ALVO DA CRISE, MULHERES VÃO ÀS RUAS POR DIREITOS E LIBERDADE
Marcha das Mulheres Taguatinga/Ceilândia, dia 5 de março | Foto: Deva GarciaMenos de 24 horas depois do vazamento dos áudios repugnantes do deputado estadual de São Paulo Arthur do Val (Podemos), dizendo que mulheres ucranianas são “fáceis, porque são pobres”, mulheres de Ceilândia, Taguatinga e outras cidades do DF se uniram em ato, nesse sábado (05/03). A ação não foi realizada para repudiar especificamente o parlamentar que assediava mulheres que fogem do desespero da guerra. Entretanto, confronta o que representa o copartidário do pré-candidato à presidente da República Sérgio Moro: o machismo, o racismo e o sexismo que açoitam e matam.
“Não só hoje ou no 8 de março, mas em todos os dias desse ano, e por quantos anos for necessário, vamos sim gritar e lutar pelos nossos direitos, pela nossa liberdade”, disse a dirigente do Sinpro-DF Rosilene Corrêa.
O ato teve início próximo à Feira da Ceilândia e, após marcha pela avenida Hélio Prates, terminou na Feira dos Goianos. Ceilândia é a maior e mais populosa região administrativa do DF. Mas também é conhecida por registrar o maior número de casos de violência doméstica. Segundo a Polícia Civil local, em 2021, foram 2.416 casos notificados.
Rosilene Corrêa, diretora do Sinpro-DF | Foto: Deva Garcia
“Estamos nas ruas por igualdade, por direitos, por justiça social e pelo fim da violência. É inadmissível saber que, neste país, a cada uma hora e meia, uma mulher é assassinada. Algo tem que ser feito! É preciso que os governos, tanto o federal como o distrital, implementem políticas públicas preventivas que garantam segurança para essas mulheres em situação de vulnerabilidade”, disse de cima do carro de som a dirigente do Sinpro-DF Meg Guimarães, que também é vice-presidenta da Central Única dos Trabalhadores do DF (CUT-DF).
Em frente ao veículo que amplificou a fala de representantes das mais diversas organizações da sociedade civil, sobretudo feministas, meninas e mulheres mostravam determinação em mudar os rumos do país quando o recorte é o de gênero.
Essa foi a primeira vez que a estudante Rebecca Martins, de 16 anos, participou de uma atividade de rua que tem como pauta a dignidade, os direitos e a liberdade das mulheres. Aluna do CEM 03 da Ceilândia, ela ficou sabendo da atividade a partir de uma panfletagem feita pelo Sinpro-DF na escola e, imediatamente, resolveu participar. “Espero que no futuro a gente consiga ser muito maior do que a gente é hoje; que a gente consiga ter equidade de gênero, ter direitos iguais; que a gente não seja assediada, estuprada; que a gente consiga viver como seres humanos”, disse com firmeza e esperança a estudante.
No carro de som aberto às participantes, mulheres dialogaram com a sociedade sobre machismo e sexismo | Foto: Deva Garcia
O cenário devastador narrado por Rebecca e imposto às mulheres é estrutural, mas vinha sendo combatido e transformado. Após a redemocratização do Brasil, o período de maior conquista para as mulheres foi o de 2003 a 2016, quando a promoção de políticas públicas contribuiu para a autonomia e a emancipação feminina. Entretanto, o processo de rompimento com a democracia, iniciado com o golpe de 2016 e acentuado a partir de 2018, com o governo Bolsonaro, tornou as mulheres, principalmente as negras, novamente, as principais vítimas da violência, do racismo, do desemprego, da fome.
“Nós, povo negro, somos maioria. Mas em termos de políticas, o que tem ficado pra nós é sempre minoria. E o que a gente pode perceber é que esse é um projeto político arquitetado para que isso aconteça”, desabafa Adelina Benedita Alves Santiado, do Coletivo de Mulheres Negras Baobá do DF e Entorno.
