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Volta às aulas 100% presenciais divide pais, professores e escolas do DF; retorno na rede pública está previsto para 14 de fevereiro

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Apesar da explosão de casos de coronavírus nas últimas semanas, a volta às aulas deve ser 100% presencial e sem a cobrança do cartão de vacina no DF. Essa decisão divide pais, professores e donos de escolas da capital federal.

Brasília tem 570 escolas privadas, onde estudam 170 mil alunos. Na rede pública, são 686 escolas onde estão matriculados 470 mil estudantes. Veja abaixo o que dizem os profissionais e famílias sobre a volta às aulas.

O Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares (Sinproep) quer que o comprovante de imunização seja cobrado dos funcionários e professores das escolas. A entidade de classe defende, ainda, a obrigatoriedade da testagem em massa, incluindo estudantes de todas as faixas etárias que tenham indicação de vacinação contra a Covid-19 e Influenza.

Segundo o diretor jurídico do Sinproep, na semana passada o sindicato se reuniu com os representantes dos donos de escolas e com o Ministério Público do Trabalho (MPT) para estabelecer regras para a volta às aulas. Rodrigo de Paula disse que o MPT enviou um ofício para o GDF pedindo que o governo explique quais diretrizes devem ser seguidas pelas escolas.

“A criança que testar positivo para Covid, como faz? Vai pra casa e fica levando falta? Toda turma terá que ficar isolada? Tudo isso precisa estar claro”, diz o diretor jurídico do Sinproep.

A orientação do GDF era manter os protocolos de segurança, como uso máscaras, higienização das mãos e evitar aglomerações. A aferição de temperatura não é mais obrigatória.

“Tem escolas que nem estão se preocupando mais com o distanciamento e o uso do álcool em gel”, diz Rodrigo de Paula. Outro alerta do sindicato é em relação a vacina: “Incrivelmente, tem professores que não querem se vacinar”, conta Rodrigo.

“Na nossa visão, esse tipo de pessoa negacionista coloca todo mundo em risco e, por isso, nos posicionamos para que as escolas cobrem a apresentação do comprovante de vacinação. A taxa de contaminação está absurda. A pandemia é uma questão coletiva e não individual, então, ou todo mundo se conscientiza e se vacina ou isso não vai ter fim”, diz o representante do sindicato.

Na visão do Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe), o retorno às aulas 100% presencial é importante para a educação dos estudantes, para a saúde mental e para tentar corrigir a evasão escolar dos últimos dois anos. Segundo a presidente do Sinepe, Ana Elisa Dumont, as escolas já têm um protocolo a ser seguido de acordo com o decreto vigente no DF e a nota técnica da Vigilância Epidemiológica, publicada em 4 de janeiro, pelo Ministério da Saúde.

“Ao nosso ver, a escola é um ambiente seguro e controlado. Verificando os boletins de acompanhamento de Covid do DF, no momento de aula, a escola não foi um local de propagação do vírus como se imaginava anteriormente”, diz a presidente do Sinepe.

Para Ana Elisa, os últimos dois anos foram de ansiedade e prejuízos cognitivos e psicológicos para crianças e adolescentes. “Nós defendemos as aulas presenciais tendo em vista os estudos feitos pela Unicef e pela FGV sobre as perdas na aprendizagem, muitas vezes irreversíveis, principalmente entre as crianças da educação infantil”, aponta.

Além dos danos na aprendizagem, a presidente do Sinepe cita problemas de saúde mental entre os estudantes. “Não basta a gente cuidar da saúde apenas da parte biológica do corpo e não cuidar da parte social e emocional desses estudantes. A Sociedade de Pediatria de Brasília trouxe dados, inclusive, do aumento de casos de suicídio, de automutilação em crianças e em adolescentes com essa questão de isolamento com a pandemia e com falta da escola”, diz ela.

“A escola não tem uma função apenas na aprendizagem cognitiva. Ela é responsável pela aprendizagem e desenvolvimento integral desse estudante também na parte motora, social e psicológica”, aponta a representante das escolas.

