sobre a contratação do equipamento. “Esse trio foi contratado por R$30 mil. Temos a listagem de quem contribuiu. O senhor é o arrecadador”, sentenciou Vigilante. Adauto continuou negando ter contribuído financeiramente e disse que apenas ajudou na negociação para baixar o preço. “Eles estavam negociando e eu falei para fazer um preço melhor. Sou o comprador na minha empresa, sei pechinchar. Tenho habilidade para negociar. Não paguei um centavo do Coyote. Ajudei, pagaram e ponto. Minha participação foi essa”, afirmou Adauto.
A deputada Jaqueline Silva (sem partido) mais uma vez questionou o empresário sobre a participação que ele teve quanto à contratação e financiamento do trio elétrico. “O senhor não teria feito nenhum aporte financeiro para o pagamento do trio, mas de alguma forma auxiliou nesse acordo”, perguntou a deputada. “Certo. Não paguei nada”, reiterou Adauto.
Sobre a contratação de outdoors no DF durante a campanha presidencial, Vigilante também indagou ao depoente. “Quanto o senhor gastou com os outdoors que foram espalhados na cidade”, inquiriu o parlamentar. “Eu não gastei nada”, afirmou Adauto. “Mas o inquérito está apontando que foi o senhor quem contratou”, insistiu Chico. “O inquérito, né. É uma investigação. Sei que a polícia é competente e vai chegar em um veredito e ver que eu não contratei nenhum outdoor. Não vai chegar em mim. Tenho plena certeza de que não vai chegar”, declarou o comerciante.
Doações
Logo no início do depoimento, Adauto admitiu que realizou doação de dez mil reais para a campanha de reeleição do ex-presidente Bolsonaro. Além disso, fez o que chamou de pequenas doações para pessoas do acampamento em frente ao QG.
Foi prontamente questionado pelo presidente da CPI: “Eu tenho aqui documentos de depoimento para a Polícia Civil, mostrando que não foram só R$ 100 reais não. Tem muito dinheiro aqui. O senhor foi um dos coordenadores da arrecadação [para o acampamento]. Nós temos provas”, disse Vigilante. O depoente negou. “Não. Como é um inquérito, ainda está em andamento e no momento certo isso vai ser provado que não procede”, afiançou o empresário.
O assunto foi retomado em outro momento da reunião. O deputado Joaquim Roriz Neto (PL) questionou sobre a relevância da doação de campanha feita pelo empresário. “É ilegal fazer doação de campanha?”, perguntou. O depoente respondeu: “Pelo que eu saiba não”. Em seguida o deputado liberal completou: “Então por que isso é um fator? O que tem a ver ter contribuído ou não na campanha do Bolsonaro. O senhor está sendo condenado por ter contribuído”, exclamou Roriz Neto.
Arrependimento
Questionado por Chico Vigilante, o comerciante admitiu que se arrepende de ter participado do movimento. “Se eu imaginasse que teria chegado a esse ponto, dessa exposição e desse sofrimento, eu realmente não teria ido. Não teria participado. Eu me arrependo, sim”, afirmou Adauto.
Em contrapartida, ao final do depoimento, a deputada Paula Belmonte (Cidadania) retomou o assunto e defendeu o direito à manifestação. “Causa muita tristeza quando o senhor fala que se arrependeu de participar das manifestações. Não podemos deixar nossa população com medo de se manifestar. Não é proibido se manifestar”, declarou Belmonte.
Acampamento
Perguntado sobre sua participação no acampamento, o depoente disse que apenas foi ao acampamento poucas vezes e que o local tinha a organização e proteção do exército. “Das vezes que eu fui lá, presenciei militares andando por todo o QG, organizando o estacionamento. Ali estava sendo cuidado, controlado e protegido pelo exército. A prova disso é que no dia 7 à noite a polícia militar foi lá para prender as pessoas e o exército não permitiu”, assegurou Adauto.
O deputado Hermeto (MBD) afirmou que o exército tem responsabilidade no acampamento. “O exército estimulou aquele acampamento e estimulou o quebra-quebra. O exército tinha que ter tirado aquilo ali. E mesmo depois do dia primeiro [de janeiro], quando assumiu um novo governo, o primeiro ato era arrancar tudo aquilo. O maior culpado é o exército que se omitiu”, declarou o relator da CPI.
“Parece que a gente está confundindo as coisas. A manifestação pacífica é garantida pela Constituição e passamos quase a primeira hora tentando criar um confessionário. Você pagou, arquitetou, convocou… Mas nada disso ainda foi comprovado e as pessoas são inocentes até provadas culpadas. Essa CPI precisa ser imparcial, não estamos aqui para fazer pré-julgamentos. Estamos aqui para descobrir fatos”, asseverou o deputado Roriz Neto.
Por sua vez, o deputado Thiago Manzoni (PL) defendeu que não há relação entre o acampamento no QG e a depredação dos prédios feita no dia 8 de janeiro. “Estamos partindo de uma premissa equivocada e chegando a uma conclusão equivocada. Há uma premissa de que as pessoas que estiveram naquela manifestação em frente ao QG são as causadoras dos atos do dia 8. E essa premissa é falsa. As manifestações no QG não foram a causa dos incidentes. Não eram sequer as mesmas pessoas”, afirmou Manzoni.
Já o deputado Fábio Felix (PSOL) inquiriu o depoente sobre sua participação nos atos do dia 8 de janeiro. “Quando o senhor viu as mensagens e decidiu ir para a Esplanada, não tinha conhecimento da dimensão e do que acontecia no ato?”, questionou o parlamentar. “Não tinha. Eu não imaginava. Eu imaginei manifestação pacífica, pessoal de verde e amarelo. Eu discordo daquilo lá, eu reprovo e jamais faria. Não tinha ninguém quebrando, eu percebi que já estava quebrado. Eu fui embora quando o Bope chegou para cercar o Palácio do Planalto porque o STF já estava cercado”, respondeu o empresário.
Por sua vez, o deputado Pastor Daniel de Castro (PP) afirmou que os depredadores dos prédios públicos no dia 8 não estão presos. “A CPI não julga e não trabalha sob hipóteses, mas sim sob fatos. Nosso dever é condenar quem precisa ser condenado e cuidar daqueles que são inocentes. As pessoas que invadiram e quebraram as sedes dos três poderes foram orientadas para sair pelas portas do Palácio e foram embora. Elas não estão presas”, atestou o pastor.
Adauto Lúcio Mesquita é empresário no DF desde 1995. Mineiro de Unaí (MG), foi criado em Formosa (GO) e chegou a Ceilândia com 26 anos de idade. Abriu seu primeiro negócio, uma distribuidora de doces, em Samambaia. Hoje é sócio de empresas, entre as quais o Melhor Atacadista.
Francisco Espínola – Agência CLDF
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