O resgate da democracia e dos direitos humanos, segundo a deputada federal Erika Kokay (PT-DF), só será garantido com a ação das próprias mulheres. “A luta das mulheres é a luta pela democracia. E a democracia não se efetivará se não tivermos as mulheres em movimento e a igualdade de direitos. A inexistência da equidade de gênero, a existência das diversas formas de violência que atingem as mulheres, são um atentado permanente contra a democracia e contra a justiça social”, disse a parlamentar.
Presentes na marcha do dia 5 de março, mulheres negras são as mais atingidas pela violência e o desemprego | Foto: Deva Garcia
É no espaço da escola que a dirigente do Sinpro-DF Vilmara do Carmo enxerga a possibilidade de mudança para a construção de um futuro que não aprisione mulheres e que, consequentemente, respeite a democracia. “É preciso organizar a comunidade escolar. É preciso estimular a constituição de grêmios estudantis, pois a juventude tem sede e fome de reivindicar um mundo melhor. É preciso realizar as assembleias gerais nas escolas, não só para prestação de contas, mas para organizar a comunidade e solucionar os problemas que a atinge. A escola tem que ser um espaço de resistência”, propõe.
Para a também dirigente do Sinpro-DF Mônica Caldeira, essa resistência, principalmente quando se trata de gênero, tem que ser construída enquanto projeto. “A proposta pedagógica para a educação tem que ter o reconhecimento do problema do machismo na sociedade e fazer com que, através dessa problemática, se estruture objetivos, estratégias e metas para poder, dentro do projeto pedagógico, atuar para mudar uma estrutura (machista) que já está enraizada”, avalia.
Sinpro-DF acredita que o espaço da escola é determinante para romper com a estrutura machista e sexista | Foto: Deva Garcia
É no espaço da escola que a dirigente do Sinpro-DF Vilmara do Carmo enxerga a possibilidade de mudança para a construção de um futuro que não aprisione mulheres e que, consequentemente, respeite a democracia. “É preciso organizar a comunidade escolar. É preciso estimular a constituição de grêmios estudantis, pois a juventude tem sede e fome de reivindicar um mundo melhor. É preciso realizar as assembleias gerais nas escolas, não só para prestação de contas, mas para organizar a comunidade e solucionar os problemas que a atinge. A escola tem que ser um espaço de resistência”, propõe.
Para a também dirigente do Sinpro-DF Mônica Caldeira, essa resistência, principalmente quando se trata de gênero, tem que ser construída enquanto projeto. “A proposta pedagógica para a educação tem que ter o reconhecimento do problema do machismo na sociedade e fazer com que, através dessa problemática, se estruture objetivos, estratégias e metas para poder, dentro do projeto pedagógico, atuar para mudar uma estrutura (machista) que já está enraizada”, avalia.
Sinpro-DF acredita que o espaço da escola é determinante para romper com a estrutura machista e sexista | Foto: Deva GarciaParalela às escolas, a mudança necessária para a vida das mulheres “passa pela saída de Bolsonaro da presidência da República e pela eleição de quem realmente tenha compromisso com os direitos das mulheres”, acredita Ruth Brochado, que junto com Vilamara e Mônica integra a pasta Assuntos e Políticas para Mulheres Educadoras do Sinpro-DF. “A luta não foi, não é e não será fácil. E para podermos avançar, é preciso votar consciente, seja para presidência da República, para Câmara, Senado, Câmara Legislativa do DF ou assembleias legislativas. Nosso voto é peça fundamental na mudança do cenário que nos é imposto hoje. Vamos nos unir. Com todo mundo junto, a gente consegue”, pontua.8 de março
Na próxima terça-feira, dia 8 de março, Dia Internacional de Luta por Direitos das Mulheres, será realizada nova marcha pela vida e pelos direitos das mulheres. Organizada de forma coletiva e plural, neste ano, a marcha terá como lema “Pela vida das mulheres, Bolsonaro nunca mais! Por um Brasil sem machismo, sem racismo e sem fome”. A concentração será às 17h, no Museu da República. De lá, as mulheres seguirão pela Esplanada dos Ministérios, até a Alameda das Bandeiras.
Fonte: SINPRO-DF
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