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Nova estação anima brasilienses, que torcem pela chegada da chuva

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Com a chegada da estação preferida dos brasilienses, o clima deve ficar mais ameno e a natureza dá renovação. “Uma diversidade enorme de plantas do Cerrado floresce nessa transição”, diz o professor da UnB Reuber Brandão

Por Maria Eduarda Lavocat — A chegada da primavera é um momento muito aguardado pelos brasilienses, pois traz consigo as chuvas que aliviam a dura seca do Cerrado. Este ano, a estação começa neste domingo, às 9h44. No entanto, de acordo com Danielle Ferreira, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as chances de chuva até o fim de setembro são baixas. A boa notícia é que as probabilidades aumentam significativamente a partir das primeiras semanas de outubro, quando a primavera se instala de forma definitiva, melhorando a qualidade do ar e renovando as paisagens do Distrito Federal.

“Os primeiros sinais da primavera se manifestam com a confluência dos ventos provenientes da Amazônia, que carregam umidade para a parte central do Brasil. Esse período é caracterizado por dias nublados, com pancadas de chuva e trovoadas, especialmente no final da tarde e início da noite. As temperaturas tendem a subir em relação ao inverno, variando entre 21°C e 23°C, com máximas que podem ultrapassar os 28°C”, explica Danielle.

A doméstica Sidilene Maria dos Santos, 53 anos, conta que está esperançosa com as mudanças na temperatura e na umidade. “O clima está muito seco, o ar pesado, e, embora já existam algumas flores que indicam que as chuvas estão chegando, são muitas queimadas pela cidade, o que piora a respiração. Estou ansiosa pela chegada das chuvas, assim como todos, esperando que o clima mude, diminuindo a poeira e melhorando a qualidade do ar e a temperatura”, diz.

Mudanças 

Segundo Reuber Brandão, professor do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília (UnB) e doutor em ecologia, o Cerrado é uma savana tropical, e climas tropicais são caracterizados por possuírem apenas duas estações climáticas bem marcadas: o verão e o inverno. Porém, a transição entre a seca intensa e a proximidade das chuvas é o maior período de renovação do bioma. “Uma diversidade enorme de plantas do Cerrado floresce na transição entre a seca e a chuva, muitas delas mesmo antes das primeiras chuvas, já anunciando o fim da estação seca. É o momento de ver cores na paisagem e saber que as plantas estão investindo suas fichas na maior oferta de animais polinizadores e dispersores”, afirma o especialista ao Correio.

Assim, com o fim do inverno e a proximidade da primavera, a paisagem da cidade vai se renovando, e o ambiente árido, de folhagens secas, passa a dar lugar aos gramados verdes e às copas floridas das árvores. Nessa época de transição, as primeiras plantas a florescer são os ipês, que embelezam a paisagem com suas flores vibrantes. O ipê-roxo (Handroanthus impetiginosus) é o primeiro a se destacar, seguido pelos ipês-rosa, amarelo e branco, que juntos criam um espetáculo natural antes mesmo da chegada das chuvas. Além dos ipês, espécies como o pequi, a cagaiteira e o jacarandá também começam a mostrar suas cores pela cidade.

A professora Bárbara Rodrigues, 49, conta que está notando a mudança de paisagem, mas continua ansiosa para o início das chuvas. “Eu estou percebendo muita coisa. O interessante de Brasília é que, mesmo com essa seca, a gente vê muitas árvores com flores. Os ipês estão sempre floridos, e os jardins de Brasília são maravilhosos, sempre com muitas flores. A única questão é essa seca. Este ano está bem forte. Estamos torcendo para que essa chuva chegue logo para melhorar essa secura, e para a paisagem deixar de ser marrom e ficar mais verde. Não vejo a hora de poder admirar os jardins da Asa Sul e da Asa Norte bem cheios de cor depois das chuvas”, diz.

Além das mudanças na vegetação, os animais que habitam a capital federal também se transformam durante o período. “Grande parte da fauna do Cerrado investirá em reprodução durante o final da seca e o início da estação chuvosa. Embora existam animais que se reproduzam durante a seca, a maior parte dos animais do Cerrado irá buscar parceiros e produzir seus filhotes durante esse período”, explica Brandão. “Aves migratórias, como a tesourinha (Tyrannus savanna), retornam ao Cerrado para se beneficiar da abundância de insetos com o aumento da umidade. Insetos como cigarras, formigas e cupins entram em fase de reprodução, fornecendo uma rica fonte de alimento para diversos outros animais, incluindo aves, anfíbios e pequenos mamíferos”, completa.

Para Rafael Santos, 33, a chegada da primavera significa uma oportunidade nos negócios. “Eu sou personal trainer e essa época do ano é quando o trabalho aumenta muito. Muita gente começa a se preparar para o verão nas academias, e isso acaba gerando mais demanda para mim, e a parte financeira melhora. Também fico ansioso pela chuva, porque o clima seco tem atrapalhado muito os treinos e o dia a dia. Têm ocorrido muitas queimadas e a fumaça está muito presente, atrapalhando tudo”, compartilha.

Queimadas 

Neste ano, Brasília enfrenta um aumento significativo de queimadas, agravado pela seca e pelas altas temperaturas. Segundo o Inpe, o número de focos de calor no Cerrado superou em 101% o acumulado do mesmo período em 2023, totalizando 58.597 focos até meados de setembro. A seca prolongada, associada à falta de chuvas, contribui para a propagação dos incêndios, o que tem gerado grandes perdas ambientais e problemas de qualidade do ar na região. O professor Reuber Brandão explica que isso é um fator de preocupação, não só para a qualidade do ar dos moradores da cidade, mas também para a natureza como um todo.

“Como é o momento em que plantas e animais investem na reprodução, as queimadas podem afetar negativamente esse processo. As plantas podem perder flores ou abortar frutos. Animais podem ter seus filhotes mortos pelo fogo, especialmente os ninhos de aves. Desta forma, os eventos de fogo, que costumam coincidir diretamente com esse momento no Cerrado, acabam sendo mais negativos. Com as mudanças climáticas, há uma tendência de temperaturas mais altas, menos chuva e uma estação chuvosa mais curta. Isso levanta preocupações sobre a resiliência do Cerrado, que pode sofrer danos permanentes devido ao aumento da pressão humana sobre o bioma”, alerta Brandão.

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Jornalista

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