Jornalistas continuam a ser agredidos, ameaçados e xingados
Relatório lista 111 ataques a membros da imprensa em 2023. Apesar da redução em relação a 2022, números preocupam. Período de Jair Bolsonaro é considerado um dos piores para os profissionais do setor
Somente em 2023, foram registrados 111 casos de violência não letal contra 163 jornalistas e veículos de comunicação. A constatação é do relatório Violação à Liberdade de Expressão, elaborado pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert) e divulgado ontem. Na comparação com 2022, houve uma redução de 19% dos casos e de 23,11% na quantidade de vítimas.
Desde que a Abert passou a relacionar os casos de violência contra jornalistas, em 2012, foram contabilizados 26 assassinatos, a maioria por disparo de arma de fogo. Em 2019 e 2021 não se apurou nenhum registro de morte no exercício da atividade profissional.
Mesmo assim, foi estimado que, a cada três dias, a imprensa sofreu algum ataque em 2023. Agressões físicas lideram o ranking de violações, com ao menos 45 casos — 40% do total levantado. De 2022 para 2023, atentados cresceram em 50% e os casos de injúria tiveram um salto de 200%.
O diagnóstico destacou a cobertura da tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023 — quando bolsonaristas depredaram as sedes dos Três Poderes — como um episódio que desencadeou ataques aos profissionais de imprensa. “A truculência dos manifestantes — com ameaças, intimidações e agressões contra os profissionais de comunicação — se estendeu nos dias seguintes, durante a cobertura jornalística da desmobilização de acampamentos nas várias cidade do país e dos desdobramentos do vandalismo que tentou, numa ação fracassada, abolir o sistema democrático brasileiro”, observou o presidente da Abert, Flávio Lara Resende.
Entre as violências não letais que, segundo o relatório, tiveram queda estão a de intimidação (-56%), ofensas (-68%), ataques e vandalismos (-40%) e crimes de importunação sexual (-25%).
Ambiente virtual
O relatório verifica a diminuição nos ataques virtuais à imprensa, mas, ainda assim, o cenário é preocupante. De acordo com pesquisa da empresa de análise de dados BITES, houve uma diminuição nas agressões diárias pelas redes sociais. Em 2022, foi apurado um volume de mais de 1,2 milhões de conteúdos e, em 2023, a marca é de pouco mais de 1 milhão.
“Expressões usuais de anos anteriores, como ‘mídia golpista’ ou ‘canalha’, ficaram para trás, dando lugar para hegemonia da palavra-chave ‘grande mídia’. Esse termo foi o mais utilizado para atacar reportagens e conteúdos produzidos pelos profissionais de imprensa. No Facebook, por exemplo, os três posts de maior repercussão em 2023 trazem essa expressão em seu conteúdo, um deles publicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro“, diz um trecho do relatório.
Porém, em 2023, foram 2,9 mil ataques virtuais por dia — o que equivale a dois por minuto. A Abert indica, ainda, que o Brasil ocupa a 92° posição num ranking de 180 países dos Repórteres Sem Fronteiras que avalia liberdade de imprensa.
Para Lara Resende, a regulamentação das redes sociais seriam um passo importante para que o cenário possa começar a mudar para os jornalistas brasileiros. “O poder de corrosão da democracia, com efeitos tóxicos da desinformação e discursos de ódio espalhados nas redes sociais, deve ser combatido com a regulamentação e responsabilização das plataformas digitais”, observa o presidente da Abert.
Com informações do Correio Braziliense
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