O Sindicato das Escolas Particulares do DF é contra a testagem em massa de funcionários e estudantes sem uma legislação ou determinação das autoridades para que isso ocorra. “A nota técnica da Vigilância Epidemiológica traz que não há necessidade e nem deve ser feita testagem em massa de assintomáticos. O teste deve ser feito para quem tem sintomas”, diz a presidente.

Ana Elisa Dumont também questiona a ausência de uma legislação que dê segurança às escolas que queiram pedir o cartão de vacina dos funcionários. “E se o funcionário não tem o comprovante de vacina, o que eu faço? É demissão por justa causa? Não existe razão para eu exigir um documento se nenhuma medida legal vai ser tomada”, analisa.

Com o aumento dos casos de Covid, a servidora pública Cleia Machado está com medo de mandar o filho, Pedro Francisco, de 12 anos, para a escola nesta segunda-feira (31). Nos últimos dois anos o menino teve apenas aulas online.

“Ele perdeu muito em termos de rendimento e convívio social e está animado para voltar, mas estou me sentindo insegura por causa desse pico de Covid e com os hospitais lotados”, diz Cleia.

O receio também se deve ao fato de Cleia ter hipertensão arterial e aterosclerose, uma inflamação, com a formação de placas de gordura na parede das artérias do coração. Outra preocupação é “trazer o vírus para casa” e contaminar a avó de Pedro, que tem 75 anos.

“Estou preocupada. Talvez se adiassem o retorno em duas ou três semanas, não ia interferir tanto no calendário escolar dos alunos”, opina a mãe.

Já engenheiro Marcelo Trindade de Sousa, pai da Juliana Kornelius de Sousa, de 10 anos, diz que está seguro e que apoia o retorno 100% presencial. Segundo ele, a menina, que estuda em uma escola privada, sabe a importância de cumprir os protocolos de segurança contra a Covid-19.

“A gente não pode esquecer a questão da saúde mental, a socialização e o aprendizado. Ela quer rever os colegas e estamos na expectativa do retorno às aulas, mas se tiver alguma intercorrência por causa da ômicron, estamos preparados pra voltar pra casa”, diz o pai.

Para Marcelo, a vacinação trouxe mais segurança. Ele defende o cumprimento das normas sanitárias e a confiança na ciência.

“Em casa estamos todos vacinados. A Juliana já tomou a primeira dose e o meu reforço deve ser no início do próximo mês. Acredito que o retorno presencial seguro depende de cada ambiente escolar, das autoridades e do envolvimento dos pais e de toda comunidade”, defende.

O Distrito Federal tem 685 escolas públicas e, para o Sindicato dos Professores (Sinpro-DF), “não há condições de um retorno 100% presencial em 14 de fevereiro”. Segundo o diretor do Sinpro, Samuel Fernandes, os espaços não são seguros.

“A pandemia não está controlada, ao contrário, está aumentando a cada dia […] com salas lotadas e sem ventilação adequada [nas escolas] a gente tem que preservar vidas. Ou o governo muda a forma do retorno, sem ser 100% presencial, ou pensa no adiamento do ano letivo. É uma das possibilidades”, diz Fernandes.

Para a Associação de Pais e Alunos do DF (Aspa), o retorno presencial é importante, mas o GDF deve dar a possibilidade de os estudantes terem aulas remotas, “principalmente aqueles com comorbidades”.

“É muito importante que a Secretaria de Educação lance um comunicado para que as famílias possam, junto com a escola, adotar, ou não, uma modalidade de ensino domiciliar”, sugere Alexandre Veloso, presidente da Aspa.

A Secretaria de Educação informou que “os protocolos sanitários e de biossegurança para o ano letivo de 2022 estão em processo final de revisão, sobretudo, para adequá-los às novas orientações da Secretaria de Saúde”. Na sexta-feira (28), o Conselho Nacional de Educação lançou um comunicado informando que o ensino presencial é regra, mas diante de uma situação excepcional as escolas podem pensar em adotar o ensino remoto.

“Mas isso não é suficiente para acalmar os setores. Precisamos de uma determinação mais robusta porque tanto pais quanto escolas não estão seguros do que pode ser feito nesse retorno das aulas em 2022”, diz o representante dos pais.

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Jornalista

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