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Projeto empodera jovens de Ceilândia para o protagonismo por meio da cultura

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Há 16 anos, o programa Jovem de Expressão trabalha para mudar a realidade da juventude periférica, promovendo o acesso a cultura, a tecnologia, educação, lazer e arte

Suéllen Batista (E), Max Maciel e Larissa do Nascimento: uma ação cidadã, que inclui cultura e conhecimento – (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Da Casa do Cantador à Caixa D’água, a juventude de Ceilândia alimenta sonhos de diferentes proporções: enquanto alguns querem exercer uma profissão, cursar uma universidade e se capacitar, outros sonham em se descobrir como artistas e viver da música ou, até mesmo, do cinema. Apesar das barreiras que podem ser encontradas no caminho, iniciativas que investem e acreditam no brilhantismo dos jovens das periferias do Distrito Federal têm impulsionado a busca pela utopia. Em Ceilândia, o programa Jovem de Expressão trabalha para mudar a realidade da juventude periférica, promovendo o acesso a cultura, a tecnologia, a educação, ao lazer e a arte. Tudo isso com um único objetivo: impulsionar sonhos.

A iniciativa, que funciona há cerca de 16 anos, atende, diariamente, uma média de 150 jovens. Cerca de 20 mil pessoas são impactadas por ano, com ações em prol da comunidade e juventude do DF, de acordo com o coordenador pedagógico do projeto, Max Maciel. Ele conta que o programa surgiu após uma pesquisa, realizada em 2004, que aborda os fatores determinantes da violência no público jovem. “Naquela época, a pesquisa mostrava a problemática de que homens, jovens e de periferia estavam expostos à violência, e Ceilândia era a cidade destaque”, recorda.

A partir de então, iniciou-se um processo de conversa e debate com os jovens da região administrativa, para falar sobre os fatores importantes para evitar essa violência. “Fomos desenvolvendo projetos que culminaram em sobreposições de ações. O Jovem de Expressão é um programa que oferece várias oportunidades para a juventude da periferia, com diferentes cursos”, explica Max. Dentro do programa, são oferecidos cursos de línguas, pré-vestibular, atendimento psicológico e oficinas que promovem arte e cultura.

A iniciativa é voltada para jovens entre 18 e 29 anos. “O programa surgiu para aqueles que não eram contemplados por políticas públicas. Em 2006, quando a iniciativa foi criada, o jovem de 17 anos e 11 meses já era considerado adulto e tinha que se preparar para isso, decidindo com o que ia trabalhar, o que queria fazer da vida. Faltava um espaço que recebesse a segunda fase da juventude e adolescência, quando eles tentam descobrir o que querem, quem realmente são”, explica Max.

O espaço promove o autoconhecimento da juventude na Praça do Cidadão, em Ceilândia Norte. “A ideia é que seja um local onde o jovem possa ser ele mesmo. Temos internet sem fio, biblioteca comunitária, galeria de arte. É uma multiplicidade de ações que acontecem de domingo a domingo”, reitera. Apesar de localizado em Ceilândia, o programa atende públicos de diferentes regiões do DF.

Realização de sonhos

Ter o reconhecimento de seu esforço foi uma das principais conquistas da vida da estudante e pesquisadora Ana Letícia Souza da Silva, 22 anos. Moradora de Ceilândia, ela conta que sempre sonhou em ingressar na Universidade de Brasília (UnB). Ao tentar, em 2017, não teve sucesso. Foi por meio do pré-vestibular do Jovem de Expressão que, hoje, ela cursa ciências sociais na instituição de ensino. “Eu não tinha dinheiro, nem passe livre para estudar em cursos de vestibular. Então, precisava de algo que fosse relativamente perto da minha casa e gratuito. Quando descobri o programa, vi que era a oportunidade perfeita”, pontua.

Acordar cedo e dormir tarde em busca de uma colocação no vestibular não é tarefa fácil, principalmente para jovens que passam por dificuldades. No caso de Ana, o processo de estudo foi desafiador mas, de acordo com ela, serviu para impulsionar sua determinação. “Quando eu estava iniciando as aulas, tinha um dinheirinho e ia de ônibus. Vi que meu saldo estava acabando e que meu passe livre não chegava. Decidi reservar o que tinha para a passagem do ônibus que pegava à noite, na volta para casa. Na ida, ia a pé. Gastava cerca de uma hora”, recorda. “Foi quando descobri que era uma pessoa focada, determinada que podia alcançar o que queria porque tinha estratégia. O Jovem de Expressão me ensinou isso”, completa.

Para a estudante universitária, o maior ensinamento que seu período de estudos pré-vestibular deixou foi o de se esforçar para alcançar aquilo que deseja. “Dificilmente você chega em um lugar sozinho. Pode até ser que isso aconteça, mas é bem mais difícil. Minha trajetória foi complicada, mas teria sido bem mais se não tivesse essas pessoas do programa perto de mim, me ajudando e impulsionando”, cita.

Busca de identidade

Professora de história do Ceub, Deusdedith Alves Rocha explica que programas como o Jovem de Expressão funcionam como uma forma de reforçar as identidades comuns do grupo de jovens, em uma perspectiva crítica. De acordo com ela, não se trata apenas de dar oportunidade para a superação de problemas típicos do nosso tempo, como o desemprego ou a segregação cultural. É uma oportunidade dos jovens construírem uma compreensão mais complexa da realidade em que vivem. “Ao mesmo tempo em que reforça os sentimentos, faz pensar sobre as relações do grupo com outros campos da sociedade, como o estado, classes sociais e identidades distintas”, ressalta.

Deusdedith reitera, ainda, que a formação cidadã, fomentada dentro da iniciativa, vai além do sentido de nação ou nacionalidade. Diz respeito à vida em comunidade, ao modo como os sujeitos se percebem pertencendo a essa comunidade. “O que nós fazemos para reforçar os sentimentos comuns, como favorecer para que todos tenham uma vida digna, são esses os verdadeiros valores da cidadania. É assim que compreendemos a cidadania como direito e dever”, diz.

Para quem vive nas comunidades periféricas do DF, a arte pode ser refúgio. Nascida em Ceilândia, a produtora cultural Larissa do Nascimento Gonzaga, 28, conta que foi nas ruas da cidade que cresceu e amadureceu. “Comecei a andar de skate, e interagia muito com a galera que compartilhava dos mesmos interesses. Lembro que tínhamos sempre essa busca por lazer, a sede por cultura. Andava pelas ruas à noite, conhecia pessoas novas e fui começando a criar novas relações”, conta. Foi nas ruas que ela conheceu o programa Jovem de Expressão e, em 2009, participou de uma oficina de percussão. Lá, aprendeu sobre uma nova paixão: a música. “Eu sempre tive uma ligação forte com a música e lá consegui fazer conexões com pessoas que faziam parte do mesmo mundo que o meu”, explica.

Larissa iniciou, então, sua jornada profissional e pessoal no ramo e, desde então, não conseguiu abandonar a iniciativa. “Foi algo que me identifiquei. Nesse espaço, a gente tem a sensação de pertencimento, algo que muitas vezes não percebemos da sociedade por sermos jovens de periferia. Não tem coisa melhor do que chegar na praça, sentar em um banquinho, e acompanhar as atividades e o crescimento de tantas pessoas”, diz.

Ela recorda que, quando mais nova, não existia incentivo para a ocupação cultural das ruas da cidade. Quando o assunto era juventude, faltava inclusão da comunidade e, de acordo com ela, a Praça do Cidadão se tornou um espaço que oferece acolhimento. Por isso, o local é tão importante para os moradores da cidade. “Em muitos momentos, não tive oportunidade. Aqui, nós encontramos isso. É um lugar onde o jovem pode se questionar, descobrir do que gosta. A gente já cresce com a ideia de que precisamos estudar e trabalhar, mas muitos jovens da periferia sequer tem oportunidade para isso”, ressalta. Foi através da música e do programa que Larissa descobriu como é “seguir a batida da vida”. “Foram anos sem ter um rumo certo e, agora, me encontrei. O Jovem de Expressão é uma verdadeira máquina de sonhos”, completa.

Ocupação cultural

O Jovem De Expressão busca mudar a oportunidade da realidade da juventude periférica para além das salas de aula. Promover o acesso à cultura também tornou-se um dos principais destaques do programa. Seja através da música, como Larissa, do cinema ou da fotografia, na Praça do Cidadão, tem de tudo um pouco. O espaço abriga sala de dança, teatro de bolso, estúdio audiovisual, a Galeria Risofloras, espaço para reuniões, palestras, aulas, cultos religiosos, terapias e várias outras atividades. Já foram mais de 300 atividades promovidas, que transformaram — e ainda transformam — realidades a partir do uso saudável do espaço público.

Os artistas e professores Lucas Marques Ferreira, 25, e Letícia dos Santos Miranda, 26, foram algumas das pessoas que tiveram a vida transformada por meio da promoção da cultura, feita no programa. Eles são criadores e idealizadores da exposição em cartaz na Galeria Risofloras, Quinquilharias. O público pode visitar de segunda a sexta, das 14h às 18h.

O programa, que oferece oficinas culturais para os jovens, está, ainda, com o festival Cine de Expressão em cartaz. A mostra de audiovisual apresenta a criatividade das histórias contadas e produzidas pela juventude durante a formação da oficina Cine de Expressão, que proporcionou a formação gratuita nas principais áreas do audiovisual, os participantes realizaram oficinas de direção de fotografia, atuação, produção, direção e roteiro, entre outras oficinas e atividades que fizeram parte da jornada teórica. Em paralelo, os jovens colocaram em prática todos os conhecimentos nas produções de curtas e clipes.

A programação conta com mais de 10 produções inéditas que irão participar de mostras competitivas com premiações. Além disso, o evento — que irá acontecer até o próximo sábado — conta com programação cultural, debates e oficinas. Para participar basta se inscrever gratuitamente nas atividades. O link pode ser acessado nas redes sociais do Jovem de Expressão (@jovemdeexpressao).

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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