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DF registra uma morte no trânsito a cada dois dias

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De janeiro a abril de 2024, foram 62 óbitos nas vias da capital do país. Especialistas afirmam que a priorização aos veículos é uma das causas. Detran-DF ressalta que investe em campanhas, engenharia e ações de fiscalização

Este ano, o Distrito Federal registrou, até abril, em média, uma morte no trânsito a cada dois dias — foram 62 ocorrências, de acordo com o Departamento de Trânsito (Detran). Em 37% dos casos, as vítimas foram pedestres, considerados os mais frágeis do sistema. A liderança ficou com as colisões, que foram responsáveis por 42% dos óbitos nas vias da capital do país (confira Segurança viária). Outro dado que chama a atenção é em relação ao sexo das vítimas. Segundo o Detran-DF, as mais recorrentes são homens — que correspondem a 55 das 62 mortes —, mas é uma tendência mundial. 

Para Adriana Modesto, doutora em transportes, com foco na segurança viária, pela Universidade de Brasília (UnB), a predominância masculina é tendência mundial e vários fatores podem influenciar na exposição ao risco de envolvimento em um sinistro de trânsito. Em sentido amplo, a especialista destaca: os socioeconômicos e demográficos; os inerentes ao planejamento urbano, planejamento de transportes, planejamento de circulação; associados as características da rede viária e respectivos dispositivos de segurança, a gestão da velocidade, o volume da frota circulante; os fatores comportamentais e culturais; o tempo-resposta para o atendimento às vítimas e a oferta de serviço de saúde especializado.

Sobre os atropelamentos de pedestres, a faixa etária com maior incidência é a que está entre 50 e 59 anos e acima dos 60 anos de idade, de acordo com os dados do Detran-DF. Adriana Modesto afirma que os usuários das vias são afetados de forma diferente no trânsito. “Temos a potencial majoração da vulnerabilidade em se tratando de pessoas idosas que, em razão das características do ciclo de vida, podem apresentar caminhar mais lento, carecendo de maior atenção por parte dos condutores nas circunstâncias de travessias”, alerta.

O Detran-DF afirma que está investindo para diminuir as mortes no trânsito. A doutora em transportes, porém, ressalta que, mesmo sendo observados esforços em favor da segurança viária, por parte dos órgãos de trânsito e sociedade civil organizada, a capital do país ainda experimenta carga residual de uma cidade pensada para veículos automotores. “Não priorizamos as demandas de seus usuários, com infraestrutura hostil ou pouco segura e inclusiva para pedestres, sobretudo, nas regiões administrativas mais periféricas, o que pode favorecer a ocorrência de atropelamentos”, destaca.

Perdas em família

Elane Pires, 47 anos, perdeu o sobrinho, Renan Pires, em 2022, na DF-489, após a moto em que ele estava ser atingida por um carro, que estava em alta velocidade. “É inevitável pensar que (a colisão) poderia não ter ocorrido se o motorista não estivesse dirigindo da maneira que estava. Qualquer pessoa que estivesse em seu caminho, naquele dia, seria brutalmente atingido e, infelizmente, foi meu sobrinho”, acrescenta a servidora pública. 

Ela conta que a ausência de Renan é sentida diariamente. “Estamos aprendendo a lidar com o fato de não termos ele mais por aqui. A gente aprende a lidar, porém, uma sombra se instala em nossas vidas, que nunca mais serão as mesmas, especialmente para os pais, a companheira, os irmãos e amigos mais próximos”, comenta. 

A servidora pública reconhece que o fato de o motorista ter sido condenado à prisão, em regime fechado, por embriaguez ao volante e por homicídio qualificado, fez a família acreditar que todas as respostas do Estado foram apresentadas. Elane destaca que a sentença fez com que a atitude do condutor do veículo não passasse despercebida. “Desejamos que esse caso sirva de exemplo para que as imprudências no trânsito sejam repensadas. Acidentes assim têm consequências terríveis para todos os envolvidos, muito mais para as vítimas e seus familiares”, destaca a tia de Renan.

A moradora do Guará Sarah Gomes, 23, perdeu o noivo, Paulo Victor Santana, em 2019, após um atropelamento na EPTG. “Na última semana, completou cinco anos da tragédia. Foi no dia do aniversário dele, inclusive. Estávamos juntos no dia, e o Paulo me deixou em casa, dizendo que iria para a casa da avó em seguida”, recorda. “Em um certo ponto da EPTG, quando ele foi atravessar a pista, um ônibus o atropelou. Ele morreu dois dias depois, no hospital”, acrescenta a moça.

Passados cinco anos da perda do noivo, com quem tinha planos de casamento para o fim daquele ano, ela comenta que, apesar de já ter passado pelo luto, o sentimento pela perda continua. “Foi e continua bem difícil viver com tudo. Vivi o luto da morte durante dois anos. Foi bem traumatizante, pois ninguém esperava que aquilo fosse acontecer”, destaca.

Sarah diz não saber se houve algum culpado no atropelamento, mas opina sobre o que pode ser feito para evitar tragédias como a que viveu. “Penso que, por mais que existam faixas de pedestres, passarelas e ciclovias, é difícil o ser humano fazer as coisas da forma correta. Mesmo assim, acho que as autoridades devem investir mais em campanhas educativas e os usuários do trânsito têm que estar mais atentos, tanto motoristas quanto pedestres”, ressalta.

Gestão da velocidade

Para a doutora em transportes Adriana Modesto, a promoção de um trânsito mais seguro passa pela efetivação do repertório de ações preconizadas pelo Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (Pnatrans). “Sobretudo no que tange à gestão da velocidade, sublinhando que pedestre tem 90% de chances de sobreviver a uma colisão de um veículo que circula à velocidade igual ou inferior a 30 km/h, sendo reduzidas drasticamente com o aumento da velocidade praticada”, avalia.

Além disso, a especialista aponta outras medidas, voltadas ao usuário mais frágil do trânsito. “A identificação e tratamento de locais críticos, ou seja, com prevalência ou riscos de ocorrência de sinistros de trânsito envolvendo pedestres, assim como a priorização do atendimento às demandas inerentes a esses usuários, como a oferta de passarelas, a implantação de faixas de pedestres, a promoção de ações educativas e de sensibilização quanto a escala de vulnerabilidade no trânsito”, observa. “Até porque todos, em algum momento de seus deslocamentos diários, ocuparão a condição de pedestre”, ressalta Adriana.

Em nota, o Detran-DF disse que investiu R$ R$ 28.221.532,67 em 2023 e mais R$ 13.671.715,40 até 10 de junho deste ano, somente em educação no trânsito. Para reduzir as mortes, a autarquia informou que realiza uma série de ações na área de educação para o trânsito, que têm como finalidade conscientizar pedestres, ciclistas e condutores sobre os riscos de acidentes e sobre posturas corretas no trânsito.

“Também são realizadas ações de engenharia de trânsito, como a revitalização de 1.900 faixas de pedestres, nos cinco primeiros meses deste ano, assim como ações de fiscalização, para abordar e autuar condutores que insistem em praticar infrações e colocar os demais usuários em risco”, destacou o texto enviado pelo órgão.

Com informações do Correio Braziliense

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