Desejos resilientes de moradores de rua em Brasília para 2024
Sem-teto contam suas histórias e o quanto querem concretizar no ano que vem vários sonhos que alimentam há muito tempo
Muitos dos que se encontram em situação de rua, morando em barracos nas áreas centrais do Distrito Federal (DF), têm o sonho de conseguir uma casa, melhorar sua situação financeira e até poder estudar. Contaram ao Correio que alimentam a vontade de um dia visitar familiares em outro estado ou fazer uma cirurgia, entre outros desejos.
Segundo levantamento do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), com dados de 2022 do Cadastro Único (CadÚnico), há 7,9 mil pessoas sem moradia no DF. A unidade federativa é a que tem maior índice de indivíduos enfrentando essa dificuldade: 0,28% da população total. Uma parcela desse grupo sem residência convencional pode ser vista próxima ao Campus Darcy Ribeiro, da Universidade de Brasília (UnB), na Asa Norte. Lá vivem aproximadamente 50 adultos e crianças, ocupando frágeis construções de papelão e madeiras recolhidas pelas ruas. Não se sabe até quando e como esses casebres resistirão às chuvas. Certeza mesmo só a de que para sobreviver têm de catar latinhas e embalagens de refrigerantes, que vendem a ferros-velhos para comprar comida. E que dependem de doações para se manterem.
Há três anos, Cleide dos Santos Bastos, 38, vive por lá, onde uma árvore de galhos finos, pintada de branco e decorada com garrafas pet e cataventos de plástico mantém a lembrança do nascimento de Jesus para ela e seus vizinhos. Enquanto isso, a mulher nascida em Sobradinho confia que um dia poderá dar melhores condições para as filhas de 14 e 15 anos. “A minha vida foi toda aqui. Espero ter um trabalho porque a rede pública recusou a minha filha mais velha de fazer o 1º do ano ensino fundamental”, diz acrescentando que estudou até o mesmo nível da sua primogênita. “Estou desempregada, vivendo só de doações”, assegura ela, inscrita no programa assistencial Bolsa Família. “A gente é feliz, independentemente do lugar onde moramos”, completa.
De forma contrária, Ana Maria Paiva, 43, rejeita o que enfrenta dia sim dia também. “A situação é terrível. Nossos barracos, comida, roupas e cobertas ficaram molhados da chuva. Isso é justo com o ser humano?”, questiona ela, natural de Irecê (BA), trazida pelos pais para cá há 31 anos em busca de um futuro melhor. Mesmo com isso ainda não tendo ocorrido e apesar de tanta penúria, o sonho não acabou. Deseja, em 2024, arranjar um emprego, pois tem experiência, com carteira assinada, como confeiteira e na limpeza de casas.
Memórias
Em uma área de terra batida, entre a L4 Norte e o fim do Campus Darcy Ribeiro, agentes do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) coletam materiais recicláveis. Perto deles, está outra árvore natalina, praticamente uma gêmea da anterior, mas mais caprichada: tem garrafas pet embrulhadas em sacos de presente e bolas de Natal achadas no lixo. José Alves de Jesus Filho, 49, do município baiano de Araci, foi um dos responsáveis pela decoração em frente ao barraco onde vive.
Ele recorda os tempos de escola, quando estudou até o 2º ano do ensino fundamental. A saudade aperta quando cita uma pessoa querida que está em seu estado natal. “Não tenho dinheiro para ir, mas tenho uma filha de 24 anos que não vejo há 10 anos. Além de uma moradia em 2024, tenho o sonho de fazer uma cirurgia de hérnia, que estou tentando há mais de cinco anos na rede pública”, diz.
Com um barraco na mesma área, Aparecida Pereira da Silva, 43, fala em querer proporcionar um lar aos oito filhos. A prole vai dos 5 aos 21 anos de idade. “(Eles) pedem para a gente ir embora de Brasília e ir morar na Bahia”, diz antes de lamentar que não recebeu os R$ 600 do Bolsa Família porque teve os documentos furtados na rua. Isso a impediu de fazer o cadastro no GDF e garantir o auxílio.
Em nota, a Secretaria de Desenvolvimento Social informou que, devido às festividades de fim de ano, é normal o aumento de famílias nas ruas, em especial no Plano Piloto e em Ceilândia. A pasta destaca que atua com força-tarefa diariamente no acompanhamento desse público, em todo o DF, incluindo fins de semana e feriados, com equipes de assistência social. O órgão pondera que muitos dos moradores de rua têm característica nômade. Isso significa que estão nas ruas do DF por um curto espaço de tempo para receber doações pontuais.
Com informações do Correio Braziliense
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