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O Brasil não precisa de um presidente pária, diz Enio Verri

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Por Enio Verri – líder do PT na Câmara dos Deputados

O chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, deu uma declaração quase inocente, não fosse o cargo que ocupa, pela qual admite a condição do desgoverno Bolsonaro e revela a mentalidade colonialista da classe dominante que dá sustentação ao governo. Ao tentar contradizer opiniões acerca da atual subterrânea política externa brasileira, disse que, se as ações do Brasil no cenário internacional fazem deste País um pária, que ele assim o seja. A sabujice de Araújo se equipara à de um certo chanceler dos governos Fernando Henrique Cardoso, que tirava os sapatos para entrar nos EUA. Cronologicamente, 17 anos separam FHC de Bolsonaro. Porém, ideologicamente, são irmãos siameses, dóceis subservientes ao Norte.

Segundo Araújo, as críticas ao governo se dão em razão da liberdade que o Brasil adquiriu a partir da posse de Bolsonaro. A liberdade de romper com uma exitosa política externa multilateral, construída ao longo dos governos do Partido dos Trabalhadores, tendo à frente o ex-ministro Celso Amorim, que defendeu os interesses do Brasil, sem falar grosso com a Bolívia e nem falar fino com os EUA. A liberdade de submeter o Brasil às vontades do presidente Americano, Donald Trump. Araújo e Bolsonaro transferem o seus complexos de vira-latas para os brasileiros, impondo a subalternidade como uma condição aceitável e, até mesmo, louvável. O sentimento de patriotismo que pretendem inocular na população é o prazer de bater continência para a bandeira dos EUA. É um governo que projeta com clareza a frustração da classe dominante brasileira e de parte da classe média, de não terem nascido estadunidenses.

Durante os governos do PT, o Brasil ganhou projeção internacional, não como pária. Pelo contrário, como nação altiva e soberana. E esses foram um dos motivos do golpe, de 2016. Lula e Dilma optaram pela integração da América Latina, por relações mais próximas com a África, Oriente Médio, China, Rússia, União Europeia. Os presidentes do PT rechaçaram a Alca, um tratado imposto pelos estadunidenses cujas condicionalidades ampliariam a dependência do Brasil à economia dos EUA. Os governos do PT foram no caminho inverso, propondo o fortalecimento do Mercosul no sentido de fortalecer o bloco latino americano. Lula e Dilma investiram na proteção do pré-sal e na competência da Petrobras para explorá-lo.

Os brasileiros não podem aceitar passivamente que um governo os exponha a uma condição de povo marginal, de segunda classe. Uma gente com baixa autoestima não construiria acelerador de partículas, 18 universidades, 173 campi universitários, canal de transposição de água para mais de 12 milhões de brasileiros, quase quatro milhões de habitações, portos. Nem desenvolveria tecnologia própria de enriquecimento de urânio e, muito menos, construiria submarino nuclear para proteger suas fontes de energia. Porém, enquanto a conscientização das competência e capacidade não forem restabelecidas por quem produz a riqueza deste País, a classe trabalhadora, Bolsonaro e Ernesto Araújo a farão pensar que ela é como eles, dois capachos que andam e falam.

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Jornalista

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