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Jornalismo e cultura brasileira perdem Mario Pontes

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Mario Pontes morreu no Rio de Janeiro, depois de dois anos de luta contra um câncer de pâncreas. Era jornalista, escritor, pintor e tradutor

Jornalista Mario Pontes morre no Rio de Janeiro -  (crédito: Arquivo pessoal)

Jornalista Mario Pontes morre no Rio de Janeiro – (crédito: Arquivo pessoal)

O Brasil ficou sem um dos mais influentes e capacitados jornalistas na noite de quarta-feira (27/9), que atuou nas décadas de 1970 a 1990. Mario Pontes faleceu no Rio de Janeiro depois de dois anos de luta contra um câncer de pâncreas. Pontes era jornalista, escritor, pintor e tradutor. Chegou ao Rio de Janeiro ainda na década de 1950, quando o jornalismo nacional começava a florescer com o Jornal do BrasilO GloboFolha de S.PauloEstado de Minas e Correio Braziliense, mais adiante, com a inauguração de Brasília.

Natural do Ceará, da pequena cidade sertaneja de Nova Russas, Mario, filho de seu Mestre Mundico, (Raimundo Evangelista Pontes) começou a se interessar cedo pelas letras pretinhas, que via impressas nos jornais que o pai sempre levava para casa. Mestre Mundico também era um talentoso luthier, que insistia em comprar um pequeno jornal que circulava em Nova Russas de vez em quando e levar aos filhos. À época, só havia ensino público até a 4ª série e foi justamente nela que Mario se formou, e saiu para o mundo, começando pela capital, Fortaleza.

Na cidade mais importante do Ceará, o jovem foi linotipista, o profissional que fazia a impressão manual dos jornais com pequenos tipos de chumbo em forma de letras. Logo depois virou jornalista.

Passou a atuar nas redações dos veículos impressos da capital, entre eles o Diário do Povo e Correio do Ceará, jornal do Diários Associados na capital. A partir daí, não saiu mais da área das letras. Tornou-se um autodidata, lia até bula de remédio várias vezes e dizia que era para “entender um pouco das ciências”.
Ainda na década de 1950 arribou, como as aves do sertão, para o Rio de Janeiro, onde viveu toda sua vida até os 91 anos.

No início, sofreu tudo que um nordestino enfrenta ao chegar à “cidade grande”, mas com muito esforço ingressou no poderoso, e hoje extinto, Jornal do Brasil. Lá foi editor-chefe de um caderno especial, onde atuou por mais de 20 anos. Antes, porém, destacou-se editando a Revista da Petrobras, que também tinha uma grande circulação e lastreava o comportamento político econômico do Brasil à época.

“Meu irmão foi seguramente um dos intelectuais mais influentes naquele período. Ele lia tudo que lhe caía às mãos e tentava passar para as novas gerações a importância da cultura, da língua portuguesa e da perspicácia de um jornalista. Não é a toa que me tornei jornalista, juntamente com Omésio Pontes, meu irmão”, destaca Orlando Pontes, jornalista e dono do jornal Bsb-Capital, um semanário que há 13 anos entrega informações de cidades, cultura, política e comportamento ao Distrito Federal, a partir de Taguatinga.

E foi exatamente conversando sobre o jornal que Orlando pode dizer ao irmão mais velho que havia se inspirado nele para seguir a carreira de jornalista. “Ele me disse que tinha orgulho de ter um irmão que mantinha um jornal semanal na capital do Brasil. Me emociono até hoje quando lembro de nossas conversas”, afirma.

Escritor

Os sertões e suas peculiaridades foram o foco dos seus primeiros livros, muitos ambientados em sua cidade natal, a exemplo do majestoso romance Ninguém Ama os Náufragos, tendo como tema a passagem da famosa Coluna Prestes por Nova Russas, que os sertanejos chamavam de “revoltosos”.

A partir do seu primeiro livro Milagre na Salina, um conjunto de contos, seguiram-se vários outros, que totalizam cerca de 15, entre eles: Doce como diabo, volume de estudos sobre a poesia popular do Nordeste; Andante com morte, composto de quatro ficções mais ou menos curtas: A morte infinitaSentinelas da noite e A engrenagem universal e A nova rota da sedaUm homem chamado Noel e, por último, Balada para urbano, escreveu o advogado e geólogo João Batista Pontes, em uma pequena homenagem ao primo, que considera o maior intelectual novarussense e até mesmo de todo o Ceará.

Além dessa produção literária, Mario Pontes traduziu pelo menos 30 livros e escreveu milhares de artigos sobre diversos temas, notadamente filosofia, sociologia e literatura. Suas traduções para o português englobam livros em espanhol, francês, inglês e alemão, mesmo nunca tendo frequentado qualquer curso de uma destas línguas.

Mario Pontes pediu para ser cremado e foi atendido pela família na tarde desta sexta-feira (29/9) no Memorial do Carmo, no Rio de Janeiro.

Com informações do Correio Braziliense

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