Defesa de Braga Netto quer acareação entre general e Mauro Cid
Advogado do militar diz que pedirá o procedimento à Polícia Federal, para confrontar as versões dos indiciados por golpe
O advogado José Luís de Oliveira Lima, responsável pela defesa do general Walter Braga Netto, afirmou, nesta sexta-feira, que pedirá à Polícia Federal (PF) uma acareação entre seu cliente e o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência. A solicitação visa confrontar diretamente as versões apresentadas por ambos no inquérito que investiga suposta tentativa de golpe de Estado para impedir a posse do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Lima argumentou que o procedimento é a forma mais transparente de esclarecer as contradições entre os depoimentos. “Vou pedir uma acareação entre Braga Netto e Cid. Quero os dois ali, um na frente do outro. Essa é a maneira adequada para confrontar as versões e dissipar qualquer dúvida sobre os fatos”, sustentou o advogado, em entrevista à GloboNews.
O defensor cobrou celeridade no processo e destacou que, assim que tiver acesso aos autos, sua equipe jurídica estará pronta para desmontar as acusações apresentadas pela delação de Cid. “Eu preciso ter acesso aos documentos completos para poder exercer plenamente a defesa do meu cliente. Não se pode construir uma acusação tão grave com base em falas isoladas e contraditórias”, frisou.
De acordo com Lima, a delação premiada de Cid, homologada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), apresenta inconsistências e foi obtida sob pressão. Ele chamou o militar de “mentiroso contumaz” e questionou a credibilidade das informações fornecidas à Justiça.
“Como é que pode dar credibilidade à fala de um sujeito que mentiu o tempo inteiro e estava desesperado? Ele passou mais de 100 dias preso, e só assim conseguiu seu acordo de colaboração premiada”, afirmou Lima, ressaltando que as mudanças nas versões apresentadas por Cid fragilizam sua colaboração.
O advogado reforçou que sua prioridade no momento é acessar integralmente os autos da investigação, que ainda não foram disponibilizados à defesa. “Eu não tenho como entrar num detalhe de uma mensagem que pode estar completamente fora de contexto e aqui fazer uma linha de defesa técnica de uma prova e de um documento que eu não tive nenhum acesso”, enfatizou.
Conforme o advogado, algumas das acusações feitas por Cid, como a suposta promessa de cargos por parte de Braga Netto, precisam ser analisadas em um contexto mais amplo. Ele afirmou que seria “absolutamente imprudente contextualizar ou rebater” esses pontos sem ter acesso completo ao material probatório. “O que eu posso dizer é que, nos diálogos que tive com Braga Netto, em momento algum ele disse que teve qualquer participação em golpe de Estado.”
Lima criticou o teor do relatório da Polícia Federal que embasou a prisão preventiva de Braga Netto. Para ele, o documento apresenta interpretações que não refletem com precisão os fatos. “A colaboração premiada do Mauro Cid é uma peça fundamental que faz uma relação a todo o relatório da polícia. Portanto, eu não tenho como entrar num detalhe específico sem ter acesso ao conjunto completo das provas”, explicou.
“Sincero”
Para a defesa de Braga Netto, a prisão preventiva do general é uma medida “desprovida de apoio em prova sólida”. Segundo Lima, não há evidências concretas que justifiquem a decisão autorizada por Moraes. “Nós estamos falando de um general quatro estrelas, homem com 42 anos de serviços prestados ao Exército Brasileiro. Portanto, eu não posso acreditar que esse homem não seria sincero e franco comigo”, declarou.
O advogado também rebateu especulações sobre a possibilidade de Braga Netto firmar um acordo de colaboração premiada. Segundo ele, esse recurso não faz sentido no contexto atual, uma vez que a delação é um instrumento usado por pessoas que tenham cometido crimes e possuam informações adicionais para oferecer. “No caso do general Braga Netto, ele não tem como utilizar este meio de defesa porque não cometeu crime algum”, reiterou.
Braga Netto foi preso preventivamente no último 14 de dezembro, sob a acusação de obstrução de Justiça no inquérito que investiga a existência de uma trama golpista. A operação foi deflagrada com base em elementos apresentados por Cid em sua delação premiada e reforçada por trocas de mensagens no WhatsApp.
Em um dos diálogos, Braga Netto teria prometido cargos caso o grupo envolvido tivesse êxito em permanecer no poder. Além disso, outras mensagens indicam pressão sobre comandos das Forças Armadas para que aderissem ao plano.
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