Água Mineral: 61 anos de um patrimônio natural em Brasília
Parque Nacional de Brasília (PNB), criado em novembro de 1961, recebe pessoas que se encantam com a beleza da natureza e seus benefícios à saúde. Frequentadores contam histórias vividas neste espaço de convívio acessível a todos
(crédito: Carlos Vieira/CB)
Ponto de lazer e calmaria em meio à cidade, o Parque Nacional de Brasília (PNB), completou 61 anos neste mês de novembro. Para além das belezas naturais, muitos moradores da capital criaram laços de amizade e viveram histórias nas piscinas e trilhas do local. Unindo crianças, jovens, adultos e idosos em um só ambiente, o ponto recreativo proporciona vitalidade e saúde. A apenas seis quilômetros de distância do centro de Brasília, o reduto de paz dos brasilienses é formado por mais de 42 mil hectares de área verde preservada.
A pedagoga Denize Batista, 54 anos, construiu uma linda relação com as piscinas da Água Mineral, espaço popular entre os frequentadores. Aos 33 anos, foi ali que ela aprendeu a nadar. “Eu fui ao parque quando criança aos 10 anos com a minha família e depois voltei a visitar já adulta, com 30 anos. Mas eu não sabia nadar”, comenta. A moradora da Vila Planalto recorda que foi um ano inteiro dedicado a aprender. “Eu já tinha tentado em academia e em outros lugares, mas não aprendi, porque tinha medo de morrer afogada. Como lá eu me sentia bem, vi a possibilidade de aprender”, recorda Denize, que contou com o apoio do marido Luciano Lamper Martinez, 49.
Frequentadores assíduos do parque desde 2000, o casal levava as filhas, hoje adultas, para se divertirem. Denize conta que, assim como seus pais lhe ensinaram o amor pela Água Mineral, ela passou o cuidado com a natureza para a terceira geração da família. “Eu fico muito feliz de ter transmitido essa paixão para elas e de tê-las ensinado a respeitar o meio ambiente. Não foi fácil, mas valeu a pena”, ressalta a pedagoga, que vai ao parque cerca de quatro vezes na semana.
Além do laço familiar, Denize destaca que tem um vínculo forte com os outros frequentadores. “Viramos uma grande família. Vivenciamos momentos de solidariedade e de generosidade”, comenta. Para ela o parque significa qualidade de vida até para quem não frequenta. “O contato com a natureza é fantástico e a Água Mineral representa tudo isso: o contato, o respeito com a fauna e a flora, e a água que temos que proteger”, destaca.
Lugar de todos
Criado em 29 de novembro de 1961, o PNB surgiu com a missão de proteger os rios que forneciam água potável para a capital. Além disso, tem o objetivo de manter a vegetação em estado natural, contribuir para o equilíbrio das condições climáticas e evitar a erosão dos solos. A unidade de conservação abriga as bacias dos córregos formadores da represa Santa Maria, que é responsável pelo fornecimento de 25% do abastecimento da cidade. As duas piscinas com água corrente e as trilhas atraem um grande público ao local.
Presidente da Associação de Amigos do Parque Nacional de Brasília (Afam), Moacir Putíni, 83, frequenta o local desde 1974, quando os filhos ainda eram pequenos. Morador do Cruzeiro Velho, ele conta que ia apenas aos fins de semana. A partir de 1995, passou a ser um frequentador assíduo do parque e faz questão de ir quatro a cinco vezes na semana. “Acho o parque muito importante por conta da preservação da natureza e por proporcionar lazer a uma grande parte da população da cidade, principalmente as pessoas de baixa renda que não tem condições ou opções.”
Nascido em Minas Gerais, Putíni veio para Brasília em janeiro de 1960, antes mesmo da inauguração da capital. No planalto central, ele formou a família e construiu laços com a área de preservação. “A gente colabora com a administração de várias formas, dando apoio financeiro e nas tomadas de decisão”, comenta. O aposentado conta que os dois filhos costumam ir ao parque também, sempre que podem, e ressalta que fez boas amizades no espaço ao longo dos anos. “Toda última sexta-feira do mês, os frequentadores fazem uma confraternização com café da manhã”, ressalta o líder da Afam.
Maria de Lourdes Bernardes, 80, vai diariamente ao parque para nadar. “Essa Água Mineral é uma maravilha, uma fonte de saúde”, destaca a idosa, frequentadora há mais de 20 anos. “Nado o que eu posso. Às vezes, 500 metros ou 800 metros. Todo mundo deveria conhecer, frequentar, andar nas trilhas”, recomenda Lurdinha, como é chamada pelos amigos.
Para ela, a reserva proporciona também encontros e bate-papo. “Conheço bastante gente, sempre vou conversar com o pessoal. É muito bacana”, conta Lurdinha, acrescentando que considera o casal Denize e Luciano como se fosse da família. “Eu me sinto muito bem quando vou, parece que ando dois anos para trás na idade. Até que estou bem”, diverte-se, aos risos.
Preservação
O principal objetivo do parque é a preservação de ecossistemas naturais, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e de turismo ecológico. A área tem diversos tipos de vegetação e uma fauna rica em diversidade, com espécies raras ou ameaçadas de extinção. Quem caminha pelo local, pode se deparar com cobras, lobo-guará e outras espécies.
Professor na área de gestão ambiental da Universidade de Brasília, Gustavo Souto Maior, 67, é um estudioso apaixonado pelo PNB. “Ele tem uma importância muito grande para a nossa sociedade, melhorando a qualidade de vida das pessoas que vivem aqui no DF. Nós temos essa situação de seca em vários meses do ano, e o parque ajuda a amenizar. Precisamos ter um carinho especial por esse patrimônio”, ressalta o morador do Lago Norte.
Carioca, Gustavo foi criado na beira-mar. Em 1979, veio para Brasília e conta que uma das coisas que sentiu falta foi da praia. “Pouco tempo depois, descobri a Água Mineral. Eu sempre gostei muito de nadar, de contato com a natureza e o local supriu essa lacuna em minha vida”, comenta o professor que, com tanta paixão pela reserva, a usou como tema para estudos de mestrado e doutorado.
Sobre uma possível privatização, assunto que preocupa os visitantes diários, ele avalia que isso não vai acontecer. “Continuará sendo domínio público. O que é discutido, é sobre uma concessão para a iniciativa privada explorar algumas áreas de uso público, de uma forma melhor do ponto de vista turístico”, avalia.
Para o pesquisador, é importante que tudo seja feito sob controle e que o plano de manejo do local seja atualizado. “O documento funciona como constituição do parque. Lá diz o que se pode fazer, onde se pode fazer, quais áreas que podem ser pisadas e exploradas do ponto de vista turístico”, explica Gustavo. Segundo o estudioso, é necessário uma atenção quanto ao crescimento das áreas que cercam o parque. “Tem uma série de assentamentos e núcleos urbanos próximos a ele. Esses locais sem infraestrutura adequada trazem impactos”, finaliza.
Segundo o responsável pelo local, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o futuro do PNB, bem como a Floresta Nacional de Brasília, está em fase de elaboração dos estudos técnicos para concessão de serviços de apoio à visitação. “Futuramente, será realizada consulta pública e, após essa etapa, a licitação. Porém ainda sem prazos definidos”, responde o órgão através de sua assessoria.
Fonte: Correio Braziliense